Correr uma maratona é especial. São 42km de muita garra, disposição, entrega, luta, suor, emoção, lágrimas, às vezes dor e sofrimento. E claro que todo maratonista tem muita história para contar. Por isso, resolvemos dar voz a 15 corredores que já estiveram em ao menos uma das 15 edições da Maratona do Rio para saber qual é o ponto dos 42km mais bonitos do mundo que mais marcou suas vidas. Confira os relatos:
Km 0: largada
Ana Luiza Real, jornalista: sua primeira prova de 42km foi a Maratona do Rio 2016.
“Sem dúvida a largada é um dos momentos mais marcantes dos 42,195km da Maratona do Rio. É aquele momento que você respira fundo, não pensa em nada e pensa em tudo ao mesmo tempo. É aquela hora que você se vê rodeado de gente com o mesmo objetivo que o seu. Passa um filme na cabeça, você pensa em todos os treinos, pensa no trajeto da prova, reza, respira, transpira e agradece! É um momento único que só um maratonista entende o real significado”.
Km 3: Praia do Recreio
Sirlene de Souza Pinho: campeã feminina da Maratona do Rio em 2010.
“Ali, no começo da prova, você meio que está sozinho, sem muita gente assistindo, e começa a conversar com você mesmo. É um momento de meditação”.
Km 6: início da Reserva
Denise Amaral: já disputou 120 maratonas, sua 100ª corrida de 42km foi a Maratona do Rio.
“Um dos melhores momentos da Maratona do Rio é quando entramos na Reserva. Passa a euforia e o medo da largada e o ritmo “encaixa”. Nesse ponto, ouvimos os passos e a respiração dos corredores, o som das ondas do mar e ainda tem o visual das montanhas”.
Km 13: Reserva
Rodrigo Rocha: pai que virou atleta. Participa de corridas empurrando o filho em um triciclo adaptado. Sua estreia nos 42km foi na Maratona do Rio 2015.
“O visual é lindo demais, fantástico para renovar as energias. Normalmente estamos isolados, sozinhos, passa um ou outro, isso nos faz lembrar de tudo que foi feito para chegar até aqui. Biel (filho que é empurrado na cadeira) se desliga, mas eu me pego em lágrima. Lembro de sua alegria em “correr”. Nossa satisfação se torna maior sabendo que somos guerreiros e mostramos que podemos ser pai e filho, amigos e exemplos para os outros, principalmente para aqueles deficientes que ficam escondidos dentro de casa”.
Km 21: Pepê
João Bandeira: engenheiro e corredor. Em 2017, fez sua 10ª Maratona do Rio.
“A altura do Pepê é uma referência extremamente importante para os corredores. Já é a metade da prova. É hora de avaliar o tempo e, principalmente, em que condições cheguei até ali. Com base nisso, planejo e me preparo mentalmente para a segunda metade que, com certeza, é mais desafiadora”.
Km 23: Elevado Joá
Clayton Conservani: repórter-atleta que está sempre em busca de aventuras e corridas pelo Brasil e pelo mundo.
“Que visual. A pista livre só para nós maratonistas, um privilégio indescritível. Lembro que estava com poucos corredores ao meu lado e aquele caminho lindo era só nosso. Clima ameno, um pouco de sol iluminava as ilhas Tijucas e Cagarras. Tudo perfeito demais, sem o barulho dos carros, só nós e a natureza majestosa dos costões, ilhas e o mar aberto. Eu queria que aquilo não terminasse, de tão sensacional”.
Km 24: túnel de São Conrado
Vicent Sobrinho: corredor há mais de 35 anos. Já correu cinco edições da Maratona do Rio e mais de 900 provas em diferentes lugares do mundo.
