Contra a soberba, a convicção. Assim pode ser descrita a vitória por nocaute técnico aos 4m10s do quinto round do nigeriano Kamaru Usman sobre o americano Colby Covington na luta principal do UFC 245, em Las Vegas. Trocando provocações com o rival ao fim de cada round, mas sem conseguir impor o seu jogo na luta, Usman devolveu no fim do combate tudo que ouviu do adversário ao longo dos meses. Por tabela, acabou vingando todos aqueles que se sentiram agredidos e ofendidos pelas palavras de Covington, inclusive o Brasil, país no qual nasceu a sua filha.
A luta
Debaixo de muita tensão, a luta começou com Covington se aproximando de Usman e recebendo dois golpes de raspão. O campeão chegou a perder o equilíbrio ao tentar um chute alto, mas levantou-se rapidamente. Os dois lutadores trocavam socos sem muita pressão no centro do octógono Na metade do round, o americano acertou uma joelhada e alguns bons golpes que abalaram Usman. O nigeriano recebia jabs seguidos e não encontrava a distância. Aos poucos, o público soltava os gritos de "USA!" apoiando o desafiante. Covington era mais preciso que Usman, e ao fim do round fez algumas provocações ao campeão, sendo afastado pelo árbitro Marc Goddard.
Os dois lutadores aceleraram o ritmo no segundo round, trocando mais golpes na curta distância. Usman continuava sendo mais acertado, mas os golpes do americano não aparentavam incomodá-lo. Melhor no combate, Covington era apoiado pelo público. O campeão alegou ter recebido um chute na região genital, mas o replay mostrou que o golpe foi na cintura e pegou apenas de raspão, o que irritou os espectadores. O panorama da luta se mantinha o mesmo do primeiro round, com ambos os atletas buscando o boxe e os chutes na linha de cintura, evitando o wrestling, luta na qual os dois são especialistas.
Sem correr qualquer risco, Usman e Covington voltaram para o terceiro round novamente cautelosos e evitando se exporem um ao outro. Nenhum dos dois mudava sua estratégia de luta para tentar surpreender o adversário, e a luta se mantinha em ritmo lento e sem emoção. A cerca de um minuto para o intervalo, Colby atacou Usman, que recebeu uma dedada no olho. O árbitro interrompeu a luta para que o médico examinasse o olho direito do campeão. De volta ao combate, Usman acertou uma boa combinação de direita no queixo e esquerda na cabeça. O americano alegou ter recebido uma dedada no olho, mas teve sua reclamação ignorada pelo árbitro.
Ao voltar para o córner, Covington disse aos seus treinadores que quebrou a mandíbula. Talvez por isso, aumentou o ritmo no início do quarto round. Os dois lutadores partiram para a trocação franca, mas quase nenhum golpe foi acertado - a maioria passou no vazio. A torcida se dividia entre gritos de apoio a um ou a outro, mas a luta se mantinha equilibrada. Sem demonstrarem cansaço, campeão e desafiante continuavam no mesmo ritmo do início da disputa. Covington mantinha a guarda alta, por causa da lesão no queixo. No fim do round, os dois se provocaram mais uma vez.
O equilíbrio deixava dúvidas sobre quem estaria vencendo, e os atletas iniciaram o quinto round sem buscar golpes que definissem a disputa. No mesmo ritmo dos quatro rounds anteriores, Colby Covington e Kamaru Usman mostravam estar mais preocupados em não perder do que em ganhar. A menos de dois minutos para o fim, no entanto, Usman conectou dois bons golpes de direita que abalaram Covington. O americano caiu por duas vezes, e na segunda o campeão partiu para o ataque. Por cima no chão, desferiu golpes até que o árbitro encerrasse a disputa. Covington protestou pela interrupção, mas de nada adiantou.
- Esta vitória não é só para mim, é para o mundo inteiro. Eu esperei o mês inteiro, desde que assinei o contrato. O motivo de eu ser o campeão é porque minha mente é mais forte que a de todo mundo na divisão. Eu cometi alguns erros hoje, mas sei que bato mais pesado que ele e queria mostrar a vocês que posso vencer em pé também - disse Usman, que ainda dedicou a vitória ao Brasil, alvo frequente das provocações de Covington.
- E aí Brasil! Isso é para vocês também, é pelo mundo inteiro - gritou o campeão, que também dedicou o título ao sobrinho, que morreu recentemente.
Volkanovski acaba com reinado de Holloway no peso-pena
O reinado de Max Holloway no peso-pena durou apenas dois anos e meio. A sequência de 14 vitórias do havaiano na divisão foi encerrada pelo desafiante Alexander Volkanovski, que conquistou o cinturão ao bater o agora ex-campeão por decisão unânime (48-47, 48-47, 50-45) no coevento principal do UFC 245. O australiano chegou à 18ª vitória consecutiva na carreira.
Volkanovski não se intimidou pelo campeão e buscou a luta. O desafiante teve volume mais alto que o de Holloway e acertou bons golpes no primeiro round. Notório por sair atrás nos combates, Holloway começou a se encontrar no segundo round, principalmente após alternar para a base canhota. Ele deixou uma marca abaixo do olho esquerdo do australiano.
Volkanovski se ajustou melhor à base espelhada do campeão no terceiro round e acertou bons cruzados de direita. Holloway menosprezou os golpes, mas só produziu ataques efetivos no minuto final do período, com uma joelhada de encontro e um chute alto. As coisas enfim esquentaram na segunda metade do quarto período, quando o campeão sentiu a urgência de reagir no combate e passou a pressionar mais. Houve trocas de provocações e golpes, mas o desafiante seguia conectando mais e colocou uma mão no cinturão.
A luta voltou a esquentar nos minutos finais, com mais provocações e pedidos de Holloway para que o desafiante viesse para a trocação franca. Ambos acertaram golpes duros, mas nada que tenha abalado um ao outro, e Volkanovski ainda agarrou o havaiano algumas vezes para conter seu ímpeto. No final, foi premiado com a decisão unânime e o título de melhor do mundo no peso-pena.
Confira os resultados completos do UFC 245:
CARD PRINCIPAL
Kamaru Usman venceu Colby Covington por nocaute técnico aos 4m10s do R5
Alexander Volkanovski venceu Max Holloway por decisão unânime (48-47, 48-47, 50-45)
Amanda Nunes venceu Germaine de Randamie por decisão unânime (49-44, 49-46, 49-45)
Marlon Moraes venceu José Aldo por decisão dividida (29-28, 28-29, 29-28)
Petr Yan venceu Urijah Faber por nocaute aos 43s do R3
CARD PRELIMINAR
Geoff Neal venceu Mike Perry por nocaute técnico a 1m30s no R1
Irene Aldana venceu Ketlen Vieira por nocaute aos 4m51s do R1
Omari Akhmedov venceu Ian Heinisch por decisão unânime (triplo 29-28)
Matt Brown venceu Ben Saunders por nocaute aos 4m55s do R2
Chase Hooper venceu Daniel Teymur por nocaute técnico aos 4m34s do R1
Brandon Moreno venceu Kai-Kara France por decisão unânime (29-28, 29-28, 30-27)
Jessica Eye venceu Vivi Araújo por decisão unânime (triplo 29-28)
Punahele Soriano venceu Oskar Piechota por nocaute aos 3m17s do R1
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