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Por Heitor Esmeriz e Júlio Nascimento — Campinas, SP


Após rebeixamento para Série C, Ponte Preta e Guarani pensam em recuperação em 2025

Após rebeixamento para Série C, Ponte Preta e Guarani pensam em recuperação em 2025

A Série B de 2024 apresentou um cenário de opostos para os clubes paulistas. Enquanto Santos, Mirassol e Novorizontino brigaram o tempo todo na parte de cima da tabela, Guarani, Ponte Preta, Ituano e Botafogo-SP lutaram contra a degola.

Em relação aos times do interior, a temporada consolidou uma nova ordem, com o acesso do emergente Mirassol - além do Novorizontino ter deixado escapar a vaga no G-4 na última rodada - e as quedas dos tradicionais Guarani, Ituano e Ponte à Série C. O lugar de força "caipira" mudou de mãos. E não foi à toa - nem do dia para a noite, conforme o ge detalha abaixo.

Jogadores do Mirassol celebram acesso à Série A do Brasileiro — Foto: Pedro Zacchi/Ag. Paulistão

Fundado em 1925, o Mirassol mudou de patamar apenas neste século. O Leão chegou à elite do Campeonato Paulista em 2008, caiu em 2013 e retornou em 2017, ficando ininterruptamente há oito temporadas e com presenças carimbadas no mata-mata.

A nível nacional, o clube disputou a Série D em 2009, 2011, 2012 e 2018, mas só conseguiu sucesso em 2020, quando foi campeão. Depois de duas temporadas na Série C, conquistou o título em 2022 e a vaga na Série B pela primeira vez, se tornando uma das 22 equipes com taças em mais de uma divisão nacional.

Um divisor de águas para ascensão do Mirassol foi a venda do atacante Luiz Araújo. Revelado pelo Leão, o jogador foi negociado pelo São Paulo para o Lille, da França. O clube tinha 30% dos direitos econômicos e faturou quase R$ 8 milhões. Boa parte desse dinheiro foi usada para construir o CT inaugurado em 2018.

Fachada do CT do Mirassol — Foto: Arcílio Neto

Em apenas cinco anos, o Leão deixou de ser um time sem divisão nacional e vai disputar a Série A do Brasileiro pela primeira vez justamente no ano do seu centenário (2025).

O novo Novorizontino

O Novorizontino foi fundado em 2010 para ocupar o lugar deixado pelo antigo Grêmio Esportivo Novorizontino, que chegou a disputar a final do Campeonato Paulista e conquistar o título da Série C antes de fechar as portas, no final da década de 1990.

A exemplo da agremiação extinta, o Tigre é vinculado à família Biasi e manteve cores e identidade visual embora, na teoria, seja um novo clube. A primeira participação em uma competição profissional - a Bezinha - foi em 2012 e, logo de cara, veio o acesso à Série A3.

Anderson Cavalo comemora gol do Novorizontino contra o Água Santa, pela Série A3 2014 — Foto: Wiliam Lima / Novorizontino

Foram três acessos em quatro anos: Bezinha (2012), Série A3 (2014) e Série A2 (2015).

Estreando na elite em 2016, o Novorizontino teve uma campanha modesta, mas sem riscos. Entre 2017 e 2019, o Aurinegro se classificou às quartas de final ano após ano. Curiosamente, foram três encontros - e eliminações - com o Palmeiras no mata-mata.

A consolidação no cenário estadual traria ainda outros frutos, rendendo ao clube a oportunidade de passar a disputar a quarta divisão do Campeonato Brasileiro. O acesso ocorreu apenas na terceira participação do clube na Série D, em 2018, quando chegou à semifinal com a melhor campanha do torneio.

Na terceira divisão, o Aurinegro repetiu o que havia feito em âmbito estadual, anos atrás, e não fez hora, saltando direto para a Série B logo no seu primeiro ano.

Torcida do Novorizontino comemora acesso à Série B — Foto: Guilherme Videira/Grêmio Novorizontino

O ano mais desafiador do progresso do Novorizontino foi o de 2022, quando o Tigre fez um péssimo Paulistão. Não venceu um jogo sequer e acabou rebaixado com uma campanha de apenas três pontos.

A queda não fez o Novorizontino tirar o pé do acelerador. Sob o comando de Eduardo Baptista, o time voltou à elite estadual com o vice-campeonato da Série A2 em 2023 e ainda chegou às quartas de final em 2024, eliminando o São Paulo e caindo para o Palmeiras na semifinal.

A consistência do trabalho foi mantida e o Tigre esteve muito próximo de confirmar vaga na Série A do Campeonato Brasileiro, mas perdeu a vaga no G-4 na última rodada. Com a derrota para o Goiás na 38ª rodada, o Tigre foi ultrapassado pelo Ceará - ambos terminaram com 64 pontos, mas o Vozão ficou com o acesso pela diferença no número de vitórias (19 a 18).

Veja o drama e a festa da reta final emocionante da Série B

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O declínio do futebol campineiro

Se no passado Campinas ficou conhecida como a “capital do futebol”, quando Guarani e Ponte Preta produziam promessas para a seleção brasileira e brigavam por títulos de relevância, o atual cenário é devastador.

