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A microdosagem de Ozempic vem se tornando tendência para quem procura meios alternativos para perda de peso através do uso de medicamentos. O método ganhou força nas redes sociais - principalmente nos Estados Unidos - por aqueles que procuram pelos benefícios da semaglutida no tratamento contra a obesidade, mas que não querem sofrer com os efeitos colaterais do medicamento - que incluem náusea, vômito e diarreia.

Mas afinal, a microdosagem é eficaz? A GQ Brasil conversou com o Dr. Vinicius Carruego, ginecologista pós-graduado em Ciência da Obesidade e Sarcopenia, que explicou como o método funciona e quais são os riscos de adotá-lo no processo de perda de peso.

"Nas microdoses, o remédio que é para usar semanalmente, como é o caso da semaglutida, passa a ser fracionado em doses diárias", explica Carruego. "Há evidências na literatura científica que isso pode causar menos efeitos colaterais e trazer mais benefício ao paciente", conclui.

Além de um enfraquecimento dos efeitos indesejados do uso contínuo da droga em seu corpo, o médico cita ainda a diminuição mais significante das enzimas transaminases - produzidas pelo fígado de forma mais intensa quando há presença de gordura no órgão - na dose diária da semaglutida do que na semanal.

Os riscos do tratamento alternativo

Dr. Carruego traz um alerta para o cuidado redobrado no uso desses medicamentos em casa, principalmente quanto à higiene, armazenamento das embalagens (uma injeção de Ozempic tem validade limitada a 56 dias) e o risco de overdose.

"A pessoa tem que ter higiene com a agulha, trocá-las sempre que for fazer uma nova aplicação. Ela deve comprar mais agulhas na farmácia e não usar somente as quatro que vem na embalagem. Também deve-se guardar bem a caneta e não deixá-las acima da temperatura ambiente para não perder a ação do medicamento. Tem que ter cuidado para usar a dose certinha, para não arriscar ter uma overdose", detalha Dr. Carruego.

A GQ Brasil também entrou em contato com a Novo Nordisk, fabricante do Ozempic, que trouxe um alerta sobre o cuidado com as dosagens do remédio. A farmacêutica afirma que o Ozempic foi desenvolvido especificamente para o tratamento de diabetes tipo 2. Ela também mencionou o Wegovy, medicamento "irmão" do Ozempic, que contém o mesmo princípio ativo, mas é mais adequado para o tratamento contra obesidade e sobrepeso.

Isso se deve às diferenças nas concentrações de semaglutida nos dois medicamentos. Enquanto o Ozempic leva até 1,0 mg do princípio ativo por dose, o Wegovy pode ter até 2,4 mg de semaglutida a cada dosagem. A diferença reforça a necessidade de um uso adequado e específico para cada condição.

Em nota, a fabricante diz não recomendar o uso do Ozempic para além do que é indicado em sua bula. "A Novo Nordisk não endossa ou apoia a promoção de informações de caráter off-label de seus medicamentos, ou seja, em desacordo com a bula, e tampouco a automedicação, incluindo práticas como a microdosagem, que envolvem a administração de doses inferiores às recomendadas de acordo com os rigorosos estudos clínicos conduzidos pela empresa".

Ela também afirma que não há pesquisas que apontem benefícios em dosagens menores do que as indicadas na bula, mesmo na perda de peso: "Atualmente, não há estudos da Novo Nordisk que possam comprovar eficácia e segurança de dosagens de Ozempic menores que as doses de 0,25 mg, 0,5 mg e 1 mg disponíveis no mercado. Todos os estudos clínicos realizados até agora foram baseados nas doses aprovadas para o tratamento do diabetes tipo 2", diz a farmacêutica.

Resultados na prática

O tratamento alternativo ainda é um hábito pouco usado, limitado a pessoas com recursos para gastar com um medicamento que tem custos elevados no mercado, com preços que ultrapassam a faixa dos R$ 1 mil. Portanto, ainda não há comprovações do uso do tratamento em prática.

Harriet Walker, editora de moda do jornal The Times, fez uma experiência teste com a microdosagem da semaglutida para o veículo britânico, publicado no último dia 17. A jornalista diz ter atingido o objetivo de perder cerca de três quilos em apenas uma semana.

Com a experiência, ela passou a ingerir quantidades menores de alimento e perdeu a vontade de comer doces. Harriet também diz que quase não pensou em comida e que quando sentiu fome, optou por refeições mais leves e salgadas. A náusea, principal efeito colateral da medicação, apareceu de forma leve apenas no início do teste. Apesar disso, comenta que seus objetivos envolveram uma perda relativamente pequena de peso, com fim puramente estético, não ligado à saúde.

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