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Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Som Livre

Em 1969, Roberto Marinho criou a Som Livre. Para conduzir a nova gravadora convidou João Araújo, produtor musical com experiência no mercado fonográfico e que se tornou o diretor da empresa, Nelson Motta, jornalista e produtor musical, e Guto Graça Mello, diretor musical da TV Globo. Inicialmente, a Som Livre funcionava em uma sala na Globo, no Rio de Janeiro. Para produzir as suas primeiras trilhas sonoras de novelas, a gravadora firmou acordo com a Philips para fornecer canções para montagem das trilhas.

Roberto Marinho com o casal João Araújo e Lucinha Araújo, Rio de Janeiro, 03/12/1990 — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

As primeiras trilhas sonoras

Os personagens das primeiras novelas da TV Globo não tinham temas musicais fixos. O sonoplasta escolhia as canções conforme o desenrolar da trama. A primeira novela da TV Globo a ter trilha sonora criada especialmente para ela foi Véu de Noiva, em 1969. O LP alcançou a marca de 70 mil cópias vendidas. Como a venda dos discos estava em alta, o contrato com a Philips não foi renovado. A partir de 1971, a Som Livre começou a produzir as próprias trilhas sonoras.

A primeira trilha sonora produzida exclusivamente pela Som Livre foi da novela O Cafona, de 1971. A gravadora encontrou dificuldades para produzi-la. Como as concorrentes não cederam seus músicos e a Som Livre ainda não havia montado um cast de artistas, a saída foi buscar talentos ainda não revelados para gravar as composições. A novela foi sucesso e a venda do LP superou as expectativas. A Som Livre decidiu lançar O Cafona Internacional, primeira trilha de uma novela da TV Globo com músicas estrangeiras.

Trilha sonora original da novela O Cafona, 1971. — Foto: Arquivo/Som Livre

Aposta em novos talentos

Nos anos 1970, com o aumento da produção de novelas da TV Globo, a Som Livre se viu diante da escassez de artistas para gravar as trilhas sonoras. A gravadora tinha as músicas compostas, mas não dispunha de intérpretes contratados, pois a maioria tinha contrato com outras gravadoras. A saída encontrada pela Som Livre foi montar seu próprio cast de artistas. Uma das apostas foi o grupo Novos Baianos. Em 1972, foi lançado o LP Acabou Chorare, considerado um dos melhores discos brasileiros de todos os tempos.

Acabou Chorare - Novos Baianos, 1972 — Foto: Arquivo/Som Livre

Lançamento de sucessos

Em 1975 estreou a novela Gabriela, adaptação da obra de Jorge Amado para comemorar os dez anos da Rede Globo. A trilha sonora foi produzida pelo então diretor musical, Guto Graça Mello, e contou com 12 canções inéditas. Dorival Caymmi compôs o clássico tema da abertura, Modinha Para Gabriela, interpretada por Gal Costa. A trilha é considerada uma das melhores da teledramaturgia brasileira. A novela Gabriela foi eleita pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) como a melhor produção do ano de 1975.

Trilha sonora original da novela Gabriela, 1975 — Foto: Arquivo/Som Livre

A novela Pecado Capital, de 1975, entrou na grade da Rede Globo para substituir Roque Santeiro, censurada pela ditadura militar. A trilha sonora inovou ao escolher um samba como tema de abertura. O diretor artístico Daniel Filho e o diretor musical Guto Graça Mello encomendaram músicas a três compositores. A escolhida foi Pecado Capital, composta por Paulinho da Viola em 24 horas. O samba se tornou um clássico da música brasileira e alavancou as vendas da trilha nacional, que ultrapassou a internacional.