Com a confirmação dos rebaixamentos de Guarani e Ponte Preta na Série B, o dérbi será disputado pela primeira vez na terceira divisão do Campeonato Brasileiro em 112 anos de rivalidade.

Ponte Preta x Guarani — Foto: Raphael Silvestre/GuaraniFC

No fim da década de 70, por exemplo, Ponte e Guarani tinham grandes esquadrões e realizavam campanhas de destaque no cenário nacional (o Bugre foi campeão brasileiro em 1978), levando Campinas a ser chamada de "capital do futebol" em manchetes de jornais e revistas. A dupla campineira também decidiu o primeiro turno do Campeonato Paulista de 1981.

Já neste século, outro dérbi memorável valeu vaga para a final do Paulistão 2012. Na oportunidade, o Bugre levou a melhor de virada no Brinco de Ouro e se classificou ao fazer 3 a 1 naquele que ficou conhecido como o "Dérbi do Século".

Desde quando os pontos corridos foram adotados no Brasileirão, Campinas marcou presença em dez edições da elite nacional: o Bugre esteve presente em 2003, 2004 e 2010, enquanto a Macaca jogou a primeira divisão em 2003, 2004, 2005, 2006, 2012, 2013, 2015, 2016 e 2017. O último clássico disputado na Série A foi em 2004.

Guarani foi rebaixado na lanterna — Foto: Marlon Costa/Pernambuco Press

Nos últimos anos, o Guarani não conseguiu se firmar no cenário nacional. O campeão brasileiro em 1978 flertou com momentos gloriosos com o acesso na Série B em 2009 e o vice-campeonato estadual em 2012, perdendo para o Santos de Neymar.

Desde então, conviveu com problemas extracampo, como dificuldades financeiras e dívidas que levaram ao leilão do Brinco de Ouro, acumulando três rebaixamentos no período: dois na Série B (2012 e 2024) e um no Paulistão (2013) - ao todo, são 10 no século.

Embora a diretoria atual tenha o foco na organização financeira - o que funcionou para diminuição das dívidas e salários atrasados -, o clube definhou dentro de campo. A temporada só não foi mais trágica porque a queda no Paulistão foi evitada na última rodada da primeira fase com vitória diante dos reservas do Bragantino, mas na Série B o pior não foi evitado.

Rebaixado com duas rodadas de antecedência, o Guarani colecionou números negativos na competição. Foram 32 rodadas como lanterna - sendo 31 seguidas - e todas na zona de rebaixamento. É o terceiro time que mais ficou na última colocação na era dos pontos corridos, ficando atrás só de ABC (36, em 2023) e Duque de Caxias (37, em 2011), empatado com o Boa Esporte de 2018.

Macaca foi rebaixada na penúltima rodada da Série B — Foto: Heber Gomes/AGIF

A Ponte Preta também não escapou das mazelas e consequências de administrações ruins. Depois de chegar à final da Sul-Americana em 2013, flertar com vaga na Libertadores no Brasileirão de 2016 e ficar com o vice-campeonato no Paulistão de 2017, a Macaca acumulou três rebaixamentos nos últimos sete anos.

Caiu no Brasileirão de 2017, depois foi rebaixada à Série A2 do Paulistão em 2022 e agora na Série B de 2024. O único torneio em que conseguiu a reviravolta foi o estadual, ficando com o título da segunda divisão em 2023 e retornando à elite nesta temporada, quando chegou às quartas de final e perdeu para o Palmeiras.

Ponte Preta apresenta Alberto Valentim como novo técnico para próxima temporada

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Herança de gestões passadas, a dificuldade financeira impediu que a Macaca conseguisse montar times competitivos, e a equipe não teve sucesso com as escolhas do presidente Marco Antonio Eberlin, que participou de dois dos três rebaixamentos citados anteriormente (2022 e 2024).

Apesar de algumas campanhas marcantes neste século, a Macaca tem um choque com a nova realidade com o retorno à Série C, competição que o clube não disputava desde 1990.

O pior ano da história do Ituano

A última vez que o Ituano não jogou a elite foi em 2001. Neste período se estabeleceu como figurinha carimbada no torneio e foi o time do interior com maior relevância em conquistas.

Ituano se despede da Série B com derrota

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Em 2002, o Galo de Itu foi campeão, tendo a oportunidade de jogar o Supercampeonato Paulista depois, quando venceu o Corinthians na semifinal e perdeu para o São Paulo na final. Naquele time, jogavam craques como Basílio, Richarlyson, Lúcio e Pierre.

Depois de perigar e quase ser rebaixado em quatro anos diferentes (2009, 2010, 2011 e 2013), o Ituano conquistou o bicampeonato em 2014, feito único no interior paulista. Desde então, classificou-se para as quartas nas edições de 2019 e 2022, mas não evitou o rebaixamento em 2024.

ITUANO CAMPEÃO PAULISTA 2014 — Foto: Marcos Ribolli

Na Série B, o clube figurava desde 2022 - após o título da terceira divisão na temporada anterior -, ano em que chegou à última rodada com chance de acesso à Série A, mas acabou perdendo a vaga para o Vasco.

Após um início de ano conturbado, com a queda no Paulistão, o Galo não se recuperou e fez péssima campanha, passando praticamente toda a competição dentro da zona de rebaixamento e retornando à terceira divisão após três temporadas.

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