O Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) decidiu abrir investigação sobre a possível prática de dumping na exportação de leite em pó da Argentina e do Uruguai para o Brasil. Mais Sobre Leite Gripe aviária atinge mais de dois terços de fazendas leiteiras da Califórnia Envolvidos em caso de adulteração de leite com soda cáustica no RS são denunciados Continuar lendo O processo atende a um pedido feito pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) em agosto deste ano após a criação, pelo governo argentino, de um programa de fomento ao setor no país. A medida, segundo a CNA, “concedeu subsídios diretos à produção de leite argentino, gerando artificialidade na competitividade de preços”. De acordo com números levantados pela CNA, o Brasil importou o equivalente a 1,4 bilhão de litros de janeiro a novembro deste ano. Desse total, 760 milhões de litros foram da Argentina, 566 milhões do Uruguai e 97 milhões do Paraguai. "Provas contundentes" Em conversa com o Valor, o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, afirmou que há provas contundentes de dumping praticado pela Argentina e Uruguai, mas evitou projetar os efeitos da investigação. O governo brasileiro também vai apurar os possíveis efeitos do eventual dumping e do aumento das importações de leite em pó nas vendas e na lucratividade dos pecuaristas brasileiros. Para isso, o MDIC vai solicitar informações aos exportadores argentinos e uruguaios. A resposta deve chegar em 70 dias. Importadores brasileiros também responderão a questionários e os governos dos países vizinhos serão notificados sobre o processo para acompanhamento e eventual manifestação. Segundo a diretora do Departamento de Defesa Comercial da Secex, Rafaela Noman, também devem ser realizadas auditorias in loco nas empresas exportadoras de Uruguai e Argentina para atestar a veracidade das informações compartilhadas com o governo brasileiro. “É um processo bastante comum (...) Há constatação de indício, agora é o início do procedimento administrativo”, ressaltou. Outra possibilidade é de que os produtores brasileiros abram um pedido de “direito provisório”, uma espécie de medida liminar aplicada antes do fim da conclusão da investigação para preservar o setor nacional de possíveis danos no comércio. Caso apresentada pela CNA, a medida será analisada pela Câmara de Comércio Exterior (Camex), conselho composto por dez ministros de Estado. Por enquanto, o MDIC ressalta que, apesar dos indícios, ainda não há conclusão sobre práticas desleais nas exportações do produto dos países vizinhos. De acordo com a secretária de Comércio Exterior da pasta, Tatiana Prazeres, a investigação antidumping é o “único remédio” possível em situações como esta, já que não há taxa de importação no comércio intrabloco. Ela lembra ainda que a Argentina também exerce direitos aplicados contra exportações brasileiras. “Estamos tratando do tema de maneira técnica. É normal que países que têm esse fluxo de comércio lidem com essas situações”, afirmou à reportagem. A investigação pode durar de 12 a 18 meses. Caso confirmado o dano ao setor produtivo brasileiro e o dumping, a Secex encaminhará recomendações para avaliação da Camex. Nessa hipótese, a decisão pode ser pela aplicação de uma sobretaxa “que seja suficiente para neutralizar a prática desleal de comércio”, afirmou. Outras investigações A abertura do processo de investigação não é inédito. O Brasil já teve direitos aplicados contra a importação de leite em pó de algumas origens, como Argentina, Uruguai, Austrália, União Europeia e Nova Zelândia A vigência mais recente das sobretaxas foi encerrada em 2019 e, desde então, não houve denúncias do setor até a petição apresentada em agosto deste ano pela CNA. Atualmente, o único produto do agronegócio com direito antidumping aplicado em vigor é o alho para importações da China. Mais recente Próxima Sindilat repudia adulteração de lácteos com soda cáustica feita por indústria do RS