No que pensamos quando falam de férias no México? Provavelmente Tulum, a praia na Riviera Maia que tem bombado mais a cada ano, ou Mérida, o novo point gastronômico e cultural do país, ou Oaxaca, outra meca foodie cheia de americanos e europeus.
Entretanto, a capital, ou “el DF”, mais fria e árida que os destinos turísticos ao sul, é tão convidativa quanto eles, ou mais, para quem busca o melhor em arte, cultura e gastronomia. Especialmente o bairro Colonia Roma, que vive um boom de popularidade graças à charmosa arquitetura colonial e à panóplia de bons endereços para passear, comer e beber.
La Roma, como chamam a área, tem uma vibe totalmente diferente da do bairro de Polanco (com seus arranha-céus comerciais e redes hoteleiras, shoppings e condomínios de luxo). Os palacetes históricos com ares parisienses e as largas alamedas arborizadas nos fazem esquecer, quase, que estamos em uma megalópole latina.
As ruas se mostram mais calmas nesse antigo bairro high-society que entrou em decadência nos anos 40, ruiu parcialmente nos 80 após um terremoto e renasceu com a gentrificação da última década.
Uma nova geração de pintores, baristas, chefs, designers e gente criativa no geral foi restaurando e reocupando casarões onde hoje funcionam hotéis, galerias, lojas e bares. Com a pandemia, locais e estrangeiros se realocaram de apartamentos super urbanos para imóveis espaçosos em La Roma, o que acelerou a multiplicação de negócios bacanas quando tudo reabriu.
Em fevereiro, ouve-se quase mais inglês do que espanhol nas ruas, quando ocorre a feira de arte Zona Maco, a maior da América Latina, e fervilham as galerias.
Inaugurada em 1983 em um casarão em frente à praça Rio de Janeiro, a mais icônica do bairro, a pioneira OMR migrou em 2015 para um galpão brutalista próximo dali e logo se consagrou como uma referência para colecionadores e curadores de arte.
Gastronomia estrelada
Nos cafés e restaurantes da região, sente-se o clima artístico. Em geral, os turistas em bando dão lugar a jovens modernos e a um pessoal estiloso. Muitos dos próprios cafés, como o Lalo! e o Café Tormenta, são hipsters, com chaleira e filtro japoneses, grãos de microlotes e pães e bolos orgânicos ou veganos.
Os bares, idem. Vide a Mezcaleria Tleclan, especializada no destilado primo da tequila, e a Licorería Limantour, que, segundo a crítica gastronômica Liliana López, “faz uma coquetelaria muito elegante”.
O QG dos modernos surge no badalado restaurante La Docena, famoso pelos excelentes frutos-do-mar e peixes. Vive cheio de gente cool (muitos DJs e músicos) falando línguas diversas; a animação esticando para o terraço.
Ali quem manda é o chef Tomás Bermudez, um dos caras mais conectados e festeiros da cidade, cujos sócios, Alejandro de la Peña e Claudio Javelly, se mostram ávidos viajantes e colecionadores de arte. Anfitriões imbatíveis.
Outro chef que faz sucesso há anos no bairro é Lucho Martinez, dos restaurantes EM (cozinha autoral mezzo mexicana, mezzo japonesa) e Ultramarinos (brasserie do mar com lagostas na grelha e peixes no sal), entre outros.
O famoso Rosetta
No entanto, a rainha da gastronomia em La Roma é Elena Reygadas, eleita a melhor chef do mundo (mulher) pelo ranking The World’s 50 Best Restaurants em 2023. Seu Rosetta, de cozinha autoral (que detém a 49ª posição na mesma lista), ocupa uma mansão histórica. “Queria um lugar acolhedor, onde a pátina do tempo pudesse ser sentida”, diz. “Moro aqui e gosto da vidinha de bairro, das árvores e das praças, de ir e vir a pé.”
Em frente, abriu a Panaderia Rosetta. Há longas filas por uma mesinha, de tão bons que são os cafés da manhã, brunches e a pâtisserie. Ao lado, em outra mansão linda, fica o Brick, diminuto cinco-estrelas. Pequenez e charme são atributos que os hotéis dali têm em comum, desde os mais acessíveis, como o Aria e o Parián, até o chique Ignacia Guest House, onde cada suíte traz cores e estilos diferentes. A melhor novidade é o descolado Colima 71, de dezesseis apartamentos, cheio de arte contemporânea.
Felizmente, esses espaços vivem em perfeita simbiose com o lado popular do bairro, com taquerias, barracas de rua e o deliciosamente exótico Mercado Medellín. No caleidoscópio de verduras, peixes, frutas e bugigangas, encontram-se espaços simples onde se almoça por tostões. Em frente fica a galeria e butique de moda Korimi, um de tantos contrastes por lá.
Bons restaurantes antigões, caso do templo carnívoro El Hidalguense, não só persistem como prosperam. Há mais de trinta anos servem carnes assadas em fornos enterrados com molhos divinos, porco cozido a fogo lento e caldinho de carne cura-ressaca.
Os contrastes se repetem nas taquerias. Existem tanto as de estilo novo, como a Tizne Tacomotora (com recheios inusitados, como churrasco coreano ou barbecue de costela defumada), como as tradicionais, do naipe de El Jarrocho (tacos de guisados) e El Peribán (onde o porco virou o protagonista).
La Roma é isto: a expressão perfeita de um destino exoticamente hi-lo.