Trilha sonora original da novela Pecado Capital, 1975 — Foto: Arquivo/Som Livre

A última novela da Rede Globo gravada em preto e branco foi Estúpido Cupido, em 1976. A trama era ambientada no início da década de 1960, época marcada por mudanças no comportamento dos jovens: maior liberdade feminina, uso do jeans, desfiles de lambretas pelas ruas e a presença do rock e do twist nas pistas de dança. O LP da trilha sonora nacional trouxe músicas representativas desse movimento cultural como Banho de Lua, interpretada por Celly Campello, e alcançou a marca de 1 milhão de cópias vendidas.

Trilha sonora original da novela Estúpido Cupido, 1976 — Foto: Arquivo/Som Livre

Na onda das discotecas que faziam sucesso na época, a trilha sonora da novela Dancin’ Days, que foi ao ar em 1978, tornou-se um marco. O tema da abertura, composto pelo produtor musical Nelson Motta e pelo músico Ruban Barra, foi interpretado pelo grupo musical As Frenéticas com arranjos gravados em Los Angeles por músicos americanos. A música se tornou sucesso radiofônico e foi parar nas pistas de dança de todo o país. A trilha sonora internacional de Dancin’ Days vendeu quase um milhão de cópias.

Trilha sonora original da novela Dancin’ Days, 1978 — Foto: Arquivo/Som Livre

Parcerias internacionais

Em 1975, a Som Livre já era líder no mercado brasileiro. Com o sucesso das trilhas sonoras no Brasil, a gravadora decidiu entrar no mercado internacional. Em 1976, a Som Livre firmou parceria com a gravadora norte-americana RCA Records para distribuição de músicas brasileiras no exterior. O contrato incluía também estágios anuais de técnicos e produtores brasileiros na matriz da RCA, em Nova York, e a produção de discos de artistas brasileiros com gravações em inglês.

Na década de 1980, dois acordos internacionais foram firmados como estratégia de expansão e consolidação dos negócios da Som Livre nos Estados Unidos e na Europa. Em 1983, foi lançada a Siglaquattro, em parceria com a TV Retequattro, canal de televisão italiano, para difundir talentos brasileiros para aquele país. A TV Retequattro promovia o negócio e a Rede Globo era responsável pela comercialização dos produtos. Em 1985, a gravadora norte-americana CBS passou a fabricar discos da Som Livre e distribuí-los no exterior.

Ainda com o objetivo de conquistar novos mercados, a Som Livre decidiu abrir um escritório em Nova York, em 1987. A filial, batizada de Globo Group, pretendia lançar e distribuir discos nacionais, além de produzir trilhas musicais em espanhol para a rede Telemundo que, em troca, veiculava comerciais de divulgação da Som Livre. No mesmo ano foi aberto um escritório da gravadora em Paris para lançar na Europa talentos como Gal Costa e Jorge Ben Jor.

Fenômenos de vendas dos anos 1980

Em 1982, a Som Livre lançou o disco duplo Trem Azul, registro do último show de Elis Regina realizado em outubro de 1981, em São Paulo. O LP trazia sucessos como Alô, Alô Marciano e Começar de novo. O espetáculo foi gravado em fita cassete mono e o áudio original precisou ser tratado para som estéreo. O álbum duplo conquistou o Disco de Ouro, com a venda de mais de 120.000 cópias, e o prêmio especial concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Arte pelo tratamento dado à gravação original.

Para lançar uma série de discos de clássicos da música brasileira, a Som Livre decidiu criar o selo Documento. O primeiro LP lançado foi O Grande Circo Místico, em 1983. A trilha sonora fazia parte do espetáculo musical apresentado pelo grupo do Balé Teatro Guaíra, de Curitiba, com músicas compostas por Chico Buarque e Edu Lobo. Alguns discos lançados pelo Documento foram sucesso de vendas, como Mestre Cartola – 80 anos, Pixinguinha Para Crianças, Música Sertaneja e Luz NegraO Canto Negro das Américas.

