Lançamento de O Globo
Em 1925, Irineu Marinho renunciou à presidência de A Noite, jornal que havia fundado em 1911. Doente e de partida para uma estação de cura na Europa, o jornalista vendeu suas ações para o sócio Geraldo Rocha com a garantia de recomprá-las na volta. A combinação não foi cumprida, e uma assembleia de acionistas alterou os estatutos da empresa e elegeu novos diretores para o jornal. Irineu Marinho foi confirmado como presidente, mas seus poderes foram retirados. Inconformado, decidiu se desligar da Noite e criar um novo vespertino. Nascia, assim, O Globo.
Pouco mais de quatro meses após a perda do jornal A Noite, Irineu Marinho arrumou o local, montou as oficinas e organizou a redação de seu novo vespertino. Mas ele não estava sozinho. Ficaram ao seu lado 33 profissionais da Noite, entre eles, velhos companheiros como Antônio Leal da Costa, Herbert Moses, Eurycles de Mattos, Horário Cartier, Bastos Tigre, Eloy Pontes, Henrique Gigante e Brício Filho. Irineu Marinho contou, ainda, com o apoio decisivo do seu filho primogênito. Aos 20 anos, Roberto Marinho já estava familiarizado com o trabalho nas oficinas e na redação.
Para a escolha do nome do novo jornal de Irineu Marinho, foi lançada uma campanha popular. Os três títulos mais votados foram Correio da Noite, O Globo e Última Hora. O Correio da Noite já pertencia a outra pessoa. Por isso, foi adotado O Globo, que havia ficado em segundo lugar, com 3.080 votos. O título havia sido sugerido a Irineu pelo jornalista Eloy Pontes, que na época se recordou de um antigo jornal carioca, fundado e dirigido por Quintino Bocaiuva nos tempos da propaganda republicana.
Os preparativos para o lançamento de O Globo foram divulgados em um boletim. As notícias também foram transmitidas pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro e pela Rádio Club, que promoveram um concerto de música popular em homenagem ao novo jornal. Outra ação foi a composição e impressão do foxtrote "O Globo", cuja partitura foi distribuída na cidade e no interior do estado.
A primeira sede
A primeira sede de O Globo ficava no prédio do Liceu de Artes e Ofícios, no Largo da Carioca. “Tudo era velho. Adaptar esse prédio para o seu novo destino exigiu um longo e penoso esforço”, relembraria Roberto Marinho anos depois. Mas esforço e determinação nunca faltaram a Irineu Marinho. Nem ao filho Roberto. Foi nessas instalações precárias que ele começou a exercitar o jornalismo. E ali trabalharia por 29 anos, até a mudança de O Globo para a Rua Irineu Marinho, em 1954.
Roberto Marinho se dedicou inteiramente ao jornal O Globo desde a sua fundação. Ajudou o pai a escolher os primeiros equipamentos para a montagem do vespertino, inclusive uma máquina de gravura que, abandonada num quintal em Vila Isabel, servia de poleiro para galinhas: “Não foi difícil a transação e, recuperada, a velha máquina começou a trabalhar para O Globo”, relembrou ele. Depois, foi adquirida uma rotativa Hoe, de fabricação norte-americana, que havia pertencido ao exército britânico.
O Globo mal começara a circular quando, no dia 21 de agosto, Irineu Marinho sofreu um infarto e faleceu, aos 49 anos. Após uma consulta familiar, a viúva D. Chica escolheu Eurycles de Mattos como diretor-redator-chefe do jornal e Roberto Marinho, ainda jovem e inexperiente, para o cargo de secretário-geral. O primogênito de Irineu passou, então, a acompanhar todo o dia a dia de O Globo. Do óleo, tinta e graxa das oficinas às discussões na redação. Aos poucos, foi descobrindo a verdadeira vocação: o jornalismo.
Ainda “foca”, Roberto Marinho se empenhou em conhecer mais de perto, da oficina à administração, os detalhes da complexa engrenagem do jornal. Chegava cedo e almoçava no próprio trabalho. “No dia seguinte ao enterro do meu pai, comecei a chegar ao Globo às quatro horas da manhã e a sair às sete da noite. Fiz isso durante mais de dez anos. Lembro-me que chegava em casa e me atirava na cama, onde muitas vezes jantei. Dormia até às três da madrugada seguinte. E recomeçava..."
