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Recorde estranho: com mais de 600 velórios, atleta supera meta para 2014

No ano passado, Antônio dos Santos esteve em 273 cerimônias. A "carreira", que começou em 2006, tem mais de 1450 despedidas. Em abril foram dez em um só dia

Por Petrolina, PE

 

Conhecido em Petrolina, no sertão pernambucano, por ter um hobby incomum, o maratonista Antônio dos Santos chegou em 2014 a números impressionantes. Frequentador assíduo de velórios, hábito que cultua desde 2006, o atleta atingiu uma marca importante em sua vida. Em 2013, quando o GloboEsporte.com contou sua história, ele dizia que o objetivo para este ano era chegar a 900 despedidas. Essa meta foi batida com sobra.

Nesta temporada, até este final de semana, o corredor esteve em 612 velórios, chegando a um total de 1.451. No ano passado, foram 273. Segundo Antônio, a aparição no Programa Mais Você, da Rede Globo, em maio, e o seu empenho em buscar informações, contribuíram para o recorde.

No cemitério de Petrolina, Antônio celebra a marca atingida em 2014. (Foto: Emerson Rocha)No cemitério de Petrolina, Antônio celebra a marca atingida em 2014 (Foto: Emerson Rocha)

– Esse ano tem morrido muita gente. Essa é minha melhor marca em um ano. Tenho me empenhado mais em ouvir rádio, ver TV, olho os sites e o programa da Ana Maria me ajudou muito. Se não morrer até dezembro, acho que chego a 1.500 – brinca.

Com tantas mortes, o fôlego de atleta de Antônio foi posto à prova no dia 22 de abril. Nessa fatídica data, o corredor esteve em nada menos do que 10 velórios. Mais um recorde na carreira.

– Teve um pessoal que morreu de acidente, só aí foram quatro. Os outros foram aqui na sala de velório, em Petrolina e em Juazeiro-BA.

Em seu caderno, o maratonista anota todos os velórios que participou  (Foto: Emerson Rocha)Em seu caderno, o maratonista anota todos os velórios que participou (Foto: Emerson Rocha)

O maratonista virou uma espécie de figura mítica em Petrolina. Com o auxílio dos amigos, ele fica sabendo onde e quando acontecerá um velório. As visitas são documentadas em um caderno, no qual só Antônio tem permissão para pegar. Nas folhas, ele anota, na seguinte ordem, o número do velório, a data da cerimônia, o nome do falecido, o local, seguido do dia e da hora.

– Eu fui à um velório onde um rapaz disse que preferia que eu não tivesse ido, mas como já estava lá, fiquei. Em alguns, o pessoal chega a tirar foto comigo, pega no meu braço, lembram que me viram no Programa de Ana Maria Braga e dizem que só saio de lá depois de tirar foto com eles – conta Antônio, com muito bom humor.

No caderno de Antônio, 2014 separou espaço para uma anotação caseira. No dia 2 de fevereiro, o corredor se despediu do pai. Segundo o atleta, o conforto que ele leva às famílias foi retribuído no adeus ao seu genitor.

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Curiosidades, meta e um desejo

O treinador de Antônio, Marciano Barros, lembra que o hobby do corredor já rendeu histórias engraçadas nas competições que ele participa. Em uma delas, o nome do atleta foi modificado.

 – Fui pegar uma inscrição e, ao chegar na lista de inscritos, eu me deparei com o nome de um dos atletas que estava Antônio dos Santos “Velório”. Estranhei um pouquinho, mas quando vi a data de nascimento, confirmei que era ele mesmo, o Antônio dos Santos. Falei com o rapaz da organização e ele me disse que isso foi uma brincadeira da menina que estava fazendo as inscrições – lembra o treinador.

Quando morrer, Antônio quer um velório com casa cheia (Foto: Emerson Rocha)Quando morrer, Antônio quer um velório com casa cheia (Foto: Emerson Rocha)


Até o fim do ano Antônio participará de três competições, duas na Bahia e a tradicional Maratona de São Silvestre. Se dentro das pistas o atleta tem tudo agendado com dia, hora e local onde competirá, nos velórios a coisa não funciona com tal precisão, tanto que o corredor prefere não fazer estimativas para o próximo ano.

– Eu não tenho nem perspectiva. Porque a cada dia é um número que a gente não pode definir, hoje não tem nenhum, mas amanhã podem acontecer vários – diz.

Sem saber em quantas cerimônias estará presente no próximo ano, Antônio tem certeza de uma coisa: quando morrer, quer que seu velório seja uma festa, com muita gente.

- Eu quero o máximo de gente possível. O pessoal que puder ir,  será muito bem-vindo.