Som Livre nos anos 1980

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Nos anos de 1980, a Som Livre conquistou o mercado e bateu recorde de vendas de LPs

O Tempo e o Vento, minissérie baseada na obra de Erico Verissimo, foi ao ar na Rede Globo em 1985. A música O Tempo e o Vento (Passarim) foi o tema de abertura e contou com as participações de Tom Jobim no piano e no vocal, Danilo Caymmi na flauta e Paulinho Jobim no violão e na guitarra. A trilha sonora, composta por Tom Jobim com arranjos de Dori Caymmi e Jacques Morelenbaum, é considerada um clássico da música popular brasileira.

A novela Roque Santeiro foi ao ar na Rede Globo, em 1985, e já nas primeiras semanas de exibição atingiu recordes de audiência. A trilha sonora vendeu 1,3 milhões de discos e levou a Som Livre a lançar um segundo disco com a trilha nacional. Foi a primeira vez que a trilha internacional de uma novela deixou de ser produzida.

A apresentadora Xuxa se tornou o fenômeno fonográfico da Som Livre. O seu primeiro disco na gravadora, Xou da Xuxa, lançado em 1986, vendeu 2 milhões de cópias. O disco Xou da Xuxa 3, de 1988, bateu a marca de 3.216.704 milhões de cópias vendidas. O álbum entrou para a história da Som Livre como o mais vendido da trajetória da gravadora.

Roberto Marinho e Xuxa na gravação do programa Xuxa Park, Rio de Janeiro, 18/08/1994 — Foto: Xicão Jones Dias/TV Globo

Em 1989 estreou na Rede Globo a novela Tieta, livre adaptação da obra Tieta do Agreste, de Jorge Amado. A trama repetiu o feito de Roque Santeiro, de 1985. A trilha nacional foi gravada em dois volumes e alcançou a marca de um milhão e meio de cópias vendidas. Pela segunda vez na história da Som Livre, a trilha internacional de uma novela deixou de ser produzida.

Os primeiros CDs

Em sintonia com as transformações nas mídias físicas de gravação de áudio, a Som Livre fez a sua entrada no mercado de compact disc em 1988. Os primeiros CDs lançados pela gravadora foram relançamentos de LPs de artistas do seu catálogo, como a coletânea Cartola - Bate outra vez e o álbum Dança da meia lua, de Edu Lobo e Chico Buarque. A primeira novela da Rede Globo a ter trilha sonora gravada em CD foi O Salvador da Pátria, em 1989. O CD com a trilha internacional vendeu quase um milhão e meio de cópias.

Trilha sonora internacional da novela O Salvador da Pátria, 1989 — Foto: Arquivo/Som Livre

Sucessos dos anos 1990

Em 1996, a novela O Rei do Gado conquistou altos índices de audiência no horário das 20h. A dupla sertaneja da trama, Pirilampo (Almir Satter) e Saracura (Sérgio Reis), fez tanto sucesso que o autor Benedito Ruy Barbosa teve que escrever cenas adicionais. Em menos de um mês, o CD da trilha sonora nacional vendeu mais de 1 milhão de cópias. A Som Livre decidiu então lançar um segundo volume. Os dois CDs garantiram a maior vendagem de cópias de trilhas sonoras lançadas pela gravadora até então – 2,2 milhões.

Volume 1 da trilha sonora original da novela O Rei do Gado, 1996. — Foto: Arquivo/Som Livre

Algumas minisséries da Rede Globo renderam trilhas sonoras inesquecíveis. Hilda Furacão, de 1998, fez sucesso com músicas como Resposta ao Tempo, na voz de Nana Caymmi, e Nossos Momentos, cantada por Elizeth Cardoso. Em 1999, na minissérie Chiquinha Gonzaga, foi lançado um CD com regravações da compositora por renomados cantores como Ângela Maria e Milton Nascimento. Já em 2001, Os Maias ganhou trilha sonora com composições originais do maestro John Neschling, que regeu uma orquestra de 90 integrantes.

