A profissionalização veio aos 50 anos. A aposentadoria (tardia?) aos 53. Cerca de 20 jogos e um gol marcado depois, Anelisio Machado pendurou as chuteiras. Os números podem parecer confusos, mas é isso mesmo que o presidente, e agora ex-jogador, do Fluminense de Joinville ostenta no curto período em que esteve no meio dos profissionais.
O sonho de criança foi realizado com uma idade fora do comum. A despedida também. Ela veio na última semana, na noite de 24 de outubro, na vitória do Fluminense sobre o Blumenau, por 3 a 0, pela penúltima rodada da Copa Santa Catarina.
O gol não saiu, mas a participação em um deles foi decisiva para o centroavante, daqueles legítimos camisa 9, mas também com qualidade na batida. As bolas paradas, quando Anelísio estava em campo, ficavam com o presidente.
– Consegui jogar 85 minutos e dei a assistência para o terceiro gol. Foi escanteio, peguei a bola e bati bem. Tive a felicidade de colocar na cabeça do Victor. E olha que coisa boa, foi o primeiro gol dele como profissional. Essas coisas não têm preço – disse Anelísio, por telefone.
Apaixonado por futebol, Anelisio esteve um pouco ausente dos gramados neste ano. Disputou apenas uma partida da Copa Santa Catarina. A campanha política - concorreu para deputado estadual - tirou o precioso tempo para estar nos treinos, viagens e concentrações.
– Hora de dar uma parada. Estava dois meses sem jogar, fora de ritmo. A Série B estadual e a Copa Santa Catarina tem um ritmo forte e eu estou devagar. Sou centroavante, hoje jogo com mais inteligência, mais parado lá na frente. Mas consegui dar conta. Nunca fui craque, mas sempre tive um sonho e consegui realizar. Foi um momento mágico, tive a felicidade de encerrar bem.
Torcedor do Joinville, Anelísio tirou o Fluminense do amadorismo e colocou no cenário estadual, quando tinha 49 anos. A equipe está na segunda divisão do Campeonato Catarinense e faz uma campanha mediana na Copa Santa Catarina, com duas vitórias, três empates e quatro derrotas.
Mas foi com o Flu que Anelísio realizou outro sonho. O desejo antigo de ser jogador de profissional ganhou um enredo mais empolgante ao marcar o único gol da carreira. Em 2016, na Série C do Catarinense, bateu o pênalti que garantiu o triunfo de 2 a 0 sobre o Imbituba.
– Era um sonho de garoto, não dé nem para descrever o momento maior que foi marcar o gol. Fico sem palavras. Entrei, bati o pênalti. São momentos especiais na vida da gente. Quando a bola entrou, nem sabia o que fazer. É uma situação especial, são poucos os que marcaram gol com essa idade no profissional, talvez nenhum.
- Cheguei a fazer escolinha quando jovem, mas era pobre e optei em estudar. Só depois de velho que tive a chance de fazer tudo que gostaria quando era um adolescente.
A despedida foi para poucas pessoas. Segundo boletim financeiro, 51 pessoas assistiram ao adeus de Anelísio como jogador, entre elas o neto, que posou para foto com o agora somente presidente. As atenções voltam ao Fluminense, um projeto com atenção para o local.
Segundo Anelísio, boa parte dos jogadores são da região e com o propósito de dar oportunidade. Neste ano, o time esteve perto de subir para a primeira divisão estadual, mas a permanência na segunda já é encarado como um prêmio ao ex-camisa 9.
– É um aprendizado a cada ano, sempre com o pé no chão. Trabalhamos em cima do que arrecadamos, não temos dívida nenhuma, é um projeto transparente. Eu falo para a garotada, o Fluminense não é um clube para eles ganharem dinheiro, mas sim de oportunidade. A média é de 22 anos. Nosso projeto é valorizar a garotada da região, incentivar o esporte. Esse é o objetivo. Se subir para a elite, ótimo. Mas estamos satisfeitos em nos mantermos na Série B.
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