Oito de maio de 1931, aos 27 anos, Roberto Marinho assumiu o cargo de diretor-redator-chefe de O Globo, três dias após a morte de Eurycles de Mattos. Décadas depois, comentava que o controle do jornal passou para ele no momento certo: “Só aceitei assumir a direção no dia em que a redação já não me considerava mais o dono. Eu era um profissional”. Ainda nos anos 1930, passou a contar com a colaboração de seus dois irmãos, Ricardo e Rogério Marinho.
Os primeiros anos de O Globo
Furo de reportagem
Jornalista ama furo de reportagem, aquela história que ninguém descobre antes, jornal nenhum publicou, e que repercute de forma estrondosa quando divulgada. Roberto Marinho não fugia à regra. Um dos mais conhecidos furos do Globo o envolveu diretamente. Em 1930, quando o presidente deposto Washington Luís deixava o Palácio Guanabara, Marinho espalhou galhos no caminho para que o carro parasse e o fotógrafo tirasse uma foto. A 1ª página de O Globo, com a imagem, entrou para a antologia do jornalismo brasileiro.
Jornal dos Sports
Mário Rodrigues Filho começou a trabalhar no Globo, ao lado de seu companheiro de sinuca Roberto Marinho, em 1931. No vespertino, ele revolucionaria o jornalismo esportivo, adotando uma linguagem direta e livre de rebuscamentos, e ajudaria a transformar o futebol em um esporte popular. Em 1936, com a ajuda de Roberto Marinho, comprou o Jornal dos Sports. E, no final da década de 1940, liderou a campanha para a construção do estádio do Maracanã, que mais tarde levaria seu nome, para a Copa do Mundo de 1950.
Campeonato de samba
O primeiro desfile das escolas de samba do Rio foi patrocinado pelo jornal Mundo Sportivo, em 1932, através de uma iniciativa do seu proprietário Mário Filho, que também trabalhava no Globo. No ano seguinte, Roberto Marinho decidiu patrocinar o evento. Reuniu os representantes das escolas de samba para estabelecer os quesitos de avaliação. Do regulamento organizado pelo jornal, um ponto permanece até hoje nos desfiles: a obrigatoriedade da ala das baianas.
Getúlio Vargas no poder
Em 1930, através de O Globo, Roberto Marinho apoiou o movimento que levaria Getúlio Vargas ao poder. Mas sua relação com o presidente começou a enfraquecer quando, em 1932, o jornal apoiou a promulgação de uma nova Constituição. Devido às críticas ao Governo, O Globo chegou a ser suspenso por 48 horas em 1934. Anos depois, Roberto Marinho aceitaria participar do DIP como representante dos donos de jornais. Mas, logo na sua estreia, se posicionou contrário à intervenção da polícia em O Estado de S. Paulo.
Intentona Comunista
Em 1935, ano da chamada Intentona, O Globo se posicionou contrário à ameaça de golpe dos comunistas. No ano seguinte, entretanto, Roberto Marinho pautou o repórter Alves Pinheiro (que mais tarde seria chefe da redação de O Globo) para entrevistar Agildo Barata, um dos principais líderes do movimento, então preso na Casa de Detenção. A edição com a entrevista, no entanto, acabaria sendo apreendida pela polícia, que invadiu o jornal e impediu sua distribuição.
Telefotografia no Brasil
Roberto Marinho era um grande incentivador das inovações tecnológicas nas suas empresas. O Globo foi o primeiro jornal brasileiro a transmitir uma telefoto. A imagem foi publicada em 17 de agosto de 1936. Mostrava a nadadora Piedade Coutinho, que se classificara nas Olimpíadas de Berlim, obtendo o segundo lugar, logo após a holandesa Rita Mastrenboke. A primeira radiofoto colorida também foi publicada em O Globo, 23 anos depois.