Para comemorar 30 anos da primeira trilha sonora lançada pela Som Livre, em 2001 foi lançada a coleção Campeões de Audiência com a reedição de vinte trilhas de novelas de sucesso, como O Cafona (1971), Dancin´Days (1978), Roque Santeiro (1985) e Vale Tudo (1988). Na mesma época, a gravadora lançou também CDs que ficaram entre os mais vendidos: os áudios dos shows gravados pelo canal Multishow e a série Perfil, coletâneas com músicas de renomados artistas, como Chico Buarque, Rita Lee e Paulinho da Viola.

Rita Lee – Perfil, 2001 — Foto: Arquivo/Som Livre

No mesmo ano da morte de Roberto Marinho, em 2003, foi ao ar no horário das 21h a novela Mulheres Apaixonadas, de Manoel Carlos. A Som Livre inovou ao lançar o primeiro CD duplo com a trilha sonora de uma trama, um com músicas nacionais e outro com as internacionais. Assim como a novela, o CD duplo foi um sucesso, com a marca de um milhão de cópias vendidas. Depois disso, foi lançado o volume 2 da trilha.

Os anos 2000 foram marcados por um novo cenário de distribuição digital de conteúdo musical. Seguindo os passos de seu fundador e apostando em seu elenco, a Som Livre sempre buscou diferentes formas de comercializar música gravada e possibilidades de negócios. Em abril de 2021, o Grupo Globo anunciou a venda da Som Livre para a Sony Music Entertainment (SME). A transação foi efetivada em 2022 e a gravadora, fundada por Roberto Marinho em 1969, deixou de fazer parte do grupo de empresas do Grupo Globo.

Globosat

A TV por assinatura surgiu nos Estados Unidos nos anos de 1940, com a intenção de levar sinal de TV para comunidades distantes. No final dos anos 1980, houve um crescimento desse mercado e o Grupo Globo identificou um grande potencial no negócio. Roberto Irineu Marinho sugeriu ao governo brasileiro a formação de um sistema de televisão educativa por assinatura que chegasse aos locais mais remotos do país via satélite. A proposta não vingou, mas o Grupo decidiu investir na TV fechada e criou a Globosat.

Logomarca Globosat

Joe Wallach, superintendente da Rede Globo entre 1965 e 1980, e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, na época vice-presidente de operações da Rede Globo, conseguiram uma licença do Governo federal para atuar na área. Em sociedade com o Grupo Globo, criaram a Globosat.

Inaugurada em novembro de 1991, a Globosat tinha um projeto pioneiro e ambicioso: produzir conteúdo de TV por assinatura e distribuí-lo por todo o Brasil via satélite. A concorrente TVA, do Grupo Abril – criada no mesmo ano –, operava com outra tecnologia. Roberto Marinho apoiou com entusiasmo o projeto liderado por seu filho Roberto Irineu, na época vice-presidente da Rede Globo, com Joe Wallach e Boni.

Roberto Marinho, ao centro; com Boni, diretor de programação da TV Globo; Roberto Irineu e Joe Wallach, superintendente executivo da Rede Globo. Rio de janeiro, 01/01/1970 — Foto: Acervo/ TV Globo

A realização de um projeto de grandes proporções, como a Globosat, exigia o reforço de profissionais experientes. Joe Wallach assumiu a direção-geral da empresa e convidou o jornalista Luiz Gleiser para a direção-geral de programação, ainda em 1991. No ano seguinte, com a saída de Boni e Wallach, Antonio Athayde, que havia sido superintendente comercial na Rede Globo, tornou-se o diretor-geral.

Implantação da Globosat

O início da Globosat envolveu grandes percalços: um deles foi a colocação de grandes antenas (Banda C) no alto dos edifícios para que o sinal pudesse ser captado. A instalação necessitava do consentimento da maioria dos condôminos e um elevado custo. Os quatro primeiros canais criados - GNT, Multishow, Top Sport e Telecine - foram lançados com poucos assinantes.

