Déjà vu de hit gospel, cover do marido e mais: Luis Lobianco revela bastidores de seu personagem em Os Outros

"O convite veio pela Luísa Lima, diretora da série. Me senti honrado e topei na hora. Era a série mais comentada em todos os lugares. Foi com essa alegria e a confiança dos criadores que abracei meu personagem, o Durval."

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Mais conhecido por seus papeis de humor, Lobianco conta que seu personagem em Os Outros é bem diferente de como o público está acostumado a vê-lo na TV: "Seu Durval é um homem solitário desde que ficou viúvo, daquelas pessoas que não conseguiu processar muito bem o luto. A ausência da esposa fez com que se desenvolvesse nele uma fragilidade física e emocional. Ele só consegue se relacionar com o mundo dentro do condomínio".

Nesse contexto de fragilidade, as reuniões com os vizinhos na casa de Raquel (Letícia Colin) acabam servindo como pilar e ponto de partida para a trama de Seu Durval na série.

"Essa célula cristã é muito importante para ele. Eu diria até que é tudo que ele tem na vida. Essa célula e um pet, que é o gato Dudu."

Para reproduzir na série as reuniões cristãs conhecidas como células, o elenco fez um trabalho de pesquisa para entender a melhor forma de mostrá-las na trama. "A gente conversou com algumas pessoas que participam ou têm uma célula e, como primeira coisa, entendemos que a célula não é necessariamente de uma religião ou outra. Ela pode ser ou não", diz.

A equipe definiu que, mais que um local de oração, a célula da casa de Raquel funcionaria também como um espaço para compartilhamento entre aqueles vizinhos. "Eles acreditam em Deus, têm fé, creem que a oração eleva o espírito deles. Mas tem um caráter também de vivência, quase que uma coisa terapêutica. Porque ali eles trocam experiências, frustrações, abrem o coração. Então é muito honesto, não tem nenhum tipo de julgamento", explica Lobianco.

"Essa célula, eu, inclusive, acho que é um ponto positivo dentro daquele condomínio que acaba ficando tão vulnerável. Ainda bem que essas pessoas puderam ali contar umas com as outras quando se viram em risco".

Para quem acompanha a carreira de Lobianco desde os tempos de teatro, com certeza não passou batida a canção "Faz um Milagre em Mim", que os personagens cantam em tom de oração na casa de Raquel. Durante anos, o ator e seu grupo de teatro, Buraco Show, cantaram uma paródia dessa mesma música, que chegou a virar um hino ao fim dos espetáculos em um "inferninho" na Lapa, Centro do Rio.

Na letra, composta pelo próprio Lobianco, os versos cristãos eram substituídos pela comédia e ficavam assim: "Entra no meu buraco/Entra que tem bebida/A vida de artista é dura/Eu não pago as minhas dívidas...".

Ele lembra a experiência de cantar a versão original da música na série, depois de tantos anos arrancando risadas do público com sua paródia no teatro. "Na hora não falei nada porque estávamos muito concentrados na cena, mas depois não perdi a oportunidade de improvisar fazendo uma espécie de oração falada com a letra enquanto todos cantavam. Muita gente do elenco já tinha assistido ao espetáculo várias vezes. Acabou virando uma versão 'quase oficial'", diverte-se.

Cantar em cena não é um problema para Lobianco – afinal, quem não se lembra de Clovinho e o hit de axé "Sal na Pele", da novela Segundo Sol? Para as cenas em que Seu Durval aparece tocando teclado nas células, no entanto, o ator contou com uma ajuda muito especial: a de seu marido, o músico Lúcio Zandonadi.

"Eu não sou um cantor, mas sou um ator que canta. No teatro a gente tem que cantar. O que não sei fazer é tocar piano e, como tenho um pianista em casa, que é o meu marido, eu filmei a mãozinha dele tocando e fiquei estudando. Então, em cena, foi mais no carão do que na mão."

Apesar de ter uma participação mais tímida nos primeiros episódios da temporada, o público pode aguardar fortes emoções para Seu Durval com o desenrolar da trama. "Assim como na primeira temporada, Os Outros tem relativamente poucos personagens, o que dá a chance para que cada um deles tenha seu momento de protagonismo", aponta Lobianco.

"A trama do Durval surge no meio da temporada como uma dessas surpresas guardadas pelo autor. Ali se revela um tipo urbano muito reconhecível: o homem completamente vulnerável ao vício e, por consequência, à chantagem de bandidos que se aproveitam dessa fragilidade."