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Por Louise Franca, gshow — Rio de Janeiro


Globo inaugura estúdio com tecnologia virtual e recria cenário de 100 anos atrás

Globo inaugura estúdio com tecnologia virtual e recria cenário de 100 anos atrás

O Grupo Globo celebra 100 anos do jornal, 60 anos da TV Globo, 30 anos de Estúdios e 10 anos de Globoplay em 2025. Para dar início às comemorações que vêm por aí, diretores artísticos inauguraram o novo estúdio de Produção Virtual nesta quinta-feira (12), no Rio de Janeiro. O gshow conheceu o espaço dedicado ao uso de tecnologia de painéis de LED, sincronizados com iluminação, câmera e projeções em realidade aumentada, sem depender de fundo verde.

Amauri Soares apresenta tecnologia que recriou redação do O Globo de 1925 — Foto: Louise Franca

"Todos nós estamos muito motivados e mobilizados com o momento que vamos viver a partir de agora. A família toda está fazendo aniversário, é um mês cheio de efemérides e o que une todas essas iniciativas é essa vocação para contar história. Por isso que a chegada de uma ferramenta como essa nos mobiliza tanto", destacou Amauri Soares, diretor executivo dos Estúdios Globo e TV Globo.

Tudo começou em 1925 com um repórter que trabalhava em um jornal em Niterói e que decidiu abrir o próprio jornal. O visionário era Irineu Marinho e esse jornal era O Globo. Montado no estúdio estava justamente a primeira redação em que ele trabalhou, sendo difícil separar o que é virtual do que é real.

Redação do jornal O Globo de 1925 recriada nos estúdios — Foto: Louise Franca/gshow

Repare na diferença entre painel de LED e cenário real — Foto: Louise Franca

O diretor artístico do documentário “O Século do Globo” explicou que o desafio foi recriar lugares que não existem mais, como a redação do Jornal Globo de 1925, a partir de apenas fotos, sem nem uma planta arquitetônica.

"Já existia vontade da gente usar as redações do Jornal Globo como base para fazer nossas entrevistas principais, conduzidas por Pedro Bial. Só que, a pós-produção teria que fabricar no final, substituindo o chroma key, aplicando a parede. Desde o início do processo, a tecnologia trabalhou com o time de VFX, a equipe de fotografia e cenografia, trazendo realismo", contou Gian Carlo Bellotti.

Ali Kamel se emociona ao visitar redação recriada do jornal para documentário — Foto: Louise Franca/gshow

"As pessoas sentaram aqui e choraram quando voltaram na redação dos anos 60, e depois dos anos 80, com a chegada dos computadores, que também reconstruímos. Mesmo com todo esse aparato tecnológico, a emoção e a possibilidade de a gente contar as histórias ainda é o que prevalece aqui", reforçou Bellotti.

Esse estúdio de produção virtual vai abrir caminho para contar novas histórias. Algumas barreiras deixam de existir a partir de hoje, segundo Amauri Soares. Juntando o melhor da tecnologia, de iluminação, de câmera, com o talento, a marcenaria, a cenografia fica possível construir ambientes onde era mais difícil acessar. "Isso nos enche de ideias e de disposição para criar e contar novas histórias", diz, com esperança.

Repórter do O Globo, Celso Itiberê chora ao reencontrar cenário de redação antiga — Foto: Louise Franca

Primeira produção Globo a testar tecnologia foi uma novela

A estrutura com 300 metros quadrados de painel de LED, com resolução em 16k, em HDR, já está sendo utilizada em produções como a novela Volta por Cima, que contou com uma cena em que um ônibus ficou pendurado no viaduto.

"Filmamos 15 páginas de roteiro em um dia. Economizamos duas diárias e não precisamos ficar presos ao clima e ao tempo de filmagem no centro do Rio", explicou o diretor artístico da novela, André Câmara.

A tecnologia abre possibilidade para o desenvolvimento de catálogos de cenários virtuais também na dramaturgia:

"Temos cenários recorrentes de restaurantes, aeroportos, que às vezes demoram 2h da diária para chegar ao lugar. Ter isso no catálogo, dentro dos estúdios, facilita as gravações, sem problemas de chuva, sol e trânsito," finalizou André.

Diretor de Volta Por Cima, André Câmara explica vantagens de produção virtual — Foto: Louise Franca/gshow

Dois projetos em andamento com tecnologia virtual: doc e filme

Os diretores adiantaram que já planejam várias histórias usando essas ferramentas inovadoras, como uma que estava na gaveta desde 2019, antes da pandemia, e que desde aquela época era quase impossível de contar, pois se passa na Antártida, na Estação Científica Brasileira. Depois de realizar testes bem-sucedidos, a ideia é gravar no ano que vem. "É um filme, é um longa-metragem, que nós vamos gravar 100% com produção virtual", revelou Bruno Safadi.

