Primeira caneta injetável com finalidade única para emagrecimento, o remédio Wegovy, do mesmo fabricante do Ozempic, começou a ser comercializado neste mês de agosto após um ano e oito meses da aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Destinado para o tratamento de obesidade, o medicamento da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk utiliza a semaglutida - pertencente a classe de medicamentos chamada análogo do GLP-1 -como princípio ativo. Segundo a empresa, o Wegovy responde a uma redução média de 17% do peso, sendo que um terço desses casos apresentam redução superior a 20%, além de diminuição de 20% no risco de eventos cardiovasculares adversos maiores.
A novidade está sendo distribuída pelo país de forma gradual, mas já pode ser encontrada em farmácias por R$ 1.220 a R$ 2.380, a depender da dosagem e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços (ICMS). Ele é vendido apenas com prescrição médica (na modalidade tarja vermelha), por qualquer profissional da saúde.
Nesta terça-feira (27), a fabricante do medicamento reuniu um grupo seleto de imprensa na capital paulista para abordar o lançamento. A GQ Brasil esteve presente no encontro, que contou com a presença de representantes da Novo Nordisk.
Um deles foi o médico cardiologista José Francisco Kerr Saraiva. Segundo o pesquisador e professor titular de cardiologia na PUC Campinas, se trata de um marco no tratamento do sobrepeso. "No Brasil, a obesidade não é apenas estigmatizada, mas ignorada. Hoje, 80% da população brasileira não tem acesso a estratégias efetivas para o tratamento."
Diferença do Ozempic
O novo medicamento tem o mesmo princípio ativo, mas em concentrações diferentes. Enquanto o Wegovy pode ser encontrado por 2,4 mg de semaglutida por dose, o Ozempic vai até 1,0 mg por dose.
Além disso, agora há a indicação da bula para emagrecer. No Brasil e no mundo, o Ozempic virou febre de forma off label, pois é indicado para o tratamento do diabetes tipo 2. Porém, as semelhanças no tratamento são muitas.
Assim como o "irmão mais velho", o Wegovy deve ser injetado sob a pele uma vez por semana. As áreas recomendadas para a aplicação são as regiões do abdômen, coxa ou parte superior do braço, alternando os locais de aplicação a cada semana. Ele deve ser armazenado na geladeira.
O novo medicamento também deve ser tomado com acompanhamento médico e seu uso, escalonado de forma gradual conforme orientação de um profissional para evitar efeitos colaterais como náusea, diarreia, enjoo e constipação. A farmacêutica reforça que o uso do medicamento para fins estéticos somente não é recomendado. A dose inicial é de 0,25 mg e cada fase pode levar até 4 meses.
"A obesidade é uma doença crônica e precisa de atenção crônica. Isso significa que o paciente vai precisar usar o medicamento a vida inteira? A imensa parte das pessoas, sim. Mas o mais importante é que se tenha cuidado [com a saúde mental e estilo de vida] a vida inteira", disse Marcela Caselato, Diretora de Assuntos Médicos da Novo Nordisk.
Por mais que tenha a sua eficácia comprovada, o remédio enfrenta uma série de obstáculos, entre eles; a estigmatização gerada pelo uso indiscriminado do Ozempic e a falta de acessibilidade econômica por parte dos consumidores: levando-se em conta que o salário mínimo do brasileiro é R$ 1.412.
Para quem é indicado?
O remédio injetável é indicado para adultos com obesidade (IMC a partir de 30) ou sobrepeso (IMC a partir de 27) e comorbidades relacionadas ao peso, como pré-diabetes, diabetes mellitus tipo 2, hipertensão, dislipidemia, apneia obstrutiva do sono ou doença cardiovascular. Adolescentes a partir dos 12 anos com obesidade também têm direito ao tratamento com Wegovy.
A propagação do remédio com finalidade estética não é reforçada pela Novo Nordisk. No entanto, a farmacêutica explica qualquer profissional da área da saúde com CRM (Conselho Federal de Medicina) ativo, pode prescrever.
"De fato, o uso indiscriminado existe e não só no Brasil. Nos Estados Unidos, por exemplo, não há qualquer regulamentação. Já vi médicos prescreverem aplicação diária de Ozempic, sendo que é de uso semanal", comentou Saraiva.
Os riscos para a saúde, quando aplicado de forma indevida, envolvem "efeito rebote" (de ganha de peso), mal-estar gastrointestinal e estímulos a transtornos alimentares.
'Tratamento avançado para a obesidade'
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pessoa é considerada obesa quando seu Índice de Massa Corporal (IMC) é igual ou superior a 30 quilos por metro quadrado (kg/m²). A faixa de peso normal varia entre 18,5 kg/m² e 24,9 kg/m².
Uma pesquisa apresentada no Congresso Internacional sobre Obesidade de 2024 sugere que, aproximadamente metade dos brasileiros (48%) terá obesidade até 2044. Além disso, mais 27% terão sobrepeso, resultando em, dentro de 20 anos, 3/4 dos adultos com obesidade e sobrepeso. Atualmente, 56% dos adultos brasileiros apresentam a condição (34% com obesidade e 22% com sobrepeso).
"Existe um gap muito grande na saúde pública. Até então, tínhamos duas direções no tratamento da obesidade: dieta ou bariátrica. Nisso, você deixa uma população no meio do caminho sem opção. Foi onde quisemos entrar com o Wegovy", sintetizou Ricardo Castellani, Gerente Sênior de Comunicação da fabricante no Brasil.
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Vale dizer que em 2023, a Novo Nordisk faturou 33,7 bilhões de dólares, cerca de R$ 185 bilhões na cotação atual. O número teve um avanço de 30% em relação ao ano anterior, segundo o jornal The New York Times. Atualmente, Wegovy está disponível em mais de 10 países.