Ao formular os canais Globosat, Roberto Marinho e os profissionais que criaram a empresa apostaram num conteúdo voltado para públicos específicos, com programas sobre história, dança, cinema, música clássica, culinária e esportes das mais diversas modalidades. Com Luiz Gleiser na direção de programação, os quatro canais lançados - GNT, Multishow, Top Sport e Telecine, proporcionavam uma nova experiência ao assinante.

Joe Wallach (à esquerda), Luiz Gleiser e “Zé Bodega” — Foto: Arquivo Pessoal de Luiz Gleiser

Os canais Globosat

O Top Sport era um canal de esportes que privilegiava as modalidades mais populares no Brasil, como o futebol. Aos poucos, começou a veicular programas sobre outros esportes como surf, motocross e hipismo. Também eram transmitidos campeonatos de superbike e Fórmula 3. Em 1994, o canal passou a se chamar SporTV.

O GNT (Globosat News Television) foi criado para ser um canal de jornalismo e variedades. A grade exibia documentários internacionais, programas de culinária, de moda, como o Modos, Modas e Manias, e coberturas jornalísticas, como o impeachment do presidente Collor. Foi no GNT que o programa Manhattan Connection foi lançado, em 1993. Era apresentado por Paulo Francis, Nelson Motta, Caio Blinder e Lucas Mendes, a partir de Nova York.

Os primeiros canais Globosat

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Em sua estreia, em 1991, a Globosat ofereceu aos seus assinantes quatro canais

Com o slogan "Dezoito horas diárias de diversão sem precisar sair de casa", o Multishow estreou em 1991 dirigido por José Bonifácio Coutinho Nogueira Filho, o Boninho. Em 1993, Boninho foi para a Rede Globo e Wilson Cunha o substituiu, permanecendo no comando do canal até 2009. A proposta do Multishow era exibir um conteúdo de variedades, com shows, séries, desenhos animados e comédias. Nos primeiros anos, o canal desejava alcançar todas as faixas etárias, mas, com o tempo, optou pelo público jovem.

A proposta de oferecer 24 horas de cinema por dia, com sucessos nacionais e internacionais, era um dos atrativos do Telecine, canal de filmes da Globosat. Inaugurado em 1991, sob a direção do crítico de cinema Paulo Perdigão, o canal exibia diariamente 10 filmes de diferentes gêneros, legendados ou dublados em português. Em 1995, a Globosat se associou a grandes estúdios de Hollywood, como o Paramount Pictures e a Universal Studios, para oferecer opções exclusivas aos seus assinantes.

Dedicação aos assinantes

Roberto Marinho declarou que “qualidade, produtividade e prestação de serviços” eram fatores fundamentais para a permanência de uma televisão. Com apenas um ano de existência, em 1992, a Globosat se orgulhava de ter mais 30 mil assinantes, diferente do momento de seu lançamento. Ao longo do processo de consolidação, foram feitas inúmeras pesquisas sobre o gosto do público e a programação foi alterada para se enquadrar às exigências e ao perfil do assinante brasileiro.

Ilha de edição na primeira sede da Globosat, na rua Itapiru, Rio de Janeiro — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

Criação NETSAT e NET

Em 1993, a Globosat passou a se dedicar exclusivamente à programação e à produção dos quatro canais. Para as operações via satélite em banda C foi criada a NETSAT. Esta empresa atraía assinantes que moravam longe dos centros urbanos, enquanto os habitantes das grandes cidades podiam optar pelo sistema a cabo. Esse sistema contribuiu para o aumento do número de clientes, já que não precisavam mais se preocupar com a instalação de grandes antenas no alto dos telhados ou coberturas. Além dos canais Globosat, os assinantes do sistema a cabo também passaram a receber a programação de mais de 20 canais.

A operação de cabo começou a ser feita pela NET, lançada primeiro no Rio de Janeiro e depois em São Paulo. Nos anos seguintes, chegou às principais cidades brasileiras. Em 1993, o Grupo Globo era o principal acionista da NET, já totalmente dedicada à comercialização e distribuição de conteúdos de TV por assinatura. Por um ano, os diretores da Globosat encarregaram-se das duas empresas simultaneamente. Nos anos seguintes, a empresa expandiu suas atividades com a ampliação da sua rede de cabos e aquisição de outras operadoras em cidades como Belo Horizonte, Anápolis e Piracicaba.

