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O agronegócio desempenha um papel fundamental na economia e na sociedade brasileira, tornando indispensável sua visibilidade estratégica. O setor representa cerca de um quarto do PIB nacional, segundo a CNA, e 1 a cada 3 empregos no país está ligado, direta ou indiretamente, ao agronegócio. No entanto, apesar de sua relevância, a compreensão e a aplicação do marketing no agro, por parte das entidades representativas do setor, ainda são limitadas.

A definição de marketing, segundo a American Marketing Association (AMA), é a “atividade, conjunto de instituições e processos para criar, comunicar, entregar e trocar ofertas que tenham valor para clientes, parceiros e a sociedade em geral.” No entanto, a percepção de muitos líderes do agronegócio não reflete essa complexidade. O marketing é frequentemente confundido com comunicação ou vendas, perdendo-se o potencial estratégico que poderia alavancar o setor.

Essas constatações foram originadas em uma dissertação apresentada à Universidad de La Empresa, no Uruguai. O estudo entrevistou sete lideranças do agronegócio brasileiro, buscando entender como esses líderes e suas associações interpretam e praticam o marketing. Em muitas instituições, o setor de marketing é visto apenas como responsável por gerir redes sociais; em outras, ele é confundido com as atividades de assessoria de imprensa ou até subordinado ao departamento de vendas. Essa confusão revela uma visão superficial do marketing, limitando sua aplicação à execução de ações táticas, em vez de abordagens estratégicas que entreguem valor sustentável ao mercado.

 — Foto: Globo Rural
— Foto: Globo Rural

O estudo contrapõe autores que já destacaram a importância de separar marketing de comunicação e vendas. O marketing é uma ciência social que tem como objetivo compreender necessidades e desejos, além de criar valor para todos os envolvidos; entretanto, na prática, as associações mal conhecem seus representados em profundidade. Outro fator crítico é o poder decisório do marketing institucional, frequentemente concentrado nas mãos dos dirigentes das entidades, o que interfere no processo.

Na prática, as instituições representativas sabem pouco sobre quem realmente representam: qual o perfil, as dores, a faixa etária de seus públicos. E quando essas informações básicas são conhecidas, as ações para contribuir e representar não são quantitativas nem qualitativas. O “marketing”, da forma como é desenvolvido, mostra maior preocupação com curtidas no Instagram do que com a percepção da instituição perante seus clientes, o próprio produtor rural.

Um exemplo dessa limitação é a tendência das campanhas se limitarem ao curto prazo, com foco em resultados imediatos. Porém, o verdadeiro potencial do marketing está na construção de relacionamentos e na promoção de valores de longo prazo. Nesse contexto, Freytag destaca que um uso estratégico do marketing pode fortalecer a identidade das marcas e instituições, consolidando a confiança entre produtores e consumidores.

Para ilustrar, é possível observar o caso de uma cooperativa agrícola que, ao investir apenas em mídia social e não integrar outras ferramentas de marketing, perde a oportunidade de gerar um engajamento mais profundo com seus clientes e stakeholders. Enquanto, em empresas de outros setores, o marketing é visto como uma área integrada e estratégica, no agronegócio ele ainda é fragmentado, carecendo de uma visão mais abrangente e conectada com as melhores práticas de mercado.

O desafio do setor agropecuário é reconhecer a necessidade de profissionalizar e ampliar o papel do marketing. Para isso, é essencial que os dirigentes compreendam a importância de delegar a especialistas e alinhar as estratégias às reais necessidades do mercado. Quando bem executado, o marketing no agronegócio tem o potencial não apenas de melhorar a imagem institucional, mas também de educar e sensibilizar o público sobre a importância da produção rural para a economia e a sociedade.

Em resumo, o agro sabe pouco de marketing e investe proporcionalmente a esse conhecimento. O entendimento entre as instituições sobre esse setor não é homogêneo; cada uma compreende e executa o marketing à sua maneira. Superar essa barreira é essencial para que o setor alcance novos patamares e contribua de forma ainda mais efetiva para o desenvolvimento do Brasil. Afinal, marketing não é apenas promover imagem e produtos, mas também criar e entregar valor em todas as interações com o mercado e com seus representados.

*Diego Silva é técnico em agronegócio, jornalista, mestre em marketing e CEO da Agro Agência Assessoria

OBS: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural.

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