Quando as competições
do surfe feminino começaram nos Jogos Cariocas de Verão, uma menina loirinha,
de camiseta e prancha rosas, chamou atenção pela leveza e desenvoltura nas ondas,
pequenas nas manhãs deste sábado e domingo. O locutor logo apresentou: "Essa é
a habilidosa Jéssica Bianca, de 23 anos, que veio de Ubatuba só para competir aqui
no Rio". Após a bateria - vencida por ela -, descobrimos em um bate papo
informal que seu talento é fruto de uma paixão antiga e desmedida pelo surfe,
esporte pouquíssimo incentivado nas categorias amadoras - e ainda menos quando
se trata da ala feminina.
A falta de investimento, seguida da dificuldade
de se dedicar integralmente ao surfe, fizeram Jéssica se reinventar, se
desdobrar e sair de casa sozinha em busca de evolução, sempre com o objetivo de
investir em si mesma para seguir seu sonho: um dia se
profissionalizar e viver do esporte. Natural de
Matinhos, no Paraná, ela se mudou sozinha para Ubatuba, litoral de
São Paulo (uma das “capitais” do surfe brasileiro) para aperfeiçoar sua
performance.
- Meu pai surfava,
minha mãe é praieira e a gente sempre morou perto do mar. Conheci o esporte
naturalmente e ele acabou influenciando muita coisa em minha vida. Comecei a
viajar sozinha com 13 anos para campeonatos regionais, e isso fez com que eu
amadurecesse bastante. Cresci num bairro muito simples, e acho que o surfe me
blindou do caminho errado. Esse esporte me fez crescer, me fez ver o lado bom
das coisas e me faz, até hoje, uma pessoa melhor.
Em Ubatuba, sem patrocínio, Jéssica trabalha em uma sorveteria para se
manter. O expediente não a impede de treinar todos os dias e competir quando
tem oportunidade.
- Tento conciliar tudo isso: a responsabilidade com o trabalho e o
comprometimento com meu maior sonho. É puxado, mas, no fim, acaba dando certo –
conta Jessica, que também faz exercícios funcionais com a ajuda de seu
preparador físico.
Deste mesmo cenário impiedoso, que desmotiva jovens surfistas virtuosos
pelo litoral brasileiro, nasceu o movimento chamado BSG (Brasil Surf Girls), um
centro de treinamento itinerante exclusivo para meninas surfistas, baseado no
Rio de Janeiro, que se dedica a fomentar o esporte, investindo no
aperfeiçoamento de jovens talentos com uma equipe multidisciplinar. Neste fim
de semana, em virtude dos Jogos Cariocas de Verão, o destino de Jessica cruzou
com a iniciativa.
- Eu só pude vir pois tive suporte da BSG. Após conseguir uma carona
para o Rio, fui para a BSG House, na
praia da Macumba, que me recebeu de braços abertos. O projeto me deu estadia,
financiou minha inscrição e me deu toda infraestrutura necessária para que eu
pudesse vir para os Jogos. O que essas meninas vêm fazendo pelo crescimento do
surfe feminino não é brincadeira. Fico muito feliz de ver esse trabalho, de ver
esse projeto cada vez mais forte, trabalhando para fortalecer talentos e colocar
nosso esporte onde merece. Revi algumas amigas e fiz muitas outras. Fica aqui
toda minha gratidão - reverenciou Jessica, que ficou com o segundo lugar nas
disputas.
A praia da Barra da Tijuca e a Praça Duó são o palco da 3ª edição do Oi Jogos Cariocas de Verão. O evento celebra a vocação da cidade para as atividades ao ar livre e a vida saudável, marcas registradas do verão. Os Jogos receberão até 50 mil pessoas, que irão prestigiar os 5 mil atletas profissionais e amadores de 11 modalidades esportivas: surfe, skate street, corrida de rua, basquete 3×3, bodyboard, bodysurf, natação no mar, stand-up paddle, futevôlei, vôlei de praia e beach tennis. Sem contar uma extensa programação musical no palco Sons do Verão.
Resultado surfe feminino
1 - Karol Ribeiro
2 - Jessica Bianca
3 - Monica Takaki