O Globo Expedicionário
O Brasil declarou guerra à Alemanha em agosto de 1942. Dois anos depois, enviou tropas à Europa, passando a participar diretamente dos combates. Nesse momento, Roberto Marinho enviou o repórter Egydio Squeff para o local dos acontecimentos e decidiu editar O Globo Expedicionário, um jornal semanal que levava aos soldados notícias do Brasil e de seus familiares e amigos. Era dirigido por Rogério Marinho e pelo jornalista Pedro Motta Lima, ex-tenente e membro do Partido Comunista.
Incêndio no edifício de O Globo
Roberto Marinho sempre incentivou a divulgação precisa e em primeira mão da notícia. Até quando um incêndio atingiu O Globo, em fevereiro de 1951, o jornalista recomendou que os repórteres registrassem o fato no momento exato em que acontecia. Quando o porteiro Sátyro Barbosa avisou que o primeiro andar do prédio estava em chamas, Roberto Marinho imediatamente pediu que fosse escrita a reportagem sobre o acidente. No dia seguinte, lá estava na primeira página do jornal: “Incêndio no edifício d’O Globo”.
Atentado contra Carlos Lacerda
O clima político no início dos anos 1950 era acirrado. Carlos Lacerda, deputado federal pela UDN, criticava duramente o governo de Vargas. Seus discursos inflamados contra o Governo, muitos feitos nos microfones da Rádio Globo, eram publicados na íntegra nas páginas do Globo. A situação se complicou quando, em agosto de 1954, Lacerda sofreu um atentado, que resultou na morte do major Rubens Vaz. O jornal acompanhou as investigações, que identificaram os mandantes do crime entre figuras de confiança de Vargas.
As investigações sobre o Atentado da Rua Tonelero, como ficou conhecido o episódio em que foi assassinado o major Rubens Vaz, aumentou as pressões contra Getúlio Vargas. O presidente não resistiu à tensão e, no dia 24, se suicidou. Houve uma onda de revoltas. A sede de O Globo foi atacada, carros de reportagem foram queimados e o jornal impedido de circular. Em setembro, para esclarecer os acontecimentos, O Globo publicou o caderno especial O Livro Negro da Corrupção.
Novos tempos
Em outubro de 1954, Roberto Marinho sentou-se à mesa e escreveu na sua Remington a crônica que marcaria o último dia de trabalho na antiga sede de O Globo, na Rua Bittencourt da Silva. O editorial Despedida foi publicado na primeira página. No dia seguinte, a redação e as oficinas foram transferidas para o número 35 da Rua Irineu Marinho, no Centro do Rio de Janeiro. Era o início do processo de modernização do jornal, que incluía a aquisição de novos equipamentos gráficos: as rotativas Hoe, as mais modernas da época.
Na sede da Rua Irineu Marinho, Roberto Marinho continuou a sua rotina de acompanhar todas as etapas do processo de elaboração, produção e distribuição de O Globo. Era muito atento também à reação dos leitores. Todos os dias, passava no distribuidor para saber como estava a venda do jornal. E O Globo foi crescendo. Em 1958, o jornalista resolveu lançar uma edição nacional do vespertino, com distribuição aérea para todo o país. Entre 1958 e 1960, inaugurou duas sucursais, em Belo Horizonte e Brasília.
O Globo publicou a primeira radiofoto colorida em 1959. A imagem mostrava a rainha Elizabeth discursando em Quebec, no Canadá, na inauguração do caminho de navegação entre os Grandes Lagos e o Oceano Atlântico, através do canal de São Lourenço. A radiofoto, transmitida pela United Press Internacional, foi tirada de uma fotocor de Fitzgerald. Revelada e preparada para a transmissão em Montreal, chegou à redação por uma linha especial da Tele-rádio, via Nova York.
O Globo sempre se preocupou com a melhoria do país e da cidade onde estão os seus principais leitores, o Rio de Janeiro. Essa preocupação se concretizou em 1952, quando Roberto Marinho criou o Departamento de Relações Públicas, sob a direção de Walter Poyares. Várias campanhas foram desenvolvidas, como a do "Operário Padrão", a do "Dia das Mães" e do "Dia dos Pais", e a "Ajude uma Criança a Estudar", coordenada por D. Stella Marinho.
