Jogar bola, além de um prazer, para um grupo de cerca de 25 mulheres de Petrolina, no Sertão de Pernambuco, virou um ato de resistência. No começo, elas faziam parte de uma equipe de futsal que treinava na quadra da Escola de Referência em Ensino Médio Clementino Coelho (Ereemcc). Em 2015, a equipe ficou sem treinador, mas elas decidiram que não era hora de parar e continuaram por conta própria. Aos poucos, os treinos se transformaram em um espaço de descontração e prática de futsal.
O grupo se reúne toda terça e sexta-feira, durante a noite. As meninas são de diferentes de bairros de Petrolina, como Gercino Coelho, Jardim São Paulo, Cacheado, Jardim Guararapes, Cohab VI, Rio Corrente, Ouro Preto, tem até gente da cidade de Juazeiro-BA. Hoje elas lutam para manter o espaço que conquistaram.
– Cada vez mais tem sido complicado segurar nosso terreno. Os babas e treinos masculinos são grandes concorrentes, até pelo número maior de praticantes, e recentemente, a gente tem sofrido com uma certa pressão de algumas pessoas que querem excluir nossos dias – conta a estudante Giúllian Rodrigues, responsável por enviar a história do baba das meninas para o GloboEsporte.com.
As meninas tentam superar as barreiras através do diálogo. A autônoma Siele Olivia conta que o grupo tem recebido o apoio do diretor da escola.
– O diretor do colégio sempre deixou aberto o espaço para a gente. Ele foi muito solícito todas as vezes que nós o procuramos. Ele tem mediado a situação para que a gente não saia prejudicada – diz.
Quando não conseguem vencer a concorrência masculina, as jogadoras sempre arrumam um jeito de não deixar a bola parar, nem que para isso seja necessário ir para outros bairros da cidade.
– Devido essa ocupação da quadra e por querer bater o baba de qualquer maneira, acabamos procurando outros espaços. Nem sempre dá, mas as vezes fazemos um esforcinho, nos dividimos nas motos e nos carros e vamos para outro local que esteja vazio ou onde abrem o espaço pra gente, mesmo que seja pra jogar com meninos.
Para Giúllian, as dificuldades enfrentadas não só pelo grupo dela, mas por meninas espalhadas pelo Brasil, são traços da desvalorização do futebol feminino no país.
– Em época de crise do futebol feminino no cenário nacional, temos feito um esforço maior ainda para não deixar o baba morrer. Sempre fazemos uma mobilização para que as meninas participem e a gente não perca esse espaço. Nós, mulheres, precisamos estar sempre provando algo, principalmente no esporte. É preciso resistência para assegurar nossas conquistas.
A resistência gerou frutos. Recentemente, Lidu Alves, 26 anos, uma das pioneiras do grupo, foi contratada para defender um time da Itália, além de já ter sido convocada para a Seleção Brasileira de Futsal. Casos como o de Lidu fazem com que as meninas não desistam de se reunir e praticar o esporte que amam. Mas, não é só o sucesso esportivo que move essas garotas.
– O baba, para a maioria de nós, serve para descontrair, tirar o estresse do dia a dia, além de ajudar no bem-estar, já que é uma atividade física que praticamos. Além disso, Fernanda, que é uma das que está no grupo há mais tempo, contou que pelo espaço ser sempre aberto a qualquer menina, teve também um lado social, por um tempo. Há caso de garotas que saíram das ruas e pararam o consumo de drogas quando estavam comprometidas com o baba – destaca Giúllian.
Outa característica do baba das meninas do Eremcc é a receptividade. Qualquer garota pode se juntar ao time.
- Nunca tinha jogado. Só assistia aos babas. Certo dia resolvi arriscar e as meninas disseram que eu levava jeito. Hoje, sempre que posso eu venho aqui e acho que tenho mesmo melhorado um pouco com o tempo e com a prática. O baba me dá mais alegria e eu esqueço dos problemas quando estou na quadra – diz a vendedora Amanda Bezerra.
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