Conhecido
em Petrolina, no sertão pernambucano, por ter um hobby incomum, o
maratonista Antônio dos Santos chegou em 2014 a números
impressionantes. Frequentador assíduo de velórios, hábito que
cultua desde 2006, o atleta atingiu uma marca importante em sua
vida. Em 2013, quando o GloboEsporte.com contou sua história, ele dizia que o objetivo para este ano era chegar a 900 despedidas. Essa meta foi batida com sobra.
Nesta temporada, até este final de semana, o corredor esteve em 612 velórios, chegando a um total de 1.451. No ano passado, foram 273. Segundo Antônio, a aparição no Programa Mais Você, da Rede Globo, em maio, e o seu empenho em buscar informações, contribuíram para o recorde.
– Esse ano tem morrido muita gente.
Essa é minha melhor marca em um
ano. Tenho me empenhado mais em ouvir rádio, ver TV, olho os sites e o programa da Ana Maria me ajudou muito. Se não morrer até dezembro, acho que chego a 1.500 – brinca.
Com
tantas mortes, o fôlego de atleta de Antônio foi posto à prova no
dia 22 de abril. Nessa fatídica data, o corredor esteve em nada menos
do que 10 velórios. Mais um recorde na carreira.
–
Teve um pessoal que morreu de
acidente, só aí foram quatro. Os outros foram aqui na sala de
velório, em Petrolina e em Juazeiro-BA.
O
maratonista virou uma espécie de figura mítica em Petrolina. Com o
auxílio dos amigos, ele fica sabendo onde e quando acontecerá um
velório. As visitas são documentadas em um caderno, no qual só
Antônio tem permissão para pegar. Nas folhas, ele anota, na
seguinte ordem, o número do velório, a data da cerimônia, o nome do falecido, o local,
seguido do dia e da hora.
–
Eu fui à um velório onde um rapaz
disse que preferia que eu não tivesse ido, mas como já estava lá,
fiquei. Em alguns, o pessoal chega a tirar foto comigo, pega no meu
braço, lembram que me viram no Programa de Ana Maria Braga e dizem
que só saio de lá depois de tirar foto com eles – conta Antônio,
com muito bom humor.
No
caderno de Antônio, 2014 separou espaço para uma anotação
caseira. No dia 2 de fevereiro, o corredor se despediu do pai.
Segundo o atleta, o conforto que ele leva às famílias foi
retribuído no adeus ao seu genitor.
Curiosidades,
meta e um desejo
O
treinador de Antônio, Marciano Barros, lembra que o hobby do
corredor já rendeu histórias engraçadas nas competições que ele
participa. Em uma delas, o nome do atleta foi modificado.
–
Fui pegar uma inscrição e, ao chegar na lista de inscritos, eu me deparei
com o nome de um dos atletas que estava Antônio dos Santos
“Velório”. Estranhei um pouquinho, mas quando vi a data de
nascimento, confirmei que era ele mesmo, o Antônio dos Santos. Falei
com o rapaz da organização e ele me disse que isso foi uma
brincadeira da menina que estava fazendo as inscrições – lembra o
treinador.
Até
o fim do ano Antônio participará de três competições, duas na
Bahia e a tradicional Maratona de São Silvestre. Se dentro das
pistas o atleta tem tudo agendado com dia, hora e local onde
competirá, nos velórios a coisa não funciona com tal precisão,
tanto que o corredor prefere não fazer estimativas para o próximo
ano.
–
Eu não tenho nem perspectiva.
Porque a cada dia é um número que a gente não pode definir, hoje
não tem nenhum, mas amanhã podem acontecer vários – diz.
Sem
saber em quantas cerimônias estará presente no próximo ano, Antônio
tem certeza de uma coisa: quando morrer, quer que seu velório seja
uma festa, com muita gente.
-
Eu quero o máximo de gente possível. O pessoal que puder ir, será muito bem-vindo.