Um Só Planeta
Por — Ponta Grossa (PR)

A forma como o solo é utilizado influencia diretamente na sua qualidade, que pode ser enriquecida ou degradada de acordo com as práticas adotadas. E a sua preservação está ligada a questões vitais para a humanidade. “A saúde do solo é fundamental tanto para a segurança alimentar quanto para a sustentabilidade ambiental”, avalia o engenheiro agrônomo Oromar João Bertol, doutor em Engenharia Florestal e diretor do Núcleo Estadual Paraná da Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (Nepar-SBCS).

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Há 10 anos, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a Década Internacional do Solo - 2015 a 2024 -, enquanto a Sociedade Internacional de Ciência do Solo designou, em 2002, o dia 5 de dezembro como o Dia Mundial do Solo.

Essas iniciativas visam mobilizar a sociedade para a importância dos solos agrícolas e urbanos, considerando que cerca de 33% das terras do planeta estão degradadas ou em processo de degradação devido a fatores como erosão, compactação e poluição química. Além disso, Bertol adverte que a interdependência entre solo e água e a perda crescente da qualidade de ambos os recursos impactam diretamente a segurança alimentar e hídrica, ameaçando o futuro da sociedade e do planeta.

A biodiversidade do solo também desempenha um papel importante na regulação de várias funções, como a ciclagem de nutrientes e o armazenamento de carbono, responsável por reduzir gases de efeito estufa e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. O agrônomo destaca que aumentar os estoques de carbono no solo contribui para a melhoria da produção agrícola, do abastecimento de água e da biodiversidade.

Técnicas sustentáveis

Segundo o Nepar, muitos solos perdem, ao longo do tempo, parte de sua capacidade natural de armazenar água e de reter carbono, em razão da compactação e da erosão hídrica. “No entanto, tanto os solos quanto os recursos hídricos degradados podem ser recuperados com técnicas já conhecidas”, afirma Bertol.

Solo degragado e erodido — Foto: Claudio Capeche / Embrapa
Solo degragado e erodido — Foto: Claudio Capeche / Embrapa

O professor Anderson Sandro da Rocha, da Universidade Tecnológica Federal do Paraná - Câmpus Santa Helena, cita algumas técnicas sustentáveis para reverter a degradação e melhorar a saúde do solo, como terraceamento correto, plantio direto, conservação de estradas rurais, controle de erosão e recuperação de nascentes.

“O terraceamento, por exemplo, controla a erosão e reduz a perda de solo superficial. O plantio direto com rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura entre safras também têm sido incentivados, bem como as plantas de cobertura que aumentam a matéria orgânica, promovendo a fertilidade do solo e melhorando a produtividade agrícola”, explica.

Por outro lado, a degradação do solo, com perda de fertilidade, matéria orgânica e nutrientes, impacta negativamente na produtividade. “Solos degradados demandam quantidades crescentes de insumos, como adubos, elevando os custos de produção e podendo resultar em menor produtividade”, alerta Anderson.

A especialista em biotecnologia microbiana e saúde do solo, professora Glacy Jaqueline da Silva, da Universidade Paranaense (Unipar), lembra que uma das principais práticas para recuperação do solo degradado é o uso de adubação orgânica, como esterco, cama de frango, composto e restos de culturas, que adicionam nutrientes e matéria orgânica diretamente no solo. “Esses materiais orgânicos se decompõem lentamente, alimentando os microrganismos e liberando nutrientes de forma gradual para as plantas”, enfatiza.

Ela acrescenta que o solo é o ecossistema mais biodiverso do planeta: “quanto maior a biodiversidade do solo, maior será a variedade de espécies com habilidades semelhantes presentes”, explica. Essa diversidade torna-se essencial em eventos extremos, como ondas de calor, pois, embora muitas espécies possam não resistir a essas altas temperaturas, outras sobrevivem e continuam desempenhando funções vitais, alimentando e protegendo as plantas.

Ela comenta ainda que a integração de sistemas agroflorestais é outra técnica que melhora a saúde do solo ao combinar árvores, arbustos e plantas agrícolas no mesmo espaço. Com um bom planejamento, esse sistema protege o solo da erosão, aumenta a matéria orgânica, retém água, fortalece a biodiversidade e torna a produção agrícola mais sustentável. “As raízes das árvores criam uma rede subterrânea que facilita a absorção de água e nutrientes pelas plantas ao redor”, explica.

Conscientização

Para o diretor do Nepar é necessário conscientizar a população sobre o valor do solo e da água, e sobre a dependência das pessoas e da economia em relação a esses recursos. “É importante lembrar que o solo e a água não devem ser considerados recursos renováveis, especialmente quando mal utilizados. A água, apesar de ser constantemente renovada pelo ciclo hidrológico, é distribuída de forma desigual, e sua escassez pode ocorrer tanto pela falta de disponibilidade quanto pela perda de qualidade”, resume Bertol.

O maior desafio, hoje, na opinião do professor Anderson, é entender que cada tipo de solo possui características e fragilidades únicas. Os solos do tipo Latossolo e Nitossolo, que são profundos e argilosos, têm um grande potencial para a agricultura. “Podemos melhorar ainda mais a qualidade física e química desses solos para otimizar o desenvolvimento agrícola”, complementa Anderson.

No Noroeste do Paraná, por exemplo, há solos com até 80% de areia. No entanto, é possível produzir nessas áreas com técnicas corretas, como terraceamento, plantio direto, rotação de culturas e controle de erosão. “A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) também funciona bem para solos arenosos”, afirma.

Solo na Escola

O projeto Solo na Escola, coordenado pela professora Jully Gabriela Retzlaf, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP) - Campus Cornélio Procópio, promove a educação em solos, assegurando que crianças e adultos tenham uma visão ampliada sobre o solo e reconheçam a importância desse elemento ambiental para a sustentabilidade e a vida no planeta.

Alunos do Projeto Solo na Escola — Foto: UENP/Divulgação
Alunos do Projeto Solo na Escola — Foto: UENP/Divulgação

Vinculado ao curso de Licenciatura em Geografia da UENP, desde 2019, o projeto busca ampliar a compreensão sobre o solo como um recurso ambiental essencial. Com o público-alvo formado por professores, estudantes de Educação Básica e Superior e a comunidade em geral, a equipe é composta por docentes da UENP e monitores voluntários do curso de Geografia.

“O projeto de extensão abrange várias atividades em escolas, museus e feiras. Uma delas é visitar escolas para apresentar o solo às crianças, levando materiais didáticos, experimentos e maquetes para que possam manusear e explorar”, diz Jully.

Outra ação do projeto é a exposição didática de Solos no campus, espaço interativo de ciência que inclui amostras de solo, experimentos, rochas, minerais, fósseis e uma vermicomposteira. “Ao compreender a importância do solo, as crianças passam a ver esse elemento não como sujeira, mas como um componente ambiental fundamental”, diz a coordenadora.

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