Foram oito pódios em nove competições num período de quatro semanas. Todos resultados inéditos para o esporte brasileiro. Aos 27 anos, Nicole Silveira, atleta do skeleton, tornou-se o novo fenômeno das modalidades de inverno do Brasil. Nascida em Rio Grande-RS, mas radicada em Calgary, no Canadá, desde a infância, Nicole está muito próxima de confirmar a vaga para as Olimpíadas de Inverno de Pequim 2022. Realista, ela fala em brigar por top10 neste momento para chegar ao pódio em 2026, nos Jogos de Milão-Cortina, na Itália.
- Até pouco tempo, a gente achava que top15 seria difícil, mas depois do evento-teste em que eu terminei em oitavo, a gente já mira um top10 em Pequim. Um top6 seria algo fantástico. A gente sabe que, numa Olimpíada, todo atleta dá mais de 100% de si, só que eu tenho acesso a menos recursos do que esses times maiores. Tenho uma parceria com o time da Itália, os próximos Jogos serão lá (Milão-Cortina 2026), eu e o meu treinador sentamos para discutir metas, então o plano é medalhar em 2026 - disse Nicole.
Nicole teve uma evolução fantástica desde as suas primeiras competições no skeleton. Em novembro de 2018, em Whistler, Canadá, ela foi 18ª colocada na Copa América com o tempo total de 1min57s07. Três anos depois, na mesma competição, Nicole faturou três ouros nas três etapas que disputou, chegando a fazer 1min47s76 na terceira delas.
- Em 2018, eu achava que chegar a uma vaga olímpica não seria possível. Em 2019 e 2020, comecei a evoluir nas descidas e vi que dava para buscar. Aos poucos, fui aumentando o meu nível e os resultados melhoraram. Hoje tenho uma temporada com oito pódios em quatro semanas e a vaga olímpica bem encaminhada - comentou.
Ela já foi até fisiculturista
Antes de virar atleta de skeleton, Nicole competiu em nove modalidades. Na infância, praticou dança e ginástica artística. Pouco depois, ela migrou para o vôlei, já morando no Canadá, e também futebol, esporte em que atuou por 10 anos. Nesse meio tempo, a gaúcha também conheceu o rugby, até descobrir uma de suas primeiras paixões, o fisiculturismo.
- Quando saí do futebol, um amigo falou para eu tentar o fisiculturismo. A partir daí eu comecei a treinar para fazer só uma competição, representando a minha província. Acabei ficando e disputei vários outros campeonatos, o meu último em 2017. No meu último Nacional eu fiquei em oitavo - contou Nicole.
Nicole só começou a competir no gelo em 2018, aos 24 anos. Seu primeiro esporte foi o bobsled, experiência que durou um ano. Paralelamente a isso, a gaúcha praticou cross fit e levantamento de peso até descobrir o skeleton no mesmo ano. Desde então, a dedicação tem sido para tornar-se uma das melhores do mundo na modalidade.
- Quando me falaram do bobsled e do skeleton, a minha primeira resposta foi "não", porque eu não gostava de montanha russa na infância. De primeira eu não quis, mas resolvi treinar um dia e acabei gostando. Eu adoro novos desafios e os esportes no gelo me proporcionam isso - frisou.
E ainda trabalha como enfermeira
Mesmo com a vida esportiva agitada, Nicole ainda encontrou tempo para frequentar uma universidade no próprio Canadá. Ela é formada em enfermagem e trabalha num regime sazonal com plantões em hospitais geralmente nos meses do verão do hemisfério norte (meio do ano). Nos momentos de agenda mais cheia, Nicole chegava a acordar às 5h para conciliar esporte, faculdade e estágio.
- Gosto de estar ativa. Já deu para perceber que não gosto de ficar parada em casa, né? (risos). Hoje em dia, como já estou formada, está dando para conciliar a agenda de uma forma mais fácil. Trabalho no regime "casual". Sou chamada para cumprir a minha carga horária apenas em alguns períodos do ano, geralmente no verão. Costumava trabalhar nas duas semanas do Natal também, mas esse ano não vai dar porque vou estar competindo - lembrou.
O caminho de Nicole até Pequim
Com os resultados nas nove competições que realizou na temporada, Nicole já atingiu pontuação suficiente para estar nas Olimpíadas de Inverno, em fevereiro. No entanto, ela viaja para a Europa nos próximos dias para disputar uma sequência de seis etapas da Copa do Mundo de skeleton, com paradas na Alemanha, Letônia e Suíça.
A lista dos convocados para Pequim só será confirmada em meados de janeiro. A brasileira permanecerá no Velho Continente até a convocação. Até lá, ela quer seguir fazendo história.
- A emoção de levar o Brasil ao pódio é muito grande. A palavra que eu tenho mais usado para descrever tudo o que eu tenho vivido é surreal. Eu tinha esperanças de me dar bem na modalidade, mas nunca imaginava ouvir o hino brasileiro no pódio. Acho que muita gente ainda não conhece o nosso esporte e eu espero estar contribuindo para tornar as modalidades de gelo mais populares no Brasil - finalizou.
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