Ex-zagueiro de Palmeiras, Coritiba e Vitória, Maurício Ramos está perto de iniciar uma nova fase. Depois de pendurar as chuteiras e se aventurar na várzea, ele agora vai começar a carreira de treinador. O primeiro trabalho será no Iraty, justamente onde estreou como jogador, agora na disputa da Terceira Divisão do Campeonato Paranaense.
Maurício Ramos relembra tempos de Palmeiras e lições de Dorival e Luxemburgo
Além da vivência dos tempos em campo, Maurício Ramos leva para a função de técnico o que aprendeu com outros nomes com quem trabalhou, como Dorival Júnior, Vanderlei Luxemburgo, Muricy Ramalho e outros. Em entrevista exclusiva ao ge, ele fala sobre inspirações, relembra o auge, revela bastidores da passagem pelo Palmeiras e detalha como lidou com a aposentadoria.
— Tenho perfil para ser treinador, pelo meu jeito dentro de campo, de orientar, de organizar. Acho que tenho perfil, e por isso fui estudar. Agora é tentar resgatar a essência que o Iraty tinha, trazer o torcedor para o estádio e sonhar em colocar de novo o Iraty no cenário nacional - disse Maurício Ramos em entrevista exclusiva ao ge.
Pai Dorival, Luxa Profexô e um ranzinza (mas nem tanto)
Maurício Ramos é natural de Piracicaba, mas estreou como profissional no Iraty, que em 2005 era um clube revelador de jogadores das categorias de base. Em 2006, ele jogou a Copa do Brasil pelo Iraty contra o Vasco, e no mesmo ano foi para o São Caetano, onde conheceu Dorival Júnior.
— Quando o presidente do São Caetano ligou para Sérgio Malucelli pedindo um zagueiro, ele disse: “Se esse menino não jogar, eu pago o salário dele”. Eu falei: “Fica tranquilo, pai. Essa é a oportunidade da minha vida.” Eu fui para lá e comecei a jogar. Dali o Maurício deslanchou.
— Dorival é até hoje o mesmo cara que eu conheci lá atrás. Chamo ele de pai Dorival. Ele gosta de trabalhar com os meninos, de dar oportunidades como me deu. É só olhar para a nossa seleção. Falei com ele um dia desses, e ele falou sobre o desejo de mudar a seleção, de recuperar a essência. Ele é um cara muito paizão para os jogadores, que vai ensinar e vai cobrar - destaca Maurício Ramos.
Dorival Júnior também foi treinador de Maurício Ramos no Coritiba em 2008. Naquela temporada, o Coritiba foi campeão paranaense dentro da Arena da Baixada, casa do principal rival.
— Teve uma época minha no Coritiba que eu estava achando que estava bem, estava legal. Dorival me chamou na salinha e perguntou o que estava acontecendo. Eu falei: “como?”. Ele me cobrou de um jeito… E aquilo só me fez ter mais concentração. Eu escutava muito ele, observava, aprendia.
Sem a valorização financeira que esperava do Coxa, o zagueiro acertou com o Palmeiras de Vanderlei Luxemburgo.
— Vanderlei Luxemburgo é muito fera. É um cara muito positivo, um cara motivador, inteligente, que sabe usar os guerreiros que estão ali, sabe modificar o time, sabe usar a transição rápida… é um cara muito vencedor. Com ele não interessava se o cara era uma referência ou se o cara era menor. Não importava nome ou status, ele cobrava igual, e cobrava muito.
Ex-zagueiro de Palmeiras e Coritiba, Maurício Ramos se prepara para ser técnico do Iraty
No Palmeiras, Maurício Ramos também teve a oportunidade de trabalhar com Muricy Ramalho, e foi campeão da Copa do Brasil em 2012 com Felipão.
— O Muricy é outro paizão. Ranzinza, brigava até com o espelho, mas defendia muito os jogadores. Eu só trabalhei com os feras, com gente que tinha fome de vencer. Aprendi muita coisa com os treinadores que eu trabalhei - reforça.
Iraty x Vasco
Dos tempos de Iraty, Maurício Ramos relembra um jogo que ficou marcado no clube: um empate por 2 a 2 com o Vasco, pela Copa do Brasil de 2006. Era a segunda fase da competição, e os times fizeram o jogo de ida no estádio Coronel Emílio Gomes, em Irati.
— Foi muito louco pra gente. Colocaram arquibancada móvel no estádio. Para nós era a realização de um sonho, estar no profissional, jogar contra uma grande equipe de cenário nacional. Foi muito motivante, para nós e para toda a cidade. Com dois a menos, conseguimos empatar em 2 a 2 aqui. Foi uma experiência muito gratificante e muito gostosa porque não tínhamos sentido aquela atmosfera ainda, de ver o nosso torcedor nos apoiando no estádio lotado. Foi maravilhoso.
