Paul Mescal sabe que na vida, assim como em batalha, não existe o momento perfeito. O ator irlandês estava mergulhado até os joelhos em uma produção de A Street Car Named Desire, do West End, quando recebeu um telefonema de Sir Ridley Scott pedindo-lhe que calçasse as sandálias de Gladiador 2.
Quando percebeu que tinha apenas 12 semanas até o início das filmagens, Mescal procurou Tim Blakeley, um ex-membro da Marinha hoje fisiculturista e personal trainer para estrelas. Blakeley não tem apenas experiência em deixar em forma pessoas como John Boyega e Gerard Butler, mas sua academia Media Physiques, no Soho, também era bem próximo de onde Mescal se apresentava seis noites por semana.
"Nós nos encontramos em um hotel e nos demos bem", diz Blakeley. "O objetivo era [para Mescal] ganhar tamanho e ficar mais forte. Ele não queria seguir o caminho da Marvel de parecer cartunesco - estávamos pensando num perfil jogador de rugby de retaguarda; forte, em forma, rápido e ágil como um decatleta."
Depois de esfregar a areia do chão do Coliseu nas mãos (não vamos desistir da metáfora), os dois apertaram as mãos e ali nasceu uma linda parceria.
"Paul é um atleta", diz Blakeley. "Ele jogou futebol gaélico em alto nível. Eu joguei rúgbi em alto nível e a força e o condicionamento não eram tão regulamentados quanto as de Paul, então de partida ele já estava realmente consciente de seu próprio corpo."
A rotina de 12 semanas de Paul Mescal para Gladiador 2
Decidir fazer uma sequência de Gladiador exige muita pressão. O diretor Ridley Scott brincou com a ideia desde a época do original, em 2000. Para Mescal, o filme tem potencial para levar sua carreira para o próximo nível – assim como aconteceu com Russell Crowe, que ganhou um Oscar por sua atuação.
Em retrospecto, pelos padrões dos sucessos de bilheteria de hoje, o físico de Crowe era muito mais possível para um cara comum. A abordagem de Mescal para ficar sarado foi na mesma toada - parte pela proposta, e parte por ter sido limitado ao que seria possível crescer em 12 semanas.
Ele e Blakeley começaram a trabalhar treinando cinco ou seis dias por semana - Mescal ia para suas apresentações noturnas de teatro logo em seguida. Eles começaram fazendo um treino push/pull/legs padrão, se focando em repetições curtas e intensas, enquanto Mescal ainda trabalhava no West End. Quando sua atenção se voltou para ser um gladiador em tempo integral, Blakeley aumentou a intensidade para uma parte do corpo por sessão, cinco dias por semana.
"Obviamente as coisas se misturam muito", explica Blakeley. "Você trabalha os ombros nos dias de peito, os tríceps nos dias de ombros e peito, e os bíceps nos dias de costas."
Depois de um aquecimento com pesos intermediários, eles iniciavam duas rodadas de levantamentos pesadas por exercício - um luxo permitido a eles pelo já sólido preparo físico de Mescal. "Podemos adicionar drop-sets de vez em quando", diz Blakeley - uma técnica que envolve a realização de uma série de exercícios até atingir a falha muscular, reduzindo imediatamente o peso e repetindo o mesmo exercício. "Fazemos um drop-set triplo no supino, por exemplo."
O dia de pernas não foi ignorado
Depois de correr pelo palco todas as noites - e depois filmar sob um calor de 40 graus em locações no norte da África - Mescal já estava em boa forma, então eles abandonaram o cardio. O que não quer dizer que suas pernas descansaram.
“Muitos atores pulam o leg day, mas ele foi muito importante para nós”, diz o personal. “Se você está correndo em uma arena, precisa de pernas grandes e poderosas. Também ajuda na sua postura. Queríamos que ele entrasse naquela arena de forma poderosa, e foi o que ele fez.”
As pernas também cumprem papel na força dos golpes – para atacar com espadas e tal. Aparentemente, o treinador acertou em cheio: em entrevista, o coadjuvante Pedro Pascal chamou o desempenho de Mescal de “brutal” e supostamente implorou para que pegasse leve com ele durante as cenas de luta, dizendo que “preferia ser jogado de um prédio” do que lutar contra Mescal novamente.
Quanto ao trabalho de dublê, o treinador deixou tudo nas mãos da coordenadora Nikki Berwick, confiando em sua experiência e na capacidade atlética de Mescal para garantir que ele tivesse tamanho, mas também mobilidade, necessários para superar um inimigo ou um rinoceronte em ataque.
