Nascido em 1924 no Harlem, James Baldwin é o homenageado nesta quinta-feira (01) com o doodle do Google, no contexto do centenário de seu nascimento. Baldwin escreveu um conjunto de livros (ficções e não-ficções) que costuram relatos históricos com aquilo que ele próprio viveu na pele, como negro, gay e filho de família religiosa.
Frutos de uma mente que negava rótulos e saídas fáceis. O resultado, como já disse Djamila Ribeiro à revista Quatro Cinco Um, "devolve ao seu leitor negro, e a qualquer leitor, a virtude patológica de encarar sua pele como um problema sem solução".
A lista abaixo é apenas uma sugestão para começar a ler Baldwin, um projeto que no Brasil, pode não ser simples. Apenas uma parte da obra do autor foi publicada no Brasil, através de editoras como a Cia. das Letras e Nova Fronteira. As nossas sugestões tentam trazer livros de maior disponibilidade na medida do possível. Finalmente, vale também conferir nossas dicas para se aprofundar na literatura negra brasileira.
Terra Estranha (Cia. das Letras)
Uma ficção energética de mais de 500 páginas, Terra Estranha também é boa pedida se você estiver procurando uma leitura de fôlego para se dedicar durante o distanciamento social. Nele, o autor destila através de uma série de personagens instigantes da cena musical novaiorquina suas sensações pessoais de não-pertencimento e uma discussão ampla a respeito do amor, que atravessa raça e gênero.
Da Próxima Vez, o Fogo (Biblioteca Universal Popular)
Obra seminal do escritor, essencial para entender o racismo nos EUA e um dos livros de cabeceira do ex-presidente estadunidense Barack Obama, Da Próxima Vez, o Fogo também é o volume mais complicado de achar nesta lista. Publicado no Brasil em 1967 pela Biblioteca Universal Popular, é desses para se cavar em algum bom sebo, ou importar através de sua livraria de escolha. A busca vale a pena.
O livro reúne dois ensaios que partem do próprio Baldwin e sua família para registrar as dinâmicas de raça, religião e identidade. O primeiro é uma carta endreçada a seu sobrinho de 14 anos esmiuçando a história negra nos EUA. O segundo, um relato que vai da juventude do autor no seio do cristianismo ao islamismo no Harlem. Ambos, originalmente publicados no New Yorker e reunidos em um único volume, abrem uma conversa franca sobre a vida negra no país.
Se a Rua Beale Falasse (Cia. das Letras)
Do mais complicado de achar, vamos a outra obra que é na verdade bem acessível. Se a Rua Beale Falasse não é apenas um dos livros publicados no Brasil pela Cia. das Letras, como também foi adaptado aos cinemas em 2018.
Filme e livro narram os impactos de uma sentença injusta na vida de um casal jovem, e como suas tentativas de retornar à normalidade e se conciliar com um futuro incerto são constantemente frustradas pelo racismo e pela desigualdade. Assunto não exatamente confortável na década de 70, e que continua importante em um país cuja população carcerária está entre as maiores do mundo.
O quarto de Giovanni (Cia. das Letras)
Junto de Terra Estranha, este é um outro livro do autor mais popular no Brasil. É também uma excelente porta de entrada a sua obra: afinal, lançado em 1956, é apenas seu segundo romance. O livro se passa em Paris, na França, cidade querida por Baldwin, e tem como alicerce as tensões de um casal bissexual: o jovem americano David, em visita à França e considerando um casamento com sua namorada, Hella, conhece e se apaixona pelo garçom Giovanni. A descoberta desenterra assuntos que vão do estremecimento de laços íntimos aos desejos frustrados.
Marcas da Vida (Editora Nova Fronteira)
É talvez preciso passear por alguns sebos para encontrar esse volume, mas a busca é para lá de válida. Se a cultura racista estadunidenses dos anos 50 e 60, que obrigava viajantes negros indo pelo sul do país a evitar cidades e se restringirem a toques de recolher, foi o que chamou sua atenção na série Lovecraft Country e, claro, no longa Green Book, este é o mesmo pano de fundo de Marcas da vida.
Escrita por Baldwin nos anos 70, a história é sobre Arthur Montana, homem negro gay de Harlem e um astro da música gospel. Sua trajetória é narrada pelo seu irmão mais velho, Hall, que acaba por estabelecer uma proximidade desconfortável com a fama por vezes perigosa de Arthur e seus abalos com a fé cristã.
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Eu Não Sou Seu Negro
O documentário Eu Não Sou Seu Negro, de 2016, é um excelente ponto de contato com Remember This House, um manuscrito inacabado de Baldwin. Nele, o autor tece uma reflexão pessoal sobre os assassinatos de Martin Luther King Jr., Malcolm X e Medgar Evers, ícones da causa negra nos EUA, passando pelas lutas sociais nos anos 60 e seus impactos na cultura pop. O documentário, narrado por Samuel L. Jackson, usa unicamente as palavras escritas por Baldwin, contextualizando-as com imagens históricas e atuais.