Receitas
Por — Florianópolis

Com a proximidade do Natal, uma pergunta sempre causa polêmica nas conversas em família: colocar ou não uva-passa nas comidas da ceia? A fruta seca é amada por muitos, mas odiada por outros na mesma intensidade quando aparece no panetone, na maionese, no salpicão, na farofa ou junto do arroz branco.

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Engana-se quem pensa que ela é apenas mais um ingrediente de tantos pratos natalinos. A uva-passa representa uma parte da história da humanidade, conta Berenice Giehl Zanetti, professora do curso de panificação e confeitaria internacional do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC).

Segundo a especialista ouvida pela Globo Rural, as pesquisas indicam que o consumo teria começado há mais de 4 mil anos no Oriente Médio.

“As frutas secas, e aqui incluo, além da uva, a tâmara, o damasco e o figo, são utilizadas desde a Antiguidade na alimentação desses povos porque eram muito cultivadas por lá”, diz.

Antes de polemizar os encontros de família na atualidade, a uva-passa tinha uma função importante: substituir o açúcar, produto encontrado em pouca quantidade e também caro na época.

“Assim como aconteceu na descoberta da fermentação do pão, alguém pode ter deixado um pouco de uva no sol e, ao invés de estragar, ela secou. Ali, passaram a ver a secagem como uma forma de conservação e de adoçar pratos. O pão doce não existia sem a uva-passa ou ele não seria doce”.

A popularização da uva-passa

Com o passar do tempo, o ingrediente atravessou fronteiras e foi incluído nas receitas das preparações festivas da Europa, principalmente as sobremesas, também com a ideia de ser um substituto natural para o açúcar.

Já no Natal, o uso representava o nascimento de Jesus, que aconteceu em Jerusalém, no Oriente Médio, mesma região em que a uva na forma desidratada começou a ser consumida

“Esse alimento foi escolhido porque remetia àquela área específica e passou a ser ainda mais usado como uma simbologia religiosa de trazer a figura de Jesus Cristo para mais perto”, conta a professora do IFSC.

Depois do costume se espalhar pelos países europeus, os colonizadores trouxeram a uva-passa à América. E, assim como no Velho Continente, ela tornou-se popular, especialmente na época do Natal.

Quase 100% das uvas-passas consumidas no Brasil são importadas — Foto: freepik
Quase 100% das uvas-passas consumidas no Brasil são importadas — Foto: freepik

De onde vem a uva-passa?

Apesar da presença nas celebrações de fim de ano dos lares brasileiros, quase 100% das uvas-passas consumidas no país são importadas. De acordo com o portal Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, o Brasil importou 22 milhões de quilos da Argentina em 2024, quase 80% dos 28,25 milhões de quilos compradas do exterior pelo mercado brasileiro.

Uzbequistão (1.680.000), Índia (1.206.998), Irã (1.192.500) e Chile (951.280) também forneceram o produto entre janeiro e novembro. A busca no mercado internacional tem uma explicação: o Brasil não apresenta condições climáticas propícias para a produção.

“O ideal seria o clima quente e seco, mas a alta incidência de chuvas nas regiões brasileiras produtoras de uva torna impraticável o processo de secagem ao ar livre, que precisa de 15 dias ininterruptos”, destaca Reginaldo Teodoro de Souza, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

O processo que transforma a uva em uva-passa não tem adição de açúcar em nenhuma das etapas. Conforme Berenice Zanetti, a técnica que retira o líquido auxilia o açúcar natural presente na fruta a se sobressair e deixá-la adocicada para o consumo.

“Enquanto a água evapora durante a desidratação, o açúcar fica ainda mais concentrado”, finaliza.

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