Posteriormente, nos anos 1970 e 1980, outras iniciativas de grande relevância foram criadas, como o prêmio Estandarte de Ouro e o programa Quem Lê Jornal Sabe Mais. Além de sua importância, algumas ações eram motivo de orgulho para Roberto Marinho, como o Projeto Aquarius, criado em 1972. Concebido pelo jornalista, pelo maestro Isaak Karabtchevsky e pelo então gerente de Promoções do Globo, Péricles de Barros, o projeto oferecia ao público, de forma gratuita, espetáculos de música clássica. Essas apresentações entusiasmaram diferentes públicos, quebrando a crença de que, no Brasil, música clássica seria apreciada por poucos.
O Globo e a política
Durante o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1961), O Globo denunciou o contexto de intranquilidade e instabilidade financeira do país e apontou os erros e contradições do PSD na política interna e externa. Roberto Marinho se posicionou, em editoriais, contra a construção de Brasília, por exemplo. Ele via na transferência da Capital Federal um esvaziamento político do Rio de Janeiro. Também relacionava a inflação aos gastos excessivos do Governo e defendia a posição do FMI, que recomendava restrição ao crédito.
Roberto Marinho foi a favor da candidatura de Jânio Quadros à sucessão de JK. Eleito com o apoio da UDN, Jânio ficou pouco tempo no poder: renunciou em agosto de 1961; e o vice-presidente, João Goulart, tomou posse sob o regime parlamentarista. Em janeiro de 1963, através de um plebiscito, o presidencialismo foi restaurado. Mas a forte crise econômica e a grande instabilidade política culminariam, em março de 1964, na deposição de Jango pelos militares.
Roberto Marinho apoiou, nas páginas de O Globo, o golpe militar de 1964. No contexto da Guerra Fria, achava que a deposição de Jango seria a única alternativa para manter a democracia que, a seu ver, estava ameaçada pela radicalização ideológica. Depois de instaurado o primeiro governo, o jornalista permaneceu fiel aos objetivos de 1964. Ele acreditava na vocação democrática do presidente Castelo Branco e na eficácia da política econômica desenvolvida por Roberto Campos e Octavio Gouvêa de Bulhões.
Por causa de seu apoio ao golpe, na noite de 31 de março de 1964, O Globo foi invadido por fuzileiros e impedido de circular por 24 horas. Quando voltou às bancas, trouxe um editorial em que Roberto Marinho saudava a deposição de João Goulart. Vinte anos depois, em outro editorial, ele explicaria que as instituições democráticas estavam “ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada”.
Roberto Marinho sempre escolheu seus funcionários e colaboradores por sua competência, independente de suas posições políticas. Na redação do Globo, trabalhavam muitos jornalistas contrários ao regime e alguns ligados ao Partido Comunista. Certa ocasião, Roberto Marinho foi pressionado pelos militares para entregar a lista desses profissionais. Ele enviou, então, um envelope com a folha de pagamento do jornal. Ao ser questionado, respondeu: “Quem tem que descobrir os comunistas são vocês e não eu”.
Roberto Marinho não se intimidava com as restrições impostas pela ditadura. Em 1964, Franklin de Oliveira encabeçava uma lista de cassados políticos, o que lhe fechou as portas de todos os jornais. Menos de O Globo. “Fui o primeiro cassado político a assinar artigos na imprensa brasileira. E os assinei em O Globo. Eram artigos sobre os mais diferentes temas, nos quais nunca me impus autocensura e muito menos recebi do jornal qualquer restrição à minha liberdade de escritor”, lembrava.
Um caso memorável de resistência à intervenção dos militares ocorreu quando o ministro da Justiça Juracy Magalhães pediu a “cabeça” de dezenas de profissionais considerados inimigos do Governo. Numa reunião com diversos donos de jornal, Roberto Marinho protestou com veemência, defendendo incondicionalmente os jornalistas de O Globo. Sua frase ao ministro ficou célebre: "Vocês cuidam dos seus comunistas, que dos meus comunistas cuido eu".
Mudanças editoriais
Em dezembro de 1971, Evandro Carlos de Andrade assumiu a redação de O Globo. Com o apoio de Roberto Marinho, o jornalista fez reformas que levaram o jornal à liderança do mercado carioca. Organizou as editorias, aumentou o número de repórteres e redatores, reformulou salários e tornou as notícias mais diversificadas e abrangentes. Renovou a parte gráfica, implantou a cor nos cadernos do jornal e lançou novos suplementos. Por fim, deu ao jornal uma nova linguagem, mais direta e objetiva.
