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A reeleição de Donald Trump para a casa branca é objeto de muitas especulações sobre como será o futuro nos próximos quatro anos, baseadas no que foram os quatro anos de seu primeiro mandato, e nas suas promessas de campanha para este segundo.

O setor do agronegócio brasileiro tem uma lembrança razoavelmente boa daqueles anos de 2016/2020, quando a guerra comercial entre os EUA e a China proporcionou um aumento significativo das exportações brasileira para este último país, consolidando a China como maior parceiro comercial do Brasil.

Se a soja e o algodão foram os maiores beneficiados naquele momento, o setor sucroalcooleiro teve que amargar um aumento da quota de importação do etanol estadunidense como resultado da política agressiva dos EUA e o alinhamento do governo brasileiro da época.

Frederico-Favacho-Vozes-do-Agro — Foto: Globo Rural
Frederico-Favacho-Vozes-do-Agro — Foto: Globo Rural

De toda forma, o cenário não deve se repetir nesta nova gestão Trump. Não que o prometido protecionismo estadunidense não vá ocorrer, pelo contrário, deve ser medida adotada logo nos primeiros dias do novo governo o aumento das tarifas sobre os produtos chineses, a mesma política que levou à guerra comercial do primeiro mandato Trump. Acontece que agora o cenário mundial é outro.

Por um lado a China deverá ser mais cautelosa nas negociações diplomáticas com os EUA em razão de sua situação econômica atual e necessidade de manter exportações para aquele país, principalmente de seus carros elétricos que serão claramente visados pela nova política protecionista dos EUA.

Ao mesmo tempo, a China, que está buscando consolidar sua hegemonia global, buscará fortalecer sua relação comercial com os países do BRICS estendido e os demais países do sul global, o que deve significar também mais cautela dos chineses em depender das commodities brasileiras.

A possibilidade do encerramento da guerra entre Rússia e Ucrânia, com a anexação dos territórios ucranianos pela Rússia a partir do encerramento do apoio econômico dos EUA ao governo Zelenski, abrirá caminho para uma cooperação ainda maior entre China e Rússia e o acesso da China às commodities produzidas na Ucrânia, grãos principalmente.

Por outro lado, os EUA buscarão concorrer com a soja e o algodão brasileiros nos novos mercados recém conquistados pelo Brasil, como forma de compensar a perda do mercado chinês.

Outro ponto importante de atenção para os produtores brasileiros será o da sustentabilidade. Em razão da clara opção trumpista pelo desenvolvimento dos EUA pelos meios tradicionais da indústria de combustível fóssil, o novo governo terá pouco ou nenhum apreço pelos temas ambientais, dobrando a aposta feita no primeiro governo, quando Trump retirou os EUA do Acordo de Paris.

A reação virá, especialmente da Europa que deverá usar este pretexto para reafirmar interna e internacionalmente o seu Green Deal, tema que deverá ser politicamente quente naquele continente pelos próximos anos.

E neste tema a China deverá pegar carona também, promovendo-se como um país menos poluidor e mais sustentável e fazendo coro aos movimentos internacionais por sustentabilidade, como forma de legitimar sua nova posição hegemônica global também por este viés.

Este cenário aumenta a pressão sobre o produtor brasileiro que, a despeito de ser altamente sustentável, tem sido reiteradamente o alvo de críticas em relação ao desmatamento da Amazônia.

Finalmente, as análises econômicas baseadas nas promessas de campanha de Donald Trump, sejam elas as tarifas de importação, a deportação em massa e novos cortes de impostos, indicam que os EUA terão inflação nos próximos anos e que precisarão aumentar juros para combatê-la o que deve atrair divisas para o país e valorizar o dólar em países como o Brasil, tornando os insumos importados mais caros.

Com fertilizantes e agroquímicos mais caros, porque dolarizados, e commodities em valores mais baixos (seja porque historicamente os valores estão caindo, seja porque a demanda chinesa dos produtos brasileiros pode arrefecer), as margens dos produtores serão muito menores do que nos últimos anos.

*Frederico Favacho é sócio de agronegócios do Santos Neto Advogados.

OBS: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural.

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