Jerusa dos Santos, uma das melhores paratletas brasileiras em provas de velocidade do atletismo, ainda não digeriu o fato de ter ficado de fora do time titular do revezamento 4x100m, para deficientes visuais, que representou o Brasil na Paralimpíada Rio 2016 e conquistou a medalha de prata. Cerca de um mês e meio após o ocorrido, que fez até a acreana entrar na Justiça na tentativa de representar a equipe, a velocista lembra da situação com tristeza e uma certa revolta. Na oportunidade, Jerusa tinha a segunda melhor marca nacional e, segundo ela, foi avisada que não iria correr quando estava na capital carioca.
– Em uma próxima
oportunidade, eu não vou confiar em ninguém – falou a acreana Jerusa, em entrevista ao GloboEsporte.com/tvfronteira, durante um evento sobre inclusão no esporte, em Presidente Prudente, no interior paulista, onde mora e treina.
Conforme a velocista, tudo começou quando, ainda na aclimatação, ela informou à comissão técnica da seleção sobre um desconforto que sentia na perna e pediu para ser liberada dos treinos de revezamento e continuar apenas com os preparativos para as provas individuais, a fim de evitar uma lesão próxima aos Jogos Paralímpicos.
– Eu estava com um
desconforto na minha perna direita, e eu fui explicar o que sentia para a comissão. Eu disse que não sabia se aguentaria fazer o meu treino e o do revezamento ao mesmo tempo, e por isso eu pedi para sair dos treinos do revezamento, para que eu melhorasse totalmente, e eles me falaram que tudo bem e que não queriam nenhuma atleta com possíveis lesões.
Antes de ser informada da decisão de trocá-la, Jerusa correu os 100m rasos e foi eliminada na semifinal. Para ela, estava tudo certo com relação a sua participação também no revezamento.
– Das quatro atletas que estavam comigo, a segunda melhor marca era minha, por isso eu tinha certeza de que estaria no revezamento. Eu entendi que a comissão técnica da seleção havia me liberado dos treinos do revezamento, mas que continuaria nos meus treinos individuais normalmente. Eu falei para eles que nos Jogos do Rio eu estaria disposta e que eles poderiam contar comigo para representar a equipe.
Terezinha Guilhermina, Lorena Spoladore, Alice Corrêa e Thalita Vitória foram as escolhidas para defender o Brasil na competição. Para Jerusa dos Santos, restou a tristeza e a indignação.
– Quando nós chegamos ao Rio, a comissão técnica já havia me descartado do revezamento, mas foi me avisar
de última hora que eu não iria correr porque não participei de
todos os treinos. Eu cheguei a participar de três treinos, mas eles
falaram que eu só havia participado de um. Eu
fiquei absurdamente triste, pois eu estava contando com essa minha
participação. Eu não desejo para ninguém esta situação que passei.
Eliseu Sena, técnico da Jerusa em Prudente e que não esteve no Rio de Janeiro e acompanhou de longe a polêmica em torno da velocista, explicou que a decisão de substituir a paratleta foi tomada por uma comissão, formada por uma equipe de treinadores indicados pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) para coordenar algumas provas específicas.
– Em eventos de representação em nível mundial, como os Jogos Paralímpicos, têm uma comissão que é responsável pela equipe e treinadores indicados pelo Comitê, e são eles quem tomam decisões de substituição. A prova de revezamento é de responsabilidade de uma comissão e esta, por sua vez, decide quem corre, independente se está melhor em resultado ou não – falou Eliseu Sena, que disse não saber qual foi realmente o motivo pelo qual Jerusa foi substituída, mas não descarta que tenha sido o incômodo na perna.
– Eu não sei o que ocorreu de forma específica que levaram a decidir
colocar outra atleta no lugar dela. A Jerusa estava com tempo melhor que
das demais. Ela sentiu a perna na prova dela, pode ser por este motivo,
por segurança, que optaram por substituí-la.
O GloboEsporte.com/tvfronteira entrou em contato com o Comitê Paralímpico Brasileiro, que não se pronunciou sobre as declarações de Jerusa até o fechamento desta matéria. Na época, quando a velocista entrou na Justiça, o CPB se posicionou da seguinte forma:
"A decisão sobre a composição dos quartetos de
revezamento é meramente técnica, tomada pelos treinadores e baseada no
rendimento dos atletas nos treinos das equipes.
A prova de revezamento envolve mais fatores do que apenas
contar com os atletas de melhores tempos. Prova disso é o sucesso do Brasil em
revezamentos paralímpicos e olímpicos mesmo quando os atletas da equipe não
tiveram resultados expressivos em provas individuais.
É compreensível a frustração de um atleta quando
não alcança os resultados que gostaria. A preparação para os Jogos foi a melhor
possível, prova disso é o desempenho histórico do atletismo paralímpico
brasileiro nos Jogos Rio 2016."