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Por Diogo Mourão — Rio de Janeiro


Após o fim da temporada regular com a etapa de Fiji, o Brasil consegue manter ao menos dois surfistas no Finals. Italo Ferreira e Tatiana Weston-Weeb terminaram a temporada regular em quinto lugar e ganharam o direito de disputar o título em Trestles.

Tati e Ítalo vão disputar a decisão do Circuito Mundial de Surfe

Tati e Ítalo vão disputar a decisão do Circuito Mundial de Surfe

No masculino, será a primeira vez que o Brasil chegará ao Finals com apenas um surfista desde que o novo formato (argh) de disputa pelo título foi implantando pela WSL. Italo, que perdeu nas oitavas e dependeu de outros resultados, volta a Trestles depois de participar das decisões em 2021 e 2022.

Tati, que chegou a Cloudbreak numa situação complicada, garantiu seu retorno à decisão ao ficar em segundo na etapa, repetindo o resultado de 2017. Assim como Italo, Tati disputou o Finals em 2021 e 2022, mas não conseguiu vaga em 2023. O potiguar foi vice em 2022 e terceiro em 2021, enquanto a gaúcha ficou em segundo em 2021 e na quarta posição no ano seguinte.

Tatiana Weston-Webb em ação nos tubos de Fiji — Foto: WSL

Yago Dora e Gabriel Medina, que chegaram com chances em Fiji, precisando de bons resultados, pararam nas quartas de final e não conseguiram a vaga no Finals. É o segundo ano em que os dois batem na porta, mas ficam do lado de fora da festa. Desta vez, as posições se inverteram, com Yago em sexto e Medina em sétimo. Dora precisava avançar apenas mais uma bateria, enquanto Gabriel tinha que vencer o evento.

A tão esperada volta de Cloudbreak ao Circuito Mundial após sete anos foi frustrante. Um campeonato com poucos momentos de ondas realmente boas, realizado com pressa porque o mar iria piorar. As ondas pequenas e médias e sem tubo nas fases decisivas tiraram a vantagem competitiva daqueles que são melhores em boas condições em Fiji.

Citada por dez entre nove surfistas como uma das melhores onda do mundo, por aliar tubos pesados e profundos a pistas para manobras fortes e impactantes, Cloudbreak nos enchia de esperança no desempenho de nossos quatro goofies que estavam na briga pelas vagas. Não que isso fosse uma garantia de vitória, mas era a certeza de que surfariam em condições em que se sentem bem e conseguem bons resultados. Porém, tivemos poucos momentos de ondas realmente boas, na tarde do primeiro dia e no começo do segundo.

Italo Ferreira em ação em Fiji — Foto: Aaron Hughes/World Surf League

Medina e Yago, que tinham dado show no melhor momento do mar, quando era possível fazer as combinações citadas acima e surfar os tubos muito rápidos, caíram nas quartas para Griffin Colapinto e Jack Robinson. O americano e o australiano, sem dúvida, souberam se adaptar mais facilmente e, principalmente, fizeram melhores escolhas táticas. Duas baterias incontestáveis, apesar de umas notinhas um pouco acima do que poderiam ser.

Tati, mais uma vez, mostrou-se uma grande competidora – mesmo sob a pressão de precisar chegar à final para ter chances de vaga e ainda torcer contra duas surfistas que estavam à sua frente no ranking. A primeira a cair foi a quinta colocada Gabriela Bryan, que não passou da repescagem. Caso Gabriela avançasse mais uma fase, Tati já teria de vencer a etapa para continuar com chances. Johanne Defay parou nas quartas, e a brasileira passou a precisar “apenas” do vice-campeonato. Com sangue nos olhos, foi dominante em todas as baterias desde a repescagem, até parar no fenômeno Erin Brooks na final.

Tatiana Weston-Webb conseguiu nota 8.0 na semifinal em Fiji

Tatiana Weston-Webb conseguiu nota 8.0 na semifinal em Fiji

Uma pausa no tema brasileiros para falar desta canadense nascida no Texas e criada no Havaí. Com apenas 17 anos e em seu primeiro CT, Brooks comprovou tudo o que se fala e se espera dela. Um dos nomes mais badalados da nova geração feminina, a menina já assombra o mundo do surfe há alguns anos, principalmente por suas manobras aéreas, mas ela vai bem além dos voos. Surfa com velocidade, tem manobras progressivas, modernas e sabe usar a borda para fazer belas linhas. Em quarto no CS, em breve estará no CT, para brigar na ponta. Surge um novo fenômeno, e eu a vejo com mais potencial até do que Caitlin Simmers.

