Na safra 2023/24, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos e tornou-se, pela primeira vez, o maior exportador global de algodão. No ciclo passado, os embarques brasileiros somaram 2,7 milhões de toneladas e os dos EUA, 2,4 milhões de toneladas, segundo o Departamento de Agricultura americano (USDA, na sigla em inglês). A produção brasileira cresceu 16% na temporada 2023/24, para 3,7 milhões de toneladas, e agora o Brasil já fornece pluma até para a fabricação do algodão egípcio, referência mundial de alta qualidade. Mais Sobre Algodão Cacau recua com ajuste técnico em Nova York Preços de cacau e café dão 'trégua' na bolsa de Nova York Continuar lendo O novo status do algodão brasileiro é resultado de uma série de iniciativas, entre elas a definição de um sistema que permite ao consumidor rastrear o algodão nacional até a fazenda de onde saiu o fardo da pluma. A liderança nas exportações é, possivelmente, o aspecto mais visível de um processo que começou muitos anos antes desse feito, quando a cadeia de produção da pluma decidiu se refazer depois dos estragos do bicudo-do-algodão, praga que surgiu no país em 1983 e dizimou grande parte do algodão nacional. Tecnologia e cooperação foram elementos centrais nesses esforços, diz Marcio Portocarrero, diretor executivo da Associação Brasileira dos Produtores de Algodão (Abrapa). Em comparação com outras commodities agrícolas, o algodão é uma cultura complexa, cara, que precisa de 180 dias de campo e exige investimentos altos em maquinário. Uma algodoeira, que transforma o algodão bruto em fibras, não sai por menos de R$ 30 milhões. “Fomos um grande produtor, com baixa qualidade”, diz Portocarerro. “Viramos importadores, até que, no fim dos anos 90, investimos em conhecimento e tecnologia. Hoje, exportamos, com alta tecnologia e certificações”. Segundo ele, uma das grandes lições nesses esforços foi a importância de “ouvir, planejar e executar” — buscar referências, em resumo. As diferentes iniciativas que permitiram ao algodão brasileiro conquistar mercado nos últimos anos integram o protocolo Algodão Brasileiro Responsável (ABR), que estabelece o padrão nacional de certificação socioambiental da cultura. A Abrapa idealizou o protocolo em 2012 a partir da unificação de iniciativas regionais. Um dos pontos centrais do ABR é a parceria com a Better Cotton Initiative (BCI), uma das mais importantes iniciativas globais de sustentabilidade da cultura. Desde 2013, BCI e Abrapa trabalham em cooperação para validar os itens de verificação do protocolo, que são similares aos exigidos pela certificação mundial. A adesão ao ABR é voluntária, mas, com o sucesso da iniciativa, mais de 80% do algodão que o Brasio produz já segue essas diretrizes. Auditorias independentes fazem visitas às fazendas para assegurar que as propriedades seguem as exigências do protocolo. Hoje, é possível rastrear cada fardo de algodão que o Brasil produz, o que assegura que as fazendas produtoras seguem boas práticas ambientais, sociais e de governança e, com isso, tem aberto mercados para a pluma nacional em várias partes do mundo. Por meio de um QR Code, importadores, indústrias têxteis e outros integrantes da cadeia de industrialização da pluma conseguem, por meio de um QR Code, saber exatamente de onde partiu o algodão brasileiro que está nas fábricas de itens como roupas e calçados. Para recompor as lavouras, o Brasil buscou referências nos Estados Unidos e na Austrália e investiu em material genético. “O algodão brasileiro é hoje o melhor do mundo”, afirma Portocarrero. Segundo ele, o país já vendeu todo o volume da safra deste ano, de 3,7 milhões de toneladas, e 40% da colheita prevista para 2025/26. O mercado interno absorve 30% da produção nacional da pluma, e o restante é exportado. A transgenia, que permitiu o desenvolvimento de variedades mais resistentes a pragas e a problemas climáticos, foi um diferencial na recomposição das lavouras nacionais, avalia o dirigente. “No mundo, a produtividade média é de 400 quilos por hectare, e nos Estados Unidos ela chega a 900 quilos. No Brasil, produzimos hoje 1,9 mil quilos por hectare”, relata o dirigente. Tão importante quanto agir para se reorganizar era o segmento relatar seus esforços para quem, em alguns casos, sequer tem ligação com a atividade. Uma das iniciativas nessa frente é a Sou de Algodão, que conecta produtores da pluma, fiações, tecelagens, malharias, confecções, varejistas e também o público final. Ao todo, 1,7 mil marcas já aderiram ao movimento. Mais recente Próxima Agro tem papel de destaque na produção de conhecimento