O Globo tornou-se um matutino em 1972, passando a circular também aos domingos. Para não assustar os leitores, Roberto Marinho decidiu que o horário do jornal seria antecipado dia após dia, ao longo da década de 1960. Ele sabia que os vespertinos não poderiam concorrer com os meios eletrônicos, em especial a televisão, tão forte para dar notícia no final do dia, e que circular aos domingos era essencial. “Era uma etapa cuja efetivação não mais podíamos adiar”, afirmou no editorial O Dia que Faltava.
Roberto Marinho queria adquirir impressoras off-set para O Globo. Alguns companheiros de jornal achavam que era uma aposta arriscada. Mesmo assim, em março de 1975, ele investiu US$ 8 milhões na aquisição de 18 impressoras Goss Metroliner. O novo sistema eliminava a composição tipográfica, substituindo-a pela fotocomposição. Além de economizar papel, o equipamento era rápido e permitia melhor qualidade de impressão.
O Globo seguiu com as mudanças. Em 1985, houve a troca das antigas máquinas de escrever por terminais de computadores. Todos tiveram que aprender a usar os novos equipamentos. Até Roberto Marinho. A informatização era mais uma virada do jornal no caminho da modernização, e o presidente do Grupo Globo sabia disso.
A redemocratização no Brasil
Entre o final da década de 70 e o início dos anos 80, os leitores de O Globo acompanharam, pelas páginas do jornal, a abertura política promovida por Geisel e consolidada por Figueiredo. Tomaram conhecimento, também, da violência com que os setores conservadores reagiram à transição democrática. O Globo repudiou tentativas de sabotar a redemocratização, como os atentados na ABI, na OAB e no Riocentro. O próprio Roberto Marinho foi vítima de terroristas, que explodiram uma bomba na sua residência no Cosme Velho, em 1976.
Em 1982, na 1ª eleição direta para governador após o golpe militar, o TSE decidiu informatizar a fase final da apuração e, no Rio, a responsável foi a empresa Proconsult. O Globo montou um sistema próprio, mas sua contabilização, assim como a oficial, seguiu um ritmo lento, pois acompanhava os pleitos proporcionais. O predomínio dos votos do interior dava uma aparente vantagem a Moreira Franco. Apesar de o jornal ter apontado a possível vitória de Brizola, o candidato denunciou que a situação favorecia a fraude
Em 1983, o deputado Dante de Oliveira apresentou uma proposta de emenda à Constituição que previa o restabelecimento de eleições diretas para presidente. Logo depois, o movimento por Diretas Já ganhou força e, em 1984, adquiriu proporções até então nunca vistas na moderna história brasileira. Houve comícios em todo o país, chegando a reunir mais de um milhão e meio de pessoas em São Paulo. O Globo acompanhou os acontecimentos. O assunto ganhou destaque no seu noticiário desde o lançamento oficial da campanha.
Depois da derrota das Diretas, Roberto Marinho apoiou a candidatura de Tancredo Neves no colégio eleitoral. Tancredo foi o primeiro civil eleito presidente desde 1964. Na véspera da sua posse, porém, foi internado no Hospital de Base, em Brasília, e morreu, em 21 de abril de 1985, após quase 40 dias de agonia. O Globo acompanhou o clima de comoção nacional criado pela doença e morte do presidente-eleito. Em seguida, o jornal apoiou o vice José Sarney, eleito na chapa de Tancredo, apostando que ele daria sustentação à Nova República.
Eleições diretas
A população brasileira foi às ruas, em 1989, para escolher o presidente da República. Era a primeira eleição direta depois de 29 anos. A disputa no segundo turno, entre os candidatos Collor (PRN) e Lula (PT), foi acirrada e polêmica. Apesar de ter expressado em editoriais seu apoio a Collor, a orientação de Roberto Marinho era que O Globo fizesse uma cobertura equilibrada, concedendo espaço igual aos candidatos. Ao final, Collor venceu o pleito, com 53% dos votos válidos.