Dois projetos em andamento com tecnologia virtual: doc e filme — Foto: Louise Franca/gshow

"Imagina levar 80 pessoas para a Antártida, gravar na Antártida, permanecer por semanas lá é virtualmente impossível, não só pela logística, mas pela segurança das pessoas, pelas condições. Então ninguém vai viajar pra Antártida, mas quando vocês assistirem o filme, vocês não vão saber isso, só vão saber porque eu estou contando agora. Essas e outras histórias que esperavam uma solução de tecnologia estão vindo para a mesa de novo e a gente vai fazer acontecer", celebrou.

O diretor artístico Bruno Safadi, que está preparando o primeiro filme totalmente gravado no Estúdio de Produção Virtual, "Antártida", afirmou que a agenda do estúdio em 2025 já está lotada.

"Antártida" será primeiro filme gravado inteiramente em estúdio virtual na Globo — Foto: Louise Franca/gshow

Produtividade aumenta e custo reduz com uso de tecnologia virtual

É fundamental essa inversão de processo que a tecnologia traz, segundo o diretor de tecnologia Marcelo Bossoni. O trabalho de efeitos era desempenhado depois da filmagem, com a produção virtual é feita durante a conceituação, com storyboard das cenas. É criativo e tecnologia andando juntos pra otimizar e permitir projetos prontos após a filmagem, sem grandes demoras na pós-produção. Traz controle com mais previsibilidade e redução em 50% de custos, de acordo com Bussoni.

“Tinha aquela frase famosa de “resolve na pós”. Agora tudo resolve na pré-produção," brincou Fernando Alonso, diretor de design.

"Isso é muito útil para todos nós, mas não existe uma ferramenta de inteligência artificial que cria e gera uma imagem pronta para você usar e ir pro ar. Isso é resultado de um processo de muitas horas de trabalho de muitos profissionais usando essas ferramentas," ponderou Soares.

Marcelo Bossoni, Andre Câmara, Bruno Safadi, Gian Carlo Bellotti e Fernando Alonso, diretores artísticos e de pós produção — Foto: Louise Franca/gshow

Como o BBB mobiliza não só o país inteiro com torcidas fervorosas votando no gshow, mas também a equipe dos Estúdios Globo, o diretor de pós-produção e design esclareceu que o reality usa já uma produção virtual, mas por ser ao vivo ainda não tem a necessidade de ter esses painéis.

"Inclusive para o BBB 25 tem projeto para usarmos ainda mais produção virtual. Teve no último episódio, na final o Tadeu entrando de elevador na casa, por exemplo. Mas essa tecnologia desse estúdio por enquanto ainda deve ficar em dramaturgia, filmes e series, por enquanto,” contou Fernando Alonso.

A ideia do Estúdio de Produção Criativa começou há cerca de 1 ano e meio e a TV Globo visitou estúdios que usam a tecnologia ao redor do mundo, como as da Disney e da Amazon, para trazer a inovação para o Brasil.

“Existem outros produtores no país que possuem tecnologia semelhante, mas desse tamanho e com toda essa tecnologia de projeção e câmera, esse é o primeiro,” disse o diretor de Tecnologia da TV Globo, Marcelo Bossoni.

De acordo com Bossoni, o investimento apenas para processamento de imagens é entre R$ 2 milhões e R$ 3 milhões e os painéis são alugados. “A tecnologia evolui muito rápido e não vale a pena comprarmos”, completou.

Câmera robô usada no cenário com painel de LED é controlada à distância — Foto: Louise Franca/gshow

Uso de inteligência artificial em produções Globo

Enquanto muitos avaliam as vantagens do uso de inteligência artificial, alguns ficam resistentes e Amauri Soares garantiu que a proposta é usá-la como ferramenta para melhorar a produtividade e que já é algo disseminado nas produções.

"Nós usamos inteligência artificial para mixagem de som, para correção de cor de imagens, para busca em arquivo, decupagem de cena, existem centenas de ferramentas e nós temos usado. Nós começamos agora um programa conjunto aqui nos estúdios, a área de tecnologia com as áreas criativas, para consolidar essas ferramentas e ajudar o desenvolvimento das histórias desde o começo", ressaltou.

Diretor da TV Globo, Amauri Soares apresenta tecnologia do estúdio virtual — Foto: Louise Franca/gshow

"Queria dizer uma coisa muito importante sobre nós aqui na Globo e essas ferramentas, tanto produção virtual, que é isso aqui, como inteligência artificial, que é esse mundo de ferramentas que nós usamos também. Nós enxergamos isso como ferramenta, a criação aqui é humana, a liderança do processo é humana, são profissionais que estão no controle do processo criativo de produção do começo ao fim".

"A inteligência artificial não substitui autor, o cameraman, o sonoplasta, o produtor, o diretor, o iluminador, o diretor de fotografia. Mas estas ferramentas dão a estes profissionais novas possibilidades".

"Os profissionais estão aqui, eles é que conduzem o processo. Eu acho importante deixar claro, porque percebo que há uma ideia de que, por exemplo, inteligência artificial é uma ferramenta em que você dá um comando e ela cospe um produto audiovisual pronto. Isso não existe. Existe uma certa fantasia em torno da expectativa do que é inteligência artificial," concluiu.

Redação do O Globo de 1925 foi recriada para documentário especial de 100 anos — Foto: Louise Franca

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