Se você tem dúvidas sobre o anticoncepcional que pode melhor se adaptar ao seu organismo e estilo de vida, então saiba mais sobre cada método. Seja a pílula anticoncepcional ou as minipílulas, os injetáveis, o adesivo ou o chip, a preferência entre as mulheres, de forma geral, ainda é o DIU (dispositivo intrauterino).
Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 169 milhões de mulheres no mundo optam pelo dispositivo. “O DIU é o método mais usado na Europa, principalmente. Mas tem se falado mais no Brasil e tem sido cada vez mais aceito, muito por mulheres jovens”, afirma a Dra. Viviane Monteiro, ginecologista especializada em Medicina Fetal e Gestação de Alto Risco.
“Garotas a partir de 18 anos podem usar o DIU de menos hormônios, que é o Kyleena. E tem o DIU de cobre, sem hormônio, que também é indicado”, acrescenta Dra. Lizanka Marinheiro, chefe do setor de endocrinologia do Instituto Fernandes Figueira/Fiocruz e pesquisadora em Saúde da Mulher.
Quando iniciar o uso de anticoncepcional?
A gravidez precoce ainda é um problema mundial. As estimativas da OMS indicam que cerca de 16 milhões de jovens entre 15 e 19 anos são mães a cada ano. No Brasil, a previsão é de que 1 a cada 5 mulheres seja mãe antes de deixar a adolescência, aponta a Sociedade Brasileira de Pediatria.
“Os pais devem levar as filhas ao ginecologista desde cedo, elas já podem começar a tomar pílula ao iniciarem a vida sexual. No IFF, infelizmente, atendemos grávidas de 12 e 13 anos”, alerta a pesquisadora. Com o surgimento de novos métodos, fica cada vez mais fácil encontrar uma opção cômoda e segura para mulheres mais jovens. Veja a seguir!
Anticoncepcional em comprimido: alta ou baixa dosagem
Não tem mistério. O médico apenas tem de escolher qual o tipo de hormônio vai usar, resume a endocrinologista: “Os anticoncepcionais orais têm dois hormônios: a progesterona e o estrogênio. O que varia é a dosagem e o tipo de progesterona.”
A decisão vai depender de como é a mulher ou adolescente: “Se ela tiver um pouco acima do peso, com acne e muitos pelos no corpo, deve-se optar por um tipo. Se for magra, se faz esporte, não tem acne, vai usar outro tipo.”
Uma das novidades do mercado são as pílulas sem estrogênio, as chamadas minipílulas. “São à base de progesterona e bastante usadas na mulher no período lactante, pois é uma fase em que não se usa nenhum tipo de estrogênio para não passar para o leite”, explica a ginecologista.
Também são uma opção para quem não quer ou não pode fazer uso de estrogênio: “São eficazes e bastante seguras.”
“Se não fossem mais caras, eu só indicaria essas para os pacientes com caso de IMC aumentado, pois oferecem menos riscos”, acrescenta Dra. Lizanka, ao citar a Slinda e a Ammy.
Efeitos colaterais: pílula anticoncepcional engorda e dá acne?
“Anticoncepcional não engorda e não estimula o apetite", alerta a endocrinologista. Alguns tipos de progesterona podem causar maior retenção de líquidos e, desta forma, inchaços e edemas: “Isso dá para resolver! Tem um tipo de progesterona que não incha tanto.”
Ainda assim, a orientação é de uma rotina com exercícios regulares e alimentação balanceada. “O que engorda é o estilo de vida que a mulher leva, o seu comportamento psicológico, se é mais ou menos ansiosa”, esclarece.
Já o surgimento de acnes deve ser investigado como outra causa: “Tem anticoncepcional que até contribui para o tratamento. Formulação com clormadinona (Belara ou Amora, por exemplo), podem ajudar bastante. Muitas pacientes melhoram a pele com o Microvlar.”
Quanto ao sangramento irregular, isso costuma acontecer com a pílula de baixa dosagem de progesterona. “A mulher não engravida por isso. Você quer uma pílula para ter menos efeitos colaterais e acontece de menstruar duas ou três vezes no mês, basta alterar a dose do hormônio.”
A endocrinologista lista alguns casos de contraindicação para anticoncepcionais orais: enxaqueca com aura, fumantes crônicos, pessoas com varizes profundas, trombose venosa profunda e pessoas com doença cardiovascular grave (que já tenha sofrido um infarto e colocou stent)
DIU: quais são as vantagens e desvantagens
Um dos pontos positivos do DIU é que o hormonal e o de prata só precisam ser trocados a cada 5 anos (se for o DIU de cobre, sem hormônios como o de prata, a cada 10 anos). A eficácia não é reduzida no caso de interações com outras medicações.