No final de 1994, a cisão entre Globosat e NET foi finalmente concluída. O diretor-geral Antonio Athayde e o diretor de tecnologia, Herbert Fiuza foram para o comando da NET e Alberto Pecegueiro assumiu a direção-geral da Globosat. Ele liderou o planejamento estratégico de multiplicar a oferta de canais, reformular os canais existentes e ampliar as assinaturas. Canais como USA Networks, Globonews, Canal Brasil e os canais adultos são frutos desta reformulação, assim como a ampliação da base de assinantes.

Atento às novas tecnologias, Roberto Marinho se associou, ainda em 1995, ao grupo de comunicação News Corporation, do empresário Rupert Murdoch para atuar no serviço de TV via satélite com alta qualidade de som e imagem, recepcionada por uma antena. Desta parceria surgiu no ano seguinte, o serviço SKY, que possibilitava a partir de uma pequena antena, a recepção de dezenas de canais digitais diretamente do satélite, com alta definição de som e imagem. Esta modalidade de transmissão era uma alternativa de consumo de TV por assinatura em regiões não contempladas pelos cabos da NET. Depois de 2012, a NET deixou estar sob o controle acionário do Grupo Globo.

Roberto Marinho, Rupert Murdoch, Merval Pereira e Luiz Garcia em visita a redação de O Globo. Rio de Janeiro, 15/09/1995 — Foto: Paula Johas/Agência O Globo

SporTV

Em outubro de 1993, Roberto Marinho e João Saad, presidente da Rede Bandeirantes de Televisão, assinaram um acordo para criação de um novo canal de esportes, o SporTV, que substituiria o Top Sport. O novo canal entrou no ar em janeiro de 1994 com a proposta de transmitir 24 horas diárias de esportes e cobrir os principais eventos esportivos, com ênfase nas modalidades nacionais. A parceria entre Rede Bandeirantes, a Rede Globo e a Globosat não durou por muito tempo, mas o canal se manteve.

João Saad, presidente da Rede Bandeirantes e Roberto Marinho na assinatura de acordo para criação do SporTV, Rio de Janeiro, 20/10/1983 — Foto: André Durão/Agência O Globo

GloboNews

Durante uma entrevista, Lily Marinho contou que sempre depois do Jornal Nacional, ela e Roberto Marinho mudavam para a GloboNews. O canal com jornalismo 24 horas por dia atraia não apenas a atenção de seu dono. Desde o seu lançamento, ganhou o gosto do público e até hoje é um dos mais vistos da TV fechada. Criado em 1996, a GloboNews foi desenhada por Alice Maria, diretora-geral do canal na época e por Evandro Carlos de Andrade, diretor de jornalismo da Rede Globo de 1995 a 2001.

Alice Maria, ex-diretora-geral da GloboNews e Evandro Carlos de Andrade, ex-diretor da Central Globo de Jornalismo da Rede Globo na inauguração do canal GloboNews. Rio de Janeiro, 1996 — Foto: Arquivo/Acervo Roberto Marinho

GNT

Com o lançamento da Globo News, em 1996, o GNT começou a apostar em conteúdos mais diversificados e voltados para temas do cotidiano. Algumas atrações foram reformuladas. O Modos, Modas e Manias, um dos primeiros programas da grade, se tornou GNT Fashion. Os programas internacionais ganharam dublagem em português e novos projetos surgiram, como o canal GNT Portugal, que foi lançado em 1998, em parceria com a emissora portuguesa SIC (Sociedade Independente de Comunicação).