Em Cloudbreak, começou tímida, ficou em último na bateria de estreia, com apenas 3,83. Na repescagem, Brooks apresentava um comportamento parecido até a metade da bateria contra Gabriele Bryan. Já estava fazendo um post no eX-Twitter falando que a canadense ficara devendo, mas ela começou a se encontrar e virou a bateria. A partir daí, passou a atropelar as adversárias: 15,33 a 11,60 com uma nota 8,0 contra Caitlin Simmers, a número um do ranking, 15,26 a 11,80 sobre Molly Picklum, com um 8,83. Contra Tati, ela não fez nenhuma onda excelente, mas com duas notas acima dos sete, marcou 15,10, contra 12,33 da brasileira.

Agora é esperar o Finals, torcendo para Italo quebrar a hegemonia dos primeiros do ranking, que sempre ratificaram o “titulo” de campeão da temporada regular e conseguiram vencer o campeonato. E também para Tati repetir o que aconteceu nos dois últimos anos, quando Stephanie Gilmore e Caroline Marks superaram a melhor surfista do ano, Carissa Moore, que acaba de anunciar que está grávida. 😊

Atuações dos brasileiros

Tatiana Weston-Webb:

Apesar de saber que precisava de um grande resultado, nossa medalhista olímpica chegou (ou conseguiu disfarçar bem e passou essa impressão) à última etapa leve, sem se sentir pressionada. Talvez a prata no peito tenha ajudado a tirar o peso, pois o ano já teria valido a pena. Tati, porém, queria mais. Pegou uma bateria muito difícil na primeira fase e ficou em segundo, com 8,70, atrás de Caroline Marks, campeã olímpica e segunda do ranking, que marcou 9,07. Brooks foi a terceira, com 3,83.

Tatiana Weston-Webb em Fiji — Foto: Aaron Hughes/World Surf League

Na repescagem, contra Sawyer Lindblad, que ainda sonhava com a vaga, Tati assumiu a liderança logo no começo, com um 5,33, e ratificou a vitória por 11,50 a 9,40 ao marcar 6,17. O duelo com Brissa Hennessy teve um pouco mais de emoção, apesar de a brasileira ter garantido a liderança com duas notas 6,17. Brissa teve a chance da virada, fez a melhor onda da bateria (6,77), mas não o suficiente para evitar a vitória de Tati por 12,34 a 11,44.

A semifinal foi contra a velha conhecida australiana Tyler Wright, adversária sempre muito dura na carreira de Tati. Com a derrota de Johanne Dafay nas quartas de final, a brasileira sabia a importância da bateria. Tinha de vencer para conseguir seu lugar no Finals. Já começou melhor na primeira troca de ondas, com um 5,33 contra 4,67 de Tyler. Na terceira tentativa, fez sua melhor onda do campeonato, marcou 8,0 pontos e praticamente garantiu a vitória. Mesmo assim, ainda marcou mais 6,83, para fechar com 14,83 a 6,67, em sua melhor bateria.

Tatiana Weston-Webb venceu Tyler Wright e, assim, se garantiu no Finals

Tatiana Weston-Webb venceu Tyler Wright e, assim, se garantiu no Finals

Antes da primeira fase, Brooks postou foto criança ao lado de Tati, de quem era fã. Na final, porém, não teve moleza. Logo na primeira onda, a canadense mostrou que Tatiana teria de fazer mais do que fizera em toda a competição para vencer. Brooks largou com 7,67. Tati respondeu com 6,83 e 5,50, assumindo a liderança. A menina, então, mostrou maturidade e teve tranquilidade para buscar o 7,43 e conseguir a virada.

Italo Ferreira:

Brincou com o perigo e correu risco de perder seu lugar no Top 5. Como Ethan Ewing avançou até a semifinal, caso Yago tivesse passado por Jack Robinson, Italo teria caído para a sexta colocação. Na primeiríssima bateria do retorno do Circuito a Cloudbreak, o brasileiro entrou na água bem cedo, com maré ainda cheia e poucos tubos, mas chegou a 10,07, o suficiente para superar Leonardo Fioravanti (8,56) e Ramzi Boukhiam (3,66), numa disputa em que todos surfaram menos do que o esperado.

Na disputa contra o havaiano Barron Mamiya nas oitavas de final, Italo pareceu fora de sintonia, num ritmo mais acelerado do que o mar pedia, fazendo escolhas erradas de manobras e ondas. O havaiano venceu por 11,67 a 8.80.

Italo Ferreira surfa em Fiji — Foto: WSL

Yago Dora:

Até ser eliminado por Jack Robinson nas quartas, a uma bateria da vaga, Yago era, pelo menos, o segundo melhor surfista do campeonato até aquele momento, apesar de ter caído para a repescagem após o confronto na primeira fase. Surfou bem, embora sem um brilho especial, mas viu Jake Marshall pegar a melhor onda da bateria e virar no minuto final. Marshall marcou 11,93, Yago, 11,03, e Liam O’Brien, 9.00.