Dra. Viviane Monteiro sugere o que pode ser considerado um ponto negativo: “O DIU não hormonal é aquele em que a mulher menstrua, o contra seria o fato de aumentar um pouco o fluxo menstrual, mas ele também tem modelos diferentes dos tamanhos convencionais e até menores, que são o mini DIU.”
Ela acrescenta que o dispositivo Kyleena, versão de menor dose e tamanho muito voltado para o público jovem, tem tido forte receptividade e uma maior busca na rede pública.
Já o Mirena só contém progesterona e tem maior dosagem. Mas, de forma geral, a decisão final deve ser sempre tomada com o médico: “Tudo vai depender, como em qualquer remédio, da história da paciente.”
A ginecologista cita algumas contraindicações do DIU, como em pacientes com doença inflamatória pélvica e casos de alteração do formato uterino. “Já a decisão pelo tipo de DIU deve ser levada em conta se é só contracepção, se é uma paciente com endometriose ou com aumento do fluxo. Isso vai orientar a idade da mulher na escolha”, explica.
Anticoncepcional injetável: prevenção renovada a cada 1 mês ou 3 meses
Nos anticoncepcionais injetáveis, é possível optar pela aplicação mensal ou trimestral. “Isso também é mais cômodo”, aponta a obstetra. Como na pílula, o médico decidirá se usará apenas a progesterona ou a combinação (progesterona e estrogênio). Algumas orientações médicas são necessárias antes de cada aplicação.
O anticoncepcional injetável não costuma ser a opção mais recomendada pela especialista do IFF. “Uso pouco. No primeiro ano do pós-parto eu indico injetáveis com AMP-D. Mas esse método tem perda óssea a longo prazo”, alerta.
“Em relação à massa óssea, deve-se levar em consideração os casos de privação de estrogênio na mulher. Mas a escolha pelos injetáveis varia muito de acordo com o desejo da paciente: se ela realmente esquece da pílula, se ela não quer ou não pode usar o DIU, se não se adaptou a outras formas. Essa pode ser uma opção viável”, opina Dra. Viviane.
Implanon: qual o diferencial do chip anticoncepcional
No caso do chip anticoncepcional, o paciente consegue ter mais independência no controle de uso em relação aos demais métodos contraceptivos, já que a proteção de uma gravidez indesejada é prevista em até 3 anos, período em que se recomenda trocar o chip.
O “chip” - que “nada tem a ver com esses ‘chip da beleza’ que vendem por aí”, frisa a endocrinologista - é um bastão de 4 centímetros de comprimento e 2 milímetros de diâmetro que contém o etonogestrel, hormônio feminino sintético (semelhante à progesterona), e que é liberado continuamente inibindo a ovulação.
“Mas o chip é bem mais caro, então para quem não tem condição, a melhor opção ainda é o anticoncepcional oral”, explica Dra. Lizanka.
Adesivo anticoncepcional
O adesivo, via transdérmica, também é bastante eficaz, afirma a ginecologista: "Geralmente é uma troca semanal e é um método em que a mulher normalmente menstrua”, acrescenta. Assim como nos demais casos, a escolha vai de acordo com a comodidade e desejo da mulher.
“Não existe um melhor método, existe o que a paciente melhor se adapta, considerando o estilo de vida dela, se tem algum fator de risco associado, se é tabagista, se é fumante, que tipo de esporte pratica, se tem mais suor, se esquece normalmente o método, se tem contraindicação ao estrogênio, se está amamentando, se tem alteração do formato uterino…. Existem muitas variáveis para essa decisão.”
Anticoncepcionais estimulam o risco do câncer de mama?
Uma recente pesquisa realizada pela revista científica “PLOS Medicine” trouxe novamente o assunto à tona: os anticoncepcionais aumentam o risco de câncer de mama? O estudo afirma que o risco cresce, embora de forma bem discreta, entre mulheres que usam os contraceptivos hormonais.
“Esses riscos precisam ser comparados com os benefícios do uso de anticoncepcionais durante a idade reprodutiva, que incluem comprovadamente a diminuição dos cânceres de ovário, endométrio e do intestino grosso”, rebateu a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia, em março de 2023.
A pesquisadora explica: “Isso é muito discutido. O estrogênio age aumentando a proliferação celular e tem um efeito na mama. Mas não significa que todo mundo que usou ou usa hormônio vai ter um risco maior.”
A médica ressalta que o câncer de mama é multifatorial. “São muitas variáveis. Claro que em uma pessoa com casos de câncer de mama na família é preciso olhar com cautela. Por isso todo tratamento com hormônio ou remédio deve ser individualizado”, reforça.