“Balançar uma espada nunca foi um problema para mim ou para ele”, diz Blakeley. “Não precisávamos nos preocupar com isso porque sabíamos que Nikki cuidaria disso. Ela e eu tínhamos um plano combinado.”
Dieta de gladiador
Em termos nutricionais, Mescal foi fiel à boa e velha receita: ovos, frango, carne bovina, arroz, peixe e assim por diante. Com uma ressalva.
“Houve algumas negociações com Paul”, diz seu personal. “No início, ele me disse: ‘Estou avisando, eu bebo e fumo'. Ele percebeu que teria que reduzir isso, mas queria trabalhar em horários em que pudesse tomar alguns drinks aqui e ali.”
Blakeley não viu isso como um problema, adaptando algumas cervejinhas à dinâmica de calorias ingeridas e eliminadas. “Se você estiver preparado para outros sacrifícios, é algo que podemos fazer”, foi sua resposta ao ator.
Chegou ao ponto em que Mescal não apenas contaria a Blakeley quantas bebidas ele havia tomado desde a última sessão, mas também perguntaria quantas bebidas sua sessão atual lhe permitia naquela noite - um nível de honestidade revigorante para os clientes célebres de Blakeley.
“Seu corpo simplesmente absorveu [a comida]”, diz Blakeley. “Ele estava ganhando massa magra enquanto perdia peso.”
Apesar da ocasional cerveja e cigarro, Blakeley diz que Mescal é um “cliente dos sonhos”: nunca se atrasa, está sempre comprometido e sempre deixa o celular no vestiário. Na verdade, ele se tornou tão aficionado por exercícios que Blakeley se lembra de Mescal corrigindo seu irmão quando os três treinavam juntos.
A única ressalva era que Mescal precisava saber com antecedência quão tortuosos seriam os treinos. “O cérebro de Paul precisa saber o que ele precisa fazer antes de começar”, ri Blakeley. “Haveria uma negociação de cinco minutos sobre o que faríamos em cada sessão, e uma vez que ele colocasse isso na cabeça, ele baixava a cabeça e pronto.”
Durante as filmagens no Marrocos, eles finalmente incluíram algum trabalho de corrida nas sessões. Blakeley diz que Mescal naturalmente deu tudo de si. “Na verdade, tive até que segurá-lo”, comenta. “Quando ele faz alguma coisa, faz 110%, e eu só queria 80%, para ele não se machucar.”
As dicas de exercício do treinador de Paul Mescal
Blakeley é enfático: todo mundo é diferente, e é improvável que você A) esteja com um prazo tão curto quanto Mescal ou B) treine para lutar contra tubarões em uma arena inundada. Com isso em mente, ele sugere que você siga as usuais quatro a cinco séries de dez repetições dos exercícios abaixo, baseadas no treino diário de peito de Paul Mescal.
“Eu sempre começo pela parte superior do tórax, porque sinto que ela é mais difícil de conseguir e a maioria dos caras precisa de mais desenvolvimento da parte superior do que da inferior”, diz o especialista.
Então, vamos começar com:
- Supino inclinado
Coloque um banco em um ângulo de 45 graus e pegue uma barra ou halteres. Empurre o peso para cima, mantendo o movimento lento e constante ao norte dos mamilos, de forma a trabalhar a parte superior do peitoral. Agora que estamos aquecidos, vamos a: - Supino
Abaixe o banco até ficar plano e repita, desta vez mantendo o peso alinhado com os mamilos para atingir a frente do peito. Novamente, ser lento e constante é o melhor, especialmente se você estiver pesado. - Afundos
Faça afundos como de costume, mas em vez de se manter em pé e com o ocorpo reto, desta vez você vai se inclinar para frente para que seu movimento descendente realmente abra o peito, forçando-o a trabalhar tanto quanto o tríceps. - Crucifixo inclinado na polia baixa
Arraste a bancada até a máquina de cabos e configure-a como antes. Com as alças ligeiramente abaixadas, você passará os cabos pelo corpo, na frente do peito. Usar cabos em vez de halteres aumenta a tensão, forçando você a trabalhar ainda mais para estabilizar o movimento. - Crucifixo inclinado na polia alta
O próximo movimento é praticamente o mesmo, mas muda o plano dos braços para ficar mais baixo do que em uma série inclinada. Para fazer isso, mova os cabos para cima, de modo que você os puxe para baixo e através do peito em direção à cintura, em vez de um em direção ao outro para se encontrarem no meio, conforme o conjunto anterior.
Trabalhe o que foi dito acima em seu treino uma vez por semana e você construirá um baú que rivalizará não apenas com o de Mescal, mas também com todo o exército romano.
* Leia o original na GQ UK