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Há 10 anos, quando visitei a Feicorte, saí impressionado com a grandiosidade do evento. Era um momento em que a pecuária brasileira estava em franca expansão, com foco na produção em larga escala e em levar quantidade ao mercado. Os corredores estavam lotados, os leilões fervilhavam, e a promessa de modernização passava por máquinas, raças novas e genética de ponta. Era uma época de otimismo, mas também de um setor menos pressionado por questões ambientais e de rastreabilidade.

Na última semana, ao participar da retomada do evento, que passou por um hiato de dez anos, percebi o quanto as coisas mudaram — tanto na feira quanto na pecuária brasileira como um todo. Não havia a mesma grandiosidade de antes, e talvez isso seja o reflexo dos tempos. Hoje, a pecuária está mais técnica, mais focada em qualidade do que em quantidade. Isso, no entanto, não diminui a relevância do evento. Pelo contrário, ele reflete um setor que teve que se reinventar diante de desafios globais.

A pecuária de 2024 opera em um ambiente de alta competitividade e cobranças. A declaração do CEO do Carrefour francês de que a rede não comprará mais carne do Mercosul não surpreende, mas preocupa. Não pela qualidade do nosso produto, que é inquestionável, mas pela falta de entendimento sobre os avanços que fizemos. O protecionismo europeu continua sendo uma barreira, e essa é apenas mais uma das lutas que enfrentamos para mostrar ao mundo que nossa carne é não apenas sustentável, mas indispensável para alimentar o planeta.

Henrique Cetemacci Vozes do Agro — Foto: Globo Rural
Henrique Cetemacci Vozes do Agro — Foto: Globo Rural

Como produtor e parte de um processo de sucessão rural, vejo essas mudanças de perto. Nos últimos 10 anos, a gestão na fazenda precisou mudar e quando entramos em 2019, tivemos essa certeza ainda mais real. A demanda por eficiência nos obrigou a adotar práticas mais sustentáveis, desde o manejo de pastagens até a utilização de genética avançada. Já não basta produzir bezerros de qualidade; é preciso garantir que eles tenham origem rastreável e sejam criados de maneira responsável. A tecnologia e o conhecimento se tornaram ferramentas essenciais para manter a rentabilidade e atender às exigências do mercado.

A Feicorte, hoje, simboliza essa transformação. Menos grandiosa, talvez, mas mais alinhada com os desafios reais que enfrentamos. É um espaço para troca de experiências, onde se fala mais de integração lavoura-pecuária-floresta e menos de expansão territorial. Essa é a nova cara da pecuária brasileira: resiliente, inovadora e conectada às demandas globais.

Dez anos depois, saio da Feicorte com um sentimento diferente. Não é mais o deslumbramento de quem vê um setor em expansão. É a confiança de que, mesmo diante de desafios internos e externos, a pecuária brasileira continuará avançando. Não pelo tamanho, mas pela força e determinação de quem trabalha todos os dias para produzir com responsabilidade e excelência.

*Henrique Catenacci é pecuarista e diretor da Fazenda 3R.

OBS: As ideias e opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva de seu autor e não representam, necessariamente, o posicionamento editorial da Globo Rural.

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