Impeachment do presidente Collor
O impeachment do presidente Collor aconteceu no final de 1992. O processo começou em maio, quando Pedro Collor acusou o tesoureiro da campanha de seu irmão, PC Farias, de articular um esquema de corrupção e troca de influências. Foi instaurada uma CPI para apurar as denúncias. O Globo deu ampla cobertura à crise política. E teve participação decisiva, quando o jornalista Jorge Bastos Moreno noticiou a compra de um Fiat Elba, provando que propinas eram usadas para pagar despesas pessoais do presidente.
Em 26 de agosto, foi concluído o relatório da CPI. E, em 29 de setembro, a Câmara dos Deputados aprovou o impeachment do presidente. O Globo do dia seguinte mostrou os deputados oposicionistas comemorando o voto decisivo, de número 336, a favor do impedimento. Collor foi substituído pelo vice-presidente Itamar Franco. O último julgamento ocorreu no Senado, em 29 de dezembro. O presidente afastado foi condenado à inabilitação, por oito anos, para o exercício de cargos públicos.
Reforma Gráfica de O Globo
Roberto Marinho acreditava que a identidade visual de O Globo era um elemento essencial de vínculo com o leitor. Por isso, rejeitava mudanças drásticas na estética do jornal. A primeira grande reforma gráfica só aconteceu depois de muita discussão, em 1995, com o redesenho feito pelos designers Milton Glaser e Walter Bernard. A mudança começou pelo logotipo colorido e levou a ajustes editoriais, como a hierarquização mais clara das notícias. A tipologia foi trocada e as fotos, valorizadas.
Merval Pereira passou a comandar a redação do Globo em 1995, em substituição a Evandro Carlos de Andrade, que havia se tornado diretor de jornalismo da Rede Globo. Nesse período, o jornal passou por uma série de mudanças, como o lançamento do Tempo Real (distribuição de notícias através de rede de computadores) e Globo On line, o primeiro site de notícias do Grupo Globo.
O Novo Parque Gráfico
O crescimento de O Globo, que chegava a vender um milhão de exemplares aos domingos, levou Roberto Marinho a expandir o empreendimento. Com o lançamento do jornal Extra, as máquinas rotativas não eram suficientes. Seria preciso investir em novas instalações, e o jornalista decidiu criar um novo Parque Gráfico em janeiro de 1999. As páginas do jornal passaram então a ser transmitidas por ondas de rádio desde a sede, na Rua Irineu Marinho, até o novo prédio, onde ficam as rotativas, na Rodovia Washington Luís, em Duque de Caxias, RJ.
Lançamento do jornal Extra
Em 1998, Roberto Marinho lançou o Extra. A escolha do nome do novo jornal foi feita através de uma ação promocional que mobilizou a população, assim como Irineu Marinho havia feito, em 1925, para a escolha do nome O Globo. Com o foco nas classes B e C, o Extra logo se tornou um dos líderes de venda em bancas no país. Com uma linguagem simples, o jornal é voltado para temas ligados ao cotidiano do seu público. Seu conteúdo também está disponível no Extra Online, um dos sites de imprensa mais acessados do Brasil.
Lançamento do jornal Valor Econômico
Em 2000, em parceria com o Grupo Folha, Roberto Marinho lançou o Valor Econômico, importante jornal de economia, finanças e negócios do país. Com cinco cadernos diários, o jornal traz análises, artigos e notícias sobre os temas que pautam os principais movimentos do mercado. Publica revistas, anuários e suplementos especiais que analisam cenários econômicos nacionais e internacionais. Em setembro de 2016, o Grupo Globo adquiriu os 50% do Grupo Folha e se tornou o único proprietário do jornal.
Roberto Marinho faleceu no dia 6 de agosto de 2003, aos 98 anos. Ao longo da sua vida, soube superar uma a uma as crises que se puseram em seu caminho. E deixou, para seus companheiros de O Globo, o exemplo de profissional preocupado com a qualidade do trabalho e com a ética. Seus herdeiros firmaram o compromisso de não apenas manter o jornal fiel aos princípios e valores das empresas do Grupo Globo, mas também ampliar sua obra, sintonizando-as aos novos tempos.