Hortifrútis
Por — São Paulo

A safra da uva Niágara rosada está em plena colheita na região de Jundiaí (SP). Tradicionalmente associada às festas de fim de ano, a fruta é produzida em diversas regiões do Brasil, mas tem em Jundiaí e municípios vizinhos o maior polo de produção do país.

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O volume de produção deve cair 30% neste ano sobre a safra do ano passado, que somou 25 mil hectares. A queda se dará em decorrência de problemas climáticos ocorridos na época da dormência dos parreirais, que acontece durante o inverno. Com isso, a colheita não deve ultrapassar as 18 mil toneladas este ano na região que contempla os municípios de Jundiaí, Louveira, Jarinu, Itupeva e Itatiba.

“O clima no inverno foi instável com calor, seca e ondas de frio tardias, provocando quebra na dormência e irregularidade na brotação” diz Carlos Eduardo Canivezi Antunes, engenheiro agrônomo e chefe da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) de Mogi Mirim (SP).

Apesar da brotação deficitária, o engenheiro explica que as chuvas registradas em novembro e a maior quantidade de dias de sol durante todo o ciclo de desenvolvimento da fruta favoreceram a qualidade das uvas, que estão mais doces este ano. A colheita na região segue até fevereiro de 2025.

Colheita não deve ultrapassar as 18 mil toneladas este ano — Foto: Prefeitura de Jundiaí
Colheita não deve ultrapassar as 18 mil toneladas este ano — Foto: Prefeitura de Jundiaí

Desafios na produção

Atualmente, a uva Niágara é cultivada nas áreas que compreendem os municípios de Jales (SP), São Miguel Arcanjo (SP), Pirapora (MG), Ivaporã (PR), Porto Feliz (SP) e no circuito que compreende os municípios de Jundiaí, Louveira e Indaiatuba (SP), onde está a maior área de cultivo, com 2.650 hectares, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).

O pesquisador João Dimas, da Embrapa, diz que houve uma redução significativa na área cultivada nos últimos anos. Os principais motivos são a escassez de mão de obra para o manejo das plantações e o aumento da incidência de podridão de cachos, causada pelo fungo Glomerella, que pode provocar perdas de até 50% na produção. A Embrapa vem desenvolvendo pesquisas para minimizar os efeitos dessa doença, que é favorecida por condições de chuva e umidade.

Embora a Niágara rosada seja uma uva tradicional de fim de ano, a crescente produção de uvas sem sementes no Vale do São Francisco, com oferta durante todo o ano, tem alterado a dinâmica do mercado de festas.

“O consumo por uvas sem semente tem aumentado muito, principalmente pelas crianças e jovens”, relata Antunes. Na região de Jales, há alguns anos Niágara vem cedendo área de cultivo para as uvas finas, sem sementes.

Além dos problemas relacionados às doenças e escassez de mão de obra, as adversidades climáticas e a especulação imobiliária também impactam a produção. A região de Jundiaí, por exemplo, que há uma década abrigava 1.500 produtores de Niágara, hoje soma 400.

“Este número agora estabilizou, mas as dificuldades com doenças e a pressão da especulação imobiliária, que elevou o preço da terra, fez muitos produtores desistirem”, diz Isabel Cristina Fialho Harder, diretora do departamento de agronegócios da prefeitura de Jundiaí.

Preços em alta

Marcela Barbieri, pesquisadora de frutas do Cepea, explica que a safra de Jales e de Pirapora, colhida no meio do ano, teve boa rentabilidade em 2024, beneficiada pela menor oferta do Vale do São Francisco devido a problemas climáticos.

Nas regiões de Campinas (SP) e Marialva (PR) a colheita começou em dezembro, mas as chuvas no Paraná estão causando preocupação. Espera-se uma oferta mais controlada e preços mais altos em comparação com o ano passado, com preços ao produtor na primeira semana de dezembro em torno de R$ 8,67/kg em Marialva e R$ 8,17/kg em Louveira/Indaiatuba.

Reconhecimento

Os produtores de Niágara de Jundiaí obtiveram em 2023 um importante reconhecimento pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), a Indicação Geográfica (IG) da uva Niágara Rosada de Jundiahy, na categoria Indicação de Procedência.

“Essa indicação garante a qualidade da uva cultivada em Jundiaí, Louveira, Jarinu, Itupeva e Itatiba, região conhecida como a ‘Terra da Uva”, diz Isabel Cristina. Foi em Jundiaí que surgiu em 1933 a variedade Niágara Rosada, originária de uma mutação somática da uva Niágara Branca.

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