Em 2006, Iraty e Vasco empatam por 2 a 2 em jogo de ida da 2ª fase da Copa do Brasil
— E depois, o que aconteceu? Sei lá, a maioria do time pegou salmonella, comeu maionese estragada, deu ruim... Dois suspensos. Fomos lá para o Rio e perdemos de 5 a 1.
Do céu ao inferno
— Meu melhor momento no Palmeiras foi em 2009, antes de eu me machucar. Eu estava sendo cotado para seleção brasileira. Foram Diego Souza e Cleiton Xavier na época. Eu estava em um momento muito bom, tudo estava dando certo, mas veio a lesão e fiquei fora. Voltei depois de três meses e perdemos aquele título, da mesma forma como o Botafogo de 2023. Estávamos 12 pontos à frente na tabela e perdemos aquele título do Brasileiro, para o Flamengo do Adriano Imperador.
— O sentimento mais frustrante da minha carreira foi a queda com o Palmeiras para a Segunda Divisão, e o momento mais feliz foi ter sido campeão da Copa do Brasil. Tudo tem um propósito.
Brigou com Obina?
— Quando eu chego no Palmeiras, tinha dois Maurícios. O Luxemburgo pergunta o meu sobrenome e define que eu seria o Maurício Ramos. Todo mundo confunde o Maurício Ramos com o Maurício que brigou com o Obina. Eu chego na rua e os meninos falam. Aí a gente explica.
Seis anos fora do Brasil
— Quando chegou a proposta do Emirados Árabes, como o Palmeiras já estava querendo me liberar e reformular o Palmeiras, eles me liberaram. Ali acabou minha história com o Palmeiras e começou um outro capítulo da minha vida. Quando eu desci no aeroporto de Dubai e olhei para aquele lugar, eu disse que não voltaria mais para o Brasil. Falei que ia aprender o que precisasse, e tive a sorte de ter uma comissão técnica brasileira nesse começo. Paulo Bonamigo era o treinador na época.
Fim da linha
— Voltei ao Brasil com 34 anos, fiquei na Chapecoense, depois fui para o Vitória, passei pela pandemia e depois vi que era hora de jogar no time da minha cidade, o XV de Piracicaba, que era um sonho meu, já com o pensamento de encerrar a carreira. Fiquei um ano ali e quando ia aposentar, o professor Moisés Egert me levou para a Portuguesa Santista.
— Eu fui vendo que estava ficando mais lento. Quando o menino da o tapa na sua frente e você precisa fazer uma força danada para correr e não alcança, tem que parar, não dá. Minha filha, Yasmin, é corneteira. Falava que eu tava pesado. Joguei mais anos que eu esperava. A ideia era encerrar em 2021.
Zagueiro da Briosa, Maurício Ramos, fala sobre o campeonato paulista da série A2
Parceria com Thiago Heleno
— Thiago Heleno é meu irmãozão. Éramos dois doidos. Um cara muito gente boa, de um coração enorme. Fico muito feliz por ver ele jogando ainda. Henrique também jogou com a gente, parou ano passado. Nós três nos conhecíamos pelo olhar. Thiago é uma pessoa que briga pelo grupo. Sempre nos demos muito bem e a gente se fala até hoje.
Carreira como treinador
— Estou muito feliz, muito motivado, muito ansioso para começar. Eu ando na rua em Irati e vejo a credibilidade do torcedor. Estou esperançoso, quero fazer um grande trabalho. Fui muito vitorioso como jogador, e também quero ser vitorioso como treinador. É correr atrás, trabalhar muito, ter muita determinação. Espero fazer um grande trabalho
— Vamos trazer jogadores que tenham a mesma vontade minha, a mesma ambição de vencer no futebol. Daremos oportunidade aos mais jovens. O jogador que vier para o Iraty, empresários terão que pagar o salário, porque nós não temos condições, ou faremos alguma parceria. Estamos indo atrás de recursos e de investidores que possam nos ajudar, e de empresários que tenham jogador com ambição.
— A minha história é bonita. Sou muito grato ao Sérgio Malucelli, porque ele foi um cara que acreditou muito em mim. Quando o presidente do São Caetano ligou para ele pedindo um zagueiro, ele disse: “Se esse menino não jogar, eu pago o salário dele”. Eu falei: “Fica tranquilo, pai. Essa é a oportunidade da minha vida.” Eu fui para lá e comecei a jogar. Dali o Maurício deslanchou.
Terceira Divisão do Paranaense
A Terceirona de 2024 terá Arapongas, Araucária, Batel, Cambé, Cascavel CR, Campo Mourão, HOPE, Iraty, Portuguesa Londrinense, Prudentópolis, REC, Toledo, União e Verê. A competição será disputada em quatro fases, de 24 de agosto a 24 de novembro. Só os dois finalistas garantem o acesso.
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