“Sempre defino essa maratona como a mais gostosa de se correr no planeta. Faço questão de indicá-la para qualquer corredor que me pede informação. Um dos pontos mais marcantes para mim é o túnel de São Conrado. Esse lugar guarda um segredo. É o divisor de águas. É um ponto de acerto ou desgraça de quem quer fazer um bom tempo. Demorei anos para ter essa certeza”.
Km 25: Praia de São Conrado
Chico Águia: aos 75 anos, é figura conhecida nas corridas de rua. Corre descalço.
“Ali é espetacular. É ali que se inicia a verdadeira maratona. A gente olha para o mar, e correndo descalço, me sinto como Moisés atravessando o Mar Vermelho”.
Km 26: Praia de São Conrado
José Pinheiro: morador da Rocinha, vai e volta todos os dias de casa ao trabalho correndo. Começou para economizar passagem de ônibus, pois precisava usar reformar a casa.
“Moro na Rocinha e vejo minha casa, a família aplaudindo, e isso marca muito. Devo muita coisa à corrida”.
Km 28: descida da Niemeyer
Vanessa Protásio: especialista em coaching esportivo e corredora há mais de 30 anos. Foi a primeira mulher a completar uma edição de maratona no Rio, em 1982.
“Sinto o frescor da água vindo da pedra e a proteção das rochas, o contato com o mar. Percebo uma integração com o mundo tão forte e tão sólido. Ali começa uma fase de recuperação e alinhamento com a energia para dar continuidade à prova. A passagem da Niemeyer para o Leblon traduz o início do contato direto com o público. Sente-se a presença da vibração da torcida, que tem um poder motivacional muito grande”.
Km 32: Ipanema
André Ricardo: educador físico. Na véspera da Maratona do Rio 2016, pediu a namorada em casamento com mensagem no chip da prova. Correram juntos os primeiros 42km dela.
“Um dos pontos mais importantes que senti na prova, onde tem muitas pessoas na rua te incentivando, e eu sabia que encontraria os professores da minha assessoria no percurso para me incentivar”.
Km 35: Copacabana
Zélia Duncan: cantora e maratonista. Leva tênis, relógio e roupa de corrida para as cidades onde faz show.
“Um dos momentos mais desafiadores é Copacabana, a partir do Km 35. Acontece um momento muito duro, e a chegada é a redenção, a delícia, o alívio e orgulho de ter participado”.
Km 39: Praia de Botafogo
Dona Lindalva: pernambucana, fez sua primeira maratona após completar 70 anos.
“Um dos pontos mais marcantes para mim é a Praia de Botafogo, em frente à Igreja Nossa Senhora da Conceição. Ali encontramos torcida e amigos. Somos contagiados por aquela emoção. Gritos, sorriso e choro”.
Km 40: Aterro do Flamengo
Andrea Folegatti: mais de 23 anos de corridas. As favoritas são as provas de longa distância. “A chegada ao Aterro do Flamengo é desafiadora. É preciso vencer o próprio cansaço e negociar com a mente a motivação. Travo um diálogo comigo mesmo, em instantes que parecem durar uma eternidade. Ali, só olho para frente, sempre em frente. Para mim, um dos diferenciais em provas de fundo é saber sofrer, administrar a dor e lidar com situações adversas. Tudo passa muito rapidamente após cruzarmos a linha de chegada. Como em um passe de mágica, qualquer dor dá lugar a um turbilhão de sentimentos que, sem dúvida alguma, só quem experimenta sabe o valor que isso tem”.
Km 42,195: linha de chegada
Iuri Totti: jornalista e apaixonado por corrida de rua.
“A chegada, ah, a chegada! Que momento espetacular. Este momento é de pura emoção, um turbilhão de sentimentos, que vão do sorriso solto, aquele bobo, às lágrimas de fazer soluçar. Se você acha que tudo acabou, ao colocar a medalha no peito, o orgulho da conquista salta ao peito, algo semelhante, mas nem tanto assim, a ter um filho. E, num piscar de olhos, você já se imagina na edição ano seguinte”.
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