Quando o Paraná Clube precisava sustentar o resultado por apenas mais um minuto, uma cobrança de falta a favor do Patriotas fez passar um filme na cabeça da torcida paranista. Gol no lance final e mais uma eliminação precoce, dessa vez na primeira fase da Segunda Divisão do Campeonato Paranaense.
Paraná e Patriotas empataram em 2 a 2 na Vila Capanema. Com a vitória do Iguaçu contra o Araucária, e do PSTC diante do Andraus, o G-4 da Segundona ficou com Patriotas, Andraus, Iguaçu e PSTC. O Tricolor vai continuar jogando apenas a Divisão de Acesso em 2024.
Paraná Clube está fora da segunda divisão do paranaense
A tarefa não era das mais difíceis. Com um dos maiores orçamentos, o Paraná precisava ficar entre os quatro melhores de 10 equipes. Porém, em uma sucessão de erros, a diretoria paranista conseguiu não avançar em um torneio semiamador.
O problema do Tricolor foi o número de empates - mais da metade das partidas: cinco das nove da primeira fase. Durante a competição, ficou cinco rodadas sem vencer. No meio do caminho, o técnico Marcão foi demitido para dar lugar à Fahel Júnior.
Quando as vitórias voltaram, na sétima rodada, já era tarde - o time sabia que precisaria vencer os três jogos finais para classificar. As esperanças do torcedor foram alimentadas até os últimos segundos da rodada final, e a eliminação com requintes de crueldade é só mais um capítulo de enfraquecimento da história paranista.
Os motivos do fracasso
Incompetência
Ao ge, logo após assumir a presidência, Rubens Ferreira Silva disse em outubro de 2021 que "Tenho que ser muito incompetente para deixar o Paraná pior que se encontra". Ele conseguiu, com sobras.
No ano passado, o Tricolor caiu para a Divisão de Acesso do Paranaense e não se classificou na Série D do Brasileiro. O resultado foi ficar sem calendário nacional pela primeira vez na história.
Em 2023, Rubão teve seis meses para montar um elenco que foi insuficiente para chegar entre os quatro primeiros de um torneio de baixíssimo nível técnico. No período, fechou um patrocínio com uma casa de entretenimento adulto com a justificativa de que precisava do dinheiro.
A imagem do clube, como se já não tivesse arruinada o suficiente, foi contemplada com esse valor que não adiantou em nada no objetivo esportivo. Ao menos, o clube vive com salários em dia, algo que é uma obrigação, mas comemorada como um feito grandioso da direção.
Sumiço
Assim como o antecessor Leonardo Oliveira, a diretoria atual vive constante fuga da imprensa e escolhe para quem fala. A gestão, vale lembrar, foi eleita com o slogan "Transparência e responsabilidade".
Quando raramente fala, Rubão usa as mesmas desculpas de anos anteriores: herança maldita, promessas (depois não cumpridas,) pedido de apoio para o sofrido torcedor, entre outros.
Nesta segunda-feira, o Paraná chegou a convocar uma coletiva para (tentar) explicar um novo fiasco. Pouco antes, o clube voltou atrás e optou por um pronunciamento sem questionamentos por "medida de segurança".
Velhas caras novas
Após fazer parceria com a LA Sports em 2022, em outro exemplo de repetir algo que já não tinha dado certo, a diretoria comandada por Rubens Ferreira Silva decidiu apostar novamente em insucessos do passado. Dessa vez, os dois nomes conhecidos da torcida para comandar o departamento de futebol foram Paulo Cesar Silva e Marcos Amaral.
Paulão, como é conhecido, atuou como dirigente do clube em duas oportunidades distintas. Na década de 1990, ele esteve na conquista do tetracampeonato estadual em 1996.
Depois entre 2010 e 2013, ficou marcado pelo rebaixamento para a Divisão de Acesso do Paranaense em 2011 - ele também foi vice-presidente. Essa parte do currículo, inclusive, foi pedida para ser "apagada" pelo clube ao ge, que comprovou o trabalho do dirigente na época.
Na última passagem, o dirigente deu uma declaração que virou folclore entre a torcida ao prometer um "presente de Natal" que nunca chegou. Na ocasião, em dezembro de 2010, Paulão afirmou que o jogador prestes a ser anunciado foi um pedido especial do técnico Roberto Cavalo para reforçar elenco para 2011.
Já no ano passado, sem cargo no clube, Paulão fez parte do comitê de futebol do movimento "Salve o Paraná", que ajudou o clube a manter as contas em dia na disputa da Série D. O Tricolor fracassou, não conseguiu o acesso e não tem divisão nacional pela primeira vez.
Já Marcos Amaral era proprietário da Amaral Sports, que ajudou na montagem dos elencos do Paraná entre de 2010 e 2015. O time caiu no Paranaense em 2011 e brigou para não cair em quase todos esses anos na Série B.
Ele tinha dois processos contra o Tricolor na Justiça por conta de empréstimos feitos ao Paraná e direitos econômicos de três atletas (meias Fernando Gabriel e Ronaldo Mendes e o atacante Léo). Em 2020, o clube e o empresário fizeram um acordo de R$ 1,6 milhão.
A dupla fez um péssimo trabalho e não conseguiu que o Paraná chegasse sequer às semifinais. Paulão, inclusive, abandonou o clube por "divergências" três semanas antes de terminar a Segundona.
Muitos reforços sem qualidade
Junto com o presidente Rubão, a dupla do futebol trouxe 24 contratações para a competição - o último após a terceira rodada. Os nomes vieram principalmente da A-2 e A-3 do Paulistão, em times que também não tiveram desempenhos esportivos satisfatórios.