Na repescagem, na tarde do primeiro dia, um recital para marcar a despedida de Kelly Slater das competições em Cloudbreak, com quatro títulos e atuações espetaculares numa das melhores ondas do mundo. Yago mandou o tio para casa de Kombi, o deixando em cominação: 16,83 a 10,93, com direito a um tubaço que lhe valeu 9,33, a melhor nota da competição até então.

Voando! Yago Dora somou um 9.33 em Fiji

Voando! Yago Dora somou um 9.33 em Fiji

Nas oitavas, quando o mar ainda dava respiros de qualidade, Yago teve de passar pelo nosso camarada marroquino Ramzi, adversário perigoso. Com atuação segura e consistente, o brasileiro venceu por 14,26 a 11,26 e ficou a uma bateria do Top 5.

As quartas de final foram contra Jack Robinson, amigo, companheiro de equipe e treinado também pelo pai de Yago, Leandro. Os caras viajam juntos o ano todo, Jack é casado com brasileira e passa tempos por aqui. São praticamente família. Não sei se isso influenciou no comportamento de Yago, mas Jack com certeza não se abalou. Frio como sempre, usou a velha tática de esperar a maior onda da série, com um surfe correto e risco calculado para não chegar muito perto do limite e fazer a pontuação necessária.

Yago Dora entuba em Fiji — Foto: WSL

Enquanto Yago surfava ondas menores e até conseguiu ficar na liderança, mas com pontuação mediana (5,50 e 6,00), Jack, que tinha um 5,00 da primeira onda, esperava quase sempre livre no outside. Yago poderia ter ficado próximo, pressionando um pouco mais, mas nada garante que daria certo, diante da frieza tática de Robinson. Fato é que a onda veio para o australiano, que marcou 7,33, e não veio para o brasileiro, que ficou cerca de oito minutos esperando em vão, como em El Salvador: 12,33 a 11,60.

Gabriel Medina:

Enquanto tivemos Cloudbreak de verdade, não teve para ninguém. Medina foi o dono do espetáculo. Na primeira fase, já pegou o mar quando estava melhorando e de cartão de visita marcou logo a melhor média do campeonato: 17,67 (8,50 e 9,17). Crosby Colapinto ficou em segundo com 9,96, e Connor O’Leary em terceiro, com 8,54.

Gabriel Medina em Fiji — Foto: WSL

Já no dia seguinte, nas oitavas, num mar que tinha alguns diamantes escondidos, Medina fazia bateria equilibrada com Jack Marshall, na qual cada um só tinha uma nota na casa dos cinco pontos. Medina liderava por pouco. Tenso. O Mister Cloudbreak pegou uma onda com tamanho, fez uma primeira manobra muito forte e entrou no tubo. Eu e acho que 99% das pessoas que estavam vendo já tínhamos desistido, quando Medina surgiu do outro lado, já saindo com as mãos pedindo o 10. Tão inacreditável quanto Gabriel ter saído do tubo, foi o 10 não ter saído dos juízes. Deram 9. Acho que o tricampeão tem de parar de sair dos tubos pedindo dez. Parece que não dão só de pirraça.

Gabriel Medina surfou lindo tubo e saiu pedindo nota 10

Gabriel Medina surfou lindo tubo e saiu pedindo nota 10

O australiano Julian Wilson, que já foi vice-campeão mundial e grande rival do Medina, fez um post dividindo a onda em duas partes, só com a primeira manobra e o tubo. Ela daria de 3,5 a 4,5 pela parte inicial e de 7,5 a 8,5 no passeio sob a crista, o que daria de 11 a 13 pontos.

Bateria passada não entra na água e tudo acabou nas quartas, novamente contra Griffin Colapinto, o mesmo que o derrotara em Saquarema na mesma fase. O mar já estava piorando muito, um vento forte começando a entrar, e o evento entrou em espera após a bateria.

Logo no começo, Griffin pegou uma boa onda, com tamanho para o momento, apostando em manobras com verticalidade. Achei que sairia um sete alto, mas veio um 8,33, que deu tranquilidade ao americano. O mar ia piorando e Medina apostando em aéreos, com um vento que não ajudava em nada a escolha pelos voos. Medina é Medina e conseguiu executar pelo menos um, alto, mas aterrissando sobre a crista e descendo como num floater. Bom aéreo, que rendeu 6,80, um pouco alto na minha opinião também. O mar praticamente parou, e Medina ainda tentou mais duas vezes, mas não completou a manobra.

Só falta o Finals agora. Vamos para cima, Italo e Tati.

Boas Ondas

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