C'est Parti Paris! Julia Soares é o futuro da ginástica artística brasileira
Sensação da ginástica artística em Paris, Julia Soares tem apenas 18 anos de idade, e 14 deles dedicados ao esporte. Do início em Curitiba até Paris, ela vendeu bombons, fez rifas, treinou em trave improvisada na pandemia, e colecionou medalhas nas principais competições nacionais e internacionais.
A caçula da ginástica artística brasileira vai disputar a final individual na final da trave de equilíbrio em sua estreia olímpica depois de conseguir nota 13,800 com um movimento inédito e que carrega seu próprio sobrenome. A disputa pela medalha é nesta segunda-feira, a partir das 7h36 (de Brasília).
Cria de Iryna Ilyashenko
Técnica de Julia, Iryna Ilyashenko é ucraniana, mas vive no Brasil há mais de 20 anos e se tornou uma das principais treinadoras de ginástica do Brasil. Foi ela quem viu o talento de Julia desde os quatro anos de idade e puxou a atleta para o alto rendimento.
Por muito tempo Iryna foi assistente de Oleg Ostapenko, treinando Daiane dos Santos, Jade, Rebeca Andrade e outras atletas da seleção em Curitiba. O Centro de Excelência em Ginástica do Paraná foi casa da ginástica brasileira entre 2001 e 2008. Julia, ainda criança, pôde conviver ali com atletas que se tornaram referência.
Desde o fim do ciclo olímpico de Tóquio, Iryna Ilyashenko já cravava, ao ge, que Julia estaria em Paris.
O Soares
Julia tem um movimento inédito e que carrega seu próprio sobrenome. "Soares" é o nome da manobra que ela utiliza para subir na trave e começar as séries desde que ela tinha 15 anos. O movimento consiste em pegar impulso no trampolim, executar uma meia pirueta que faz o corpo ultrapassar o aparelho e terminar do lado oposto ao que começou, agarrada com os braços de cabeça para baixo.
Julia Soares consegue 13,800 na trave e consegue vaga na final
Julia registrou a entrada no código da Federação Internacional de Ginástica (FIG) com a treinadora Iryna Ilyashenko em 2021.
Família engajada
Os pais de Julia Soares, Fabiana e Jackson, ajudaram a filha a vender bombons e organizaram rifas e vaquinhas para conseguir bancar as viagens da filha no começo da carreira.
A família de Julia está em Paris, com uniformes personalizados na torcida. No primeiro dia de apresentações, eles escreveram um cartaz em busca de ingressos para a irmã e os tios, e foram surpreendidos pelo ginasta e ex-BBB Petrix.
O pai de Julia, Jackson, gosta muito de futebol e conta ter passado pelas categorias de base do Coritiba quando mais novo. Ele, coxa-branca, se casou com a mãe de Julia, que é atleticana. Julinha diz não ter time para não criar atrito.
A trave improvisada
Durante pandemia de Covid-19, o pai e o tio de Julia construíram uma barra fixa no quintal de casa e uma trave improvisada para que a garota conseguisse treinar.
— Eu e o Valdir construímos uma trave, uma paralela, e um amigo nosso conseguiu alguns tatames para o salto. Usamos madeira, espuma e EVA. A paralela fizemos com tronco de madeira, ferro e cabo de aço. Amigos ajudaram, doaram, conseguimos tudo - lembra o pai, Jackson.
Irmã bailarina
A mãe de Julia, Fabiana, levava a filha mais nova para assistir a irmã, Giovanna Soares, na escolinha. Julia se apaixonou. Como a irmã fazia balé e ginástica, Julia também quis fazer balé e ginástica.
Cinco anos mais velha que Julia, Giovanna também tem veia artística. Ela é formada pela Escola de Dança do Teatro Guaíra, e graduada em Educação Física.
O violino
Em casa, a curitibana tem um violino, um dos instrumentos musicais mais complexos. Movida a desafios, ela chegou a fazer aulas, que assim como na ginástica, exigiram de Julia dedicação e foco. A vontade de aprender faz parte da personalidade de Julia.
Embalada por uma trilha sonora original
Na Copa do Mundo de ginástica artística em Stuttgart, na Alemanha, a "Julinha" encantou ao som da música tema do filme Aladdin e conquistou a medalha de ouro. Por muito tempo, aquela tinha sido a música de Julia na ginástica, mas uma Olimpíada exigia uma trilha sonora nova, e original.
Julia queria um samba, mas a equipe achava importante que a música tivesse relação com a cultura francesa, que tocasse o coração do povo de Paris. Um sonho de Iryna trouxe a ideia de usar Milord, de Edith Piaf. No sonho, Iryna viu franceses aplaudindo e vibrando no ginásio com essa música ao fundo.
Com a ajuda de Iryna e do técnico e coreógrafo Rhony Ferreira que, como Julia, é paranaense, a atleta decidiu usar uma combinação de Cheia de Manias e Milord, e conseguiu levar o gingado brasileiro sem demonstrar nervosismo e ganhando o público no carisma.
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