Shoptime

Em novembro de 1995, o Shoptime foi lançado. O primeiro canal de compras da América Latina rapidamente despertou o interesse dos consumidores. Em seu primeiro mês no ar, faturou o primeiro milhão. A modalidade de tele-compras alcançou, com sucesso, a clientela ávida por experimentar novas formas de consumo. Pelo telefone, era possível comprar produtos de utilidade doméstica e cuidados pessoais. Um mês depois de seu lançamento, o canal já anunciava a sua entrada na, ainda pouco conhecida, internet.

Multishow

Com o foco nos jovens de 18 a 34 anos, o Multishow investiu na diversidade de seu conteúdo para atrair ainda mais esse público. Mantendo algumas de suas características originais, como a exibição de clipes, shows e comédias, o canal apostou em produções nacionais como Lady Night e Vai que Cola. Em 1994, criou o Prêmio Mutishow para os melhores artistas nacionais do ano e para premiar os humoristas lançou o Prêmio Multishow de Humor.

Globosat em Portugal

No final da década de 1990, dois canais Globosat passaram a integrar a programação da TV Cabo Portugal: o GNT e o Canal Brasil. Era a entrada do conteúdo da TV paga brasileira no exterior e foi fruto da parceria entre a Globosat e a TV Cabo Portugal, filiada à Portugal Telecom, empresa de telecomunicações portuguesa. Neste mesmo ano, a Globosat passou a oferecer ao público lusitano canais como o Telecine 1 e 2 e o Multishow, em associação com o grupo português SIC (Sociedade Independente de Comunicação).

Matéria sobre o canal GNT em Portugal publicada no jornal O Globo, 18/04/1999 — Foto: Agência O Globo

Canal Futura e outras estreias

Em uma palestra sobre a influência dos meios de comunicação, Roberto Marinho questionou: “até onde os meios de comunicação de massa participam da responsabilidade social, que lhe cabe, na formação do futuro e de seu destino?” O Canal Futura trouxe essa resposta para o jornalista. Inaugurado em 1997 e transmitido pela Globosat, foi o primeiro canal educativo totalmente privado no Brasil. É gerenciado pela Fundação Roberto Marinho e concilia mobilização social e produção de conteúdo pedagógico.

Depois de ter lançado o Canal Futura em 1997, colocou no ar no ano seguinte o Canal Brasil, em parceria com um grupo de cineastas independentes. O canal é o primeiro de filmes brasileiros, importante aliado na produção, exibição e desenvolvimento do cinema nacional.

Telecine

Em 1997, o canal Telecine, inaugurado nos primórdios da Globosat, se tornou uma rede de cinco canais que exibiam todos os gêneros do cinema. Inicialmente eles foram nomeados apenas como Telecine 1, 2, 3, 4 e 5. O primeiro canal exibia os grandes lançamentos e os outros se dividiam em ação, aventura, romance, comédias e clássicos. Em 2000, o Telecine 1 (TC1) se transformou em Telecine Premium, o TC2, se tornou Action; o TC3 virou Emotion; o TC4 ganhou o nome de Happy e o TC5 passou a se chamar Classic.

Nos anos 2000, os canais Telecine mudaram de nome mais uma vez: o Telecine Emotion, se transformou em Light e depois em Touch. O Telecine Happy virou Pipoca, com filmes em versões dubladas. O Telecine Classic virou Cult, com grandes clássicos do cinema nacional e estrangeiro. O Telecine Premium e o Action mantiveram o mesmo nome e mais um canal foi criado: o Telecine Fun, com comédias e animações dubladas.

Em sintonia com as novas tecnologias e oportunidades de negócios, a Globosat lançou nos anos 2010 novos canais com o intuito de conquistar um mercado segmentado. Em 2019, como parte do programa Uma Só Globo a empresa se incorporou à Globo. A plataforma Globosat Play passou a se chamar Canais Globo, mantendo o seu portfólio de canais pagos tais como o GNT, SportTV, Multishow, Gloob, Canal Brasil, Viva, GloboNews e outros. A integração da Globosat foi parte do processo de transformação das empresas do grupo numa só empresa mediatech.