Zé Neto, da dupla Zé Neto e Cristiano, revelou, em entrevista ao Fantástico no último domingo (1), que atribui ao uso de cigarros eletrônicos a acentuação de seu quadro depressivo. Os sertanejos ficaram três meses longe dos palcos para que o cantor pudesse cuidar da saúde mental e retornaram na segunda-feira (2).
O cantor explicou que o cigarro eletrônico surgiu como uma tentativa de driblar os sintomas do adoecimento emocional.
"Só me arrependo até hoje de ter fumado. O cigarro foi uma das piores coisas que aconteceu comigo. Acho até que foi o grande culpado da minha depressão ter piorado porque atacou exatamente na coisa que eu mais amo fazer. Eu não conseguia cantar, não conseguia respirar, então comecei a ficar com medo de cantar", declarou.
Em entrevista ao gshow, o pneumologista Thiago Santana explicou os riscos do cigarro eletrônico e alertou sobre a falta de informações sobre o produto, proibido no Brasil desde 2009.
"É um produto relativamente novo, então temos poucos estudos que falem sobre as consequências do seu uso a longo prazo. Essa falta de informações é traiçoeira, porque as pessoas não sabem que faz mal, já que não tem cheiro, muitas vezes tem essências com gosto de frutas e, por parecer ser só um vapor de água, enquanto, na verdade, é um aerossol com mais de 2 mil componentes, inclusive muitos cancerígenos", explicou.
Ele explicou também que a grande maioria das marcas não expõe a quantidade de nicotina contida nos aparelhos, o que dificulta o controle e facilita a ingestão excessiva. Sobre os riscos do uso de cigarro eletrônico, além dos danos à voz, como aconteceu com Zé Neto, o médico destaca as doenças pulmonares, que podem ocorrer de forma aguda.
"Em 2019, o cigarro eletrônico ocasionou um surto de lesões pulmonares nos Estados Unidos e cerca de 20 a 30 pessoas morreram por pneumonia inflamatória. Essa infecção ocorre pela ingestão desses diversos componentes químicos inalados na vaporização desses sais de nicotina ou líquidos contendo nicotina para os dispositivos eletrônicos de fumar".
O uso desses aparelhos também aumenta a chance de desenvolvimento de bronquites, desencadeamento de crises de asma e aparecimento de enfisemas pulmonares. Além desses riscos ao pulmão, o médico destaca também sintomas a curto prazo.
"A intoxicação por nicotina pode causar cefaleia, enjoo, náusea e insônia, além do vício, já que a nicotina traz uma sensação de prazer ao corpo e acaba sendo usada como uma válvula de escape, é uma armadilha. Provavelmente nos próximos anos saberemos de mais consequências ao corpo", explica.
Zé Neto destacou que a perda da voz em decorrência do uso do cigarro eletrônico trouxe significativas consequências ao seu quadro depressivo e Thiago explica que o vício tem uma relação muito próxima com a saúde mental, e com os cigarros eletrônicos, não é diferente.
"Estamos falando de uma substância altamente viciante em grande quantidade. Existe uma relação muito íntima entre a dependência e a psique, porque pacientes depressivos ou com transtorno de ansiedade tem maior facilidade a desenvolver vícios. Qualquer substância que traz um pequeno alento para aqueles sentimentos ruins acaba sendo uma bengala, um apoio, mesmo que temporário", diz.