A
seleção brasileira de futebol de 5 chega ao Rio de Janeiro em busca
do tetracampeonato paralímpico. Entre os dez convocados pelo técnico
Fábio Vasconcelos, está o pernambucano Raimundo Nonato. Campeão em Londres 2012, o
pivô de 29 anos espera repetir a dose jogando ao lado da torcida.
Caso consiga o tão sonhado título, a medalha de ouro ficará
exposta na casa de seus pais, dona Isabel e seu José Vicente, no
povoado de Casa Nova, município de Orocó, no sertão do estado.
Foi
no povoado de gente simples, onde qualquer pedaço de terra vira
campo, que Nonato deu os primeiros passos no futebol. Cego de
nascença, sentiu desde menino que aquele era o seu esporte. A falta
da visão nunca impediu que ficasse fora do clássico local,
disputado entre o Time de Cima contra o Time de Baixo. Enquanto os
colegas enxergavam tudo o que acontecia no campo, ele se guiava pelo
barulho da bola.
– A
gente se reunia nos sábados e ele sempre se igualava ao restante do
time. A única dificuldade dele era que o barulho da bola era pouco,
mesmo assim ele conseguia se sair bem. Teve um jogo, que ele veio com
uma camisa por baixo, pra mostrar ao povo quando fizesse gol –
conta o amigo de infância, Fernando dos
Santos.
Nonato
é o filho caçula de dona Isabel e seu José. Assim como ele, duas
de suas irmãs também são cegas. No povoado onde moram, os três
nunca foram tratados com distinção. Menino levado, segundo sua mãe,
o pivô da seleção brasileira não parava quieto. Quando não tinha
bola para jogar, o futebol era feito com as cabeças das bonecas da
irmã Silvana e da prima Ana Paula.
início no futebol de 5
Entre
um chute e outro, seja no campinho de terra ou em casa
com as cabeças das bonecas, Nonato foi ficando cada vez mais ligado
ao futebol. No entanto, ele sabia que, mesmo jogando com os amigos,
jamais conseguiria ter um desempenho superior ao deles. A chance de
poder atuar de igual para igual surgiu em 2010, quando veio o convite
para conhecer o futebol de 5, modalidade adaptada para pessoas que não enxergam.
– Em
2010 eu fui até Petrolina, por convite de um amigo, para conhecer a
bola adaptada e as regras do futebol de 5. Aí, comecei a treinar, vi
que levava jeito. No ano seguinte colocamos uma equipe em uma
competição, no Regional Nordeste, e comecei a desenvolver –
lembra Nonato, que dois anos depois conquistaria seu primeiro ouro
paralímpico.
+ Árbitro de Petrolina vai participar da Paralimpíada
A
adaptação de Nonato ao futebol de 5 foi rápida. O domínio de bola
e o chute forte são suas principais características. Ele é o destaque da Associação de Deficientes Visuais de Petrolina
(ADVP). Companheiro do pivô na equipe petrolinense, Antonio Malan é
só elogios ao colega.
– É
uma expectativa muito boa. A gente fica muito feliz, por ser um
atleta nosso, que a gente acompanha desde o início, em 2010. Cada
dia mais ele está se superando. Para a gente da ADVP, é um orgulho
muito grande ter um atleta diferenciado como ele. Estamos felizes por
ele representar nossa região na Paralimpíada – celebra Malan.
rodando o mundo
O
pai de Nonato não esconde o orgulho que sente do filho. O futebol de
5 permitiu que o garoto de Orocó conhecesse o mundo. Por outro lado,
a mãe fica com o coração na mão toda vez que o caçula viaja. Aí,
para ver dona Beinha chorar, basta colocar Zezé de Camargo e Luciano
cantando a música “No dia em que eu saí de casa”. A aposentada
só sossega quando o menino retorna. A alegria fica ainda maior
quando na bagagem vem uma medalha dourada.
– O
coração fica batendo tanto… Tem vez que até que dói. Peço ao
médico para passar um exame e ele diz que não tenho nada, que é tudo
ansiedade. Agora estou mais tranquila, porque a viagem para o Rio é
mais perto. Vou ficar torcendo para ele ganhar. Tenho muito orgulho –
derrete-se dona Beinha.
Em
suas andanças pelo mundo com a seleção brasileira, Nonato
conheceu o Japão, China, Inglaterra, Canadá, México, Argentina…
O retorno das viagens é sempre acompanhado da medalha de ouro. A
coleção conta com título mundial, sul-americano, paralímpico,
Copa América. No que depender desse pernambucano, o número de
medalhas douradas vai aumentar.
– A
Paralimpíada vai ser muito especial, principalmente por ser em nossa
casa. A gente espera fazer uma boa competição, ter o apoio do torcedor e ser campeão mais
uma vez – projeta.
A seleção brasileira ficou no Grupo A, ao lado de Marrocos, Turquia e Irã. A competição começa em 9 de setembro e será disputada no Centro Olímpico de Tênis, no Parque Olímpico da Barra.