Na reta final, no desespero, a cúpula subiu quatro atletas do sub-20 para tentar preencher lacunas no elenco. O exemplo claro do despreparo e falta de convicção, algo que essa direção demonstrava em seu histórico.
Troca de técnico
Em levantamento do ge, o clube é quem mais mudou o comando desde 2013: 24 vezes. Para manter a tradição, o Paraná conseguiu trocar de técnico em um torneio de apenas 10 jogos na primeira fase.
Marcão, ex-jogador e técnico da base do Athletico, foi demitido após cinco partidas: uma vitória, três empates e uma derrota. O Tricolor estava na sexta colocação, com seis pontos, um a menos que a zona de classificação.
Fahel Júnior foi o escolhido e estava desempregado após ser demitido da Lemense-SP durante a Série A-2 do Paulista. Ele saiu depois de nove jogos no clube de São Paulo, que acabou rebaixado para a A-3 como último em 15 partidas.
Pelo Paraná, o treinador teve duas vitórias e dois empates, invencibilidade insuficiente para levar o time à semifinal. O Tricolor terminou em quinto, um ponto abaixo do G-4.
Futuro
Incógnita. É assim que o Paraná sobrevive a cada dia.
Em campo, o Tricolor só retorna em abril ou maio de 2024 para disputar novamente a Divisão de Acesso. Já competição nacional não será possível, pelo menos, até 2026.
Fora de campo, o clube evitou a falência e conseguiu aprovar a Recuperação Judicial (RJ) junto aos credores, com descontos de 10% a 50% na dívida de R$ 119 milhões. Com isso, o débito diminuiu para aproximadamente R$ 60 milhões para pagamento em 10 anos.
A quem sabe última tentativa de salvação passa pela venda da Sociedade Anônima do Futebol (SAF). A ideia é que o comprador assuma a dívida, invista em R$ 100 milhões e, em contrapartida, fique com os imóveis do Paraná como garantia e com o controle das eventuais receitas do clube até 2033.
O grupo que tem negociação avançada é formado por três empresas brasileiras. Os ramos delas são distribuidora de alimentos, loja de varejos e uma igreja presbiteriana.
Já os débitos fiscais e tributários, que não entram na recuperação judicial, estão sendo tratados direto com a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional. O clube protocolou o pedido de transação tributária, com expectativa de um acordo neste ano com a venda da SAF.
De acordo com o balanço financeiro de 2022, a dívida total do Paraná é de R$ 156,3 milhões. O prejuízo no ano passado foi de R$ 823 mil.
Linha do tempo
2017: O Paraná conquistou o tão sonhado acesso à Série A do Campeonato Brasileiro após 10 anos na Segunda Divisão.
2018: Foram 52 jogos disputados em 2018, entre Campeonato Paranaense e Série A, e apenas nove vitórias. O fracasso no Campeonato Brasileiro resultou em um rebaixamento precoce com seis rodadas antes do fim da competição.
2019: Fechou a Série B em 6º lugar, com 56 pontos - a seis pontos do G-4.
2020: Campanha mediana no Paranaense, com quatro derrotas, quatro empates e três vitórias. O Paraná terminou o Estadual na 8ª colocação entre 12 equipes. Em razão da pandemia a Série B 2020 terminou só no ano seguinte... com o rebaixamento.
2021: No dia 26 de janeiro de 2021, o Paraná foi rebaixado para a Série C do Brasileiro pela primeira vez depois da derrota para o Oeste, na penúltima rodada da Série B 2020. No mesmo ano, iniciou a Terceira Divisão em busca pelo acesso. Em setembro, depois de 18 jogos e dez derrotas, o Tricolor viveu segunda queda no mesmo ano, indo para última divisão do futebol brasileiro.
2022: Em 10 jogos do Campeonato Paranaense, o Paraná venceu apenas um jogo e empatou outro. No dia 26 de fevereiro o Tricolor perdeu por 3 a 1 para o União e foi rebaixado no Estadual. Aos 40 minutos do segundo tempo, torcedores do Paraná invadiram o gramado para agredir os jogadores. Em agosto, no interior de Minas, veio a eliminação na Série D. O Paraná perdeu para o Pouso Alegre no mata-mata por 1 a 0. Para retornar o mais rápido possível ao calendário de competições da CBF, o Tricolor precisaria subir para a primeira divisão estadual de 2024 e, a partir do Paranaense, tentar vaga para a Série D de 2025.
2023: Paraná encerrou a participação na Segunda Divisão do Paranaense com cinco empates, três vitórias e uma derrota. O time, que não teve a torcida no estádio por cinco jogos pela invasão em 2022, não classificou entre os quatro primeiros para ir às semifinais da Divisão de Acesso. Apenas os finalistas subiam para a primeira divisão. Assim, só pode ter calendário nacional em 2026, se tudo der certo.
Paraná em divisões nacionais
- 1990 - Série C
- 1991 - Série B
- 1992 - Série B
- 1993 - Série A
- 1994 - Série A
- 1995 - Série A
- 1996 - Série A
- 1997 - Série A
- 1998 - Série A
- 1999 - Série A
- 2000 - Módulo Amarelo (formado por times das Séries B e C)
- 2001 - Série A
- 2002 - Série A
- 2003 - Série A
- 2004 - Série A
- 2005 - Série A
- 2006 - Série A
- 2007 - Série A
- 2008 - Série B
- 2009 - Série B
- 2010 - Série B
- 2011 - Série B
- 2012 - Série B
- 2013 - Série B
- 2014 - Série B
- 2015 - Série B
- 2016 - Série B
- 2017 - Série B
- 2018 - Série A
- 2019 - Série B
- 2020 - Série B
- 2021 - Série C
- 2022 - Série D
- 2023 - sem divisão
- 2024 - sem divisão
Veja também