Enquanto o Flamengo está a um
empate para a conquista do título do Campeonato Carioca e próximo da
classificação para as oitavas-de-final da Libertadores, a situação do “primo
pobre” no Piauí é delicada. Em crise financeira, que obrigou o clube a reduzir
os salários dos jogadores, e com uma campanha ruim no returno do Campeonato
Piauiense (três derrotas em quatro jogos), o Flamengo-PI passa por uma fase
conturbada nos bastidores: um grupo de sócios torcedores questiona a venda da
antiga sede do time piauiense, segundo eles, por R$ 18 milhões. De acordo com a
denúncia, o ato teria irregularidades e foi realizado sem a presença dos
proprietários. Sem sede, o time treina em locais improvisados e precisa alugar
campos (veja vídeo ao lado).
A negociação aconteceu no ano de 2009
e teria, de acordo com a denúncia, infringido o estatuto do clube, que
estabelece: “O patrimônio do Flamengo é constituído pelos bens móveis, imóveis,
direitos e ações que possua. Art. 4° - No caso da dissolução da sociedade, o
seu patrimônio será distribuído “pro rata” entre os seus sócios proprietários e
beneméritos”. Sócio desde 1994, Petrônio Filho é um dos torcedores integrantes
da comissão que busca anular na justiça o contrato de compra e venda. Segundo
ele, o dinheiro não foi investido para a compra de outra sede.
- Até hoje não sabemos
como foi a negociação, para onde foi o dinheiro.
Não houve assembleia, muito menos ata e uma convocação. Não aconteceu uma publicação
para os torcedores, fizeram a venda apenas dentro do gabinete. Na época,
solicitamos à diretoria uma explicação. Pedimos e cobramos as respostas, mas
até hoje estamos esperando. Por isso, recorremos à justiça – relata Petrônio
Filho, que faz parte da oposição à atual diretoria do Flamengo-PI.
Segundo o advogado contratado
pelos sócios rubro-negros, Mauro Motta, a situação jurídica do clube está irregular
devida a dívidas trabalhistas e problemas com a Receita Federal. Motta afirma
que é possível pedir a anulação do contrato de compra e venda, caso seja
comprovado que a negociação desobedeceu ao estatuto do clube.
- Se ficar comprovado um prejuízo,
podemos pedir a anulação da venda. O que temos é uma realidade. O Flamengo-PI
está no chão. Queremos saber: quem
vendeu? Qual valor? Como vai usar o dinheiro? Onde o dinheiro foi investido?
Tudo isso são mecanismos que podem ser esclarecidos na justiça, pois não se tem
uma publicidade dos atos do Flamengo-PI. O clube tem que prestar contas –
explica Mauro Motta.
sede nova será inaugurada em dezembro
O atual presidente do
Flamengo-PI, Jankel Costa, diz que a situação é temporária. O cartola fez parte
da diretoria que vendeu a sede em 2009, mas afirma que não fez parte do
processo de negociação. Os R$ 18 milhões não são confirmados por Jankel, que
prefere ficar em silêncio em relação ao valor da transação. Em entrevista ao PI
TV 2ª edição, da Rede Clube, o presidente rebateu as denúncias e diz que não
houve irregularidades.
- Eu lembro e tenho o livro ata
que tem as assembleias autorizando – resumiu Jankel, se recusando a mostrar a
documentação.
O dinheiro, de acordo com o
presidente, será utilizado para construção de outra sede e de um centro de
treinamento com direito a um estádio.
- Em dezembro vamos entregar o
centro de treinamento com a parte social já iniciada – ponderou o presidente.
No local, porém, só há mato.
Enquanto isso, o local onde funcionava a antiga sede do Flamengo-PI está abandonado. Salas e paredes quebradas, ferros retorcidos, campos tomados pelo mato, piscinas sem conservação e muito lixo. A situação causa insatisfação.
- Não sabemos para onde foi o valor financeiro. O esporte é uma instituição de 76 anos, faz parte do estado, da sociedade e as dúvidas estão no ar. Isso reflete no descrédito. Somos uma instituição e não temos credibilidade – comenta o torcedor Luiz Fernando Costa.