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"Você só tem que deixá-los (retardatários entre Lewis Hamilton e Max Verstappen) sair, aí teremos uma corrida em nossas mãos". A participação do diretor esportivo da RBR Jonathan Wheatley na polêmica do GP de Abu Dhabi, em 2021, e seu papel ao garantir que Verstappen retornasse da batida na Hungria em 2020 rumo ao pódio, sinaliza o peso de sua função no time - incluindo a defesa aos comissários e a gerência da equipe de pit stops. Ele, porém, está de saída para comandar a Audi em 2026.
A Audi chegará à F1 em 2026, mas já inicia sua parceria técnica com a Sauber na próxima temporada. A montadora alemã contará com o piloto Nico Hulkenberg, que deixa a Haas ao fim deste ano, e anunciou o ex-chefe de equipe da Ferrari, Mattia Binotto, como novo CEO. Binoto ocupará o lugar de Andreas Seidl, que comandou a Ferrari e foi contratado na Sauber em 2022 para o cargo.
A marca vai estrear na F1 junto com um novo regulamento de motores, em 2026; o livro de regras tem a atração de novas fabricantes como um de seus quatro pilares essenciais. Daqui a dois anos, a elite do automobilismo europeu terá combustíveis 100% sustentáveis, além de um aumento de 50% no uso de energia elétrica nas unidades de potência.
Antes de começar os trabalhos com a equipe alemã, Wheatley será obrigado a tirar um ano de licença, afastando-se da F1 ao longo da temporada 2025. Ele retorna oficialmente em 2026, quando o processo de transição de Sauber para Audi terminar.
Weathley, que tem 56 anos é o segundo nome de peso que deixa a RBR em 2024 - ano conturbado para a líder do campeonato de construtores fora das pista. A temporada começou com acusações de comportamento inapropriado de cunho sexual contra uma funcionária feitas ao chefe Christian Horner. Ele foi inocentado, mas o clima teria influenciado a saída do projetista Adrian Newey.
O britânico tem mais de 30 anos de experiência na F1; começou como mecânico na Benetton em 1991, trabalhando com o carro de Roberto Moreno pouco antes da chegada de Michael Schumacher. Ele ascendeu na função nos anos seguintes, promovido a chefe de mecânica, e permaneceu na posição quando a equipe se tornou Renault, em 2001.
Depois de ser campeão com Fernando Alonso em 2005, o britânico decidiu migrar para a recém-chegada RBR, no ano seguinte. Seu primeiro trabalho na equipe austríaca foi como gerente de equipe.
Ele foi promovido em 2018, passando a acumular a função de diretor esportivo. O trabalho demanda que Wheatley se responsabilize pela equipe de pit stops e reparos da RBR; foi sob seu comando, por exemplo, que a equipe bateu o recorde de pit stop mais rápido da história, até 2023.
A posição de Wheatley também exige profundo conhecimento dos regulamentos esportivos e técnicos da F1, para resguardar o time de potenciais investigações ou punições.
- Se você já foi mandado para a sala do diretor na escola, vai entender a sensação! Temos sorte na F1: especialmente agora, há uma lista de comissários de corrida extremamente profissional e há muito respeito. Quando você entra (na sala dos comissários), sabe se tem ou não um caso. Isso não me deixa nervoso, embora às vezes eu fique muito preocupado com a punição que podemos receber - disse Wheatley no último ano ao portal da RBR.
"Advogado" da RBR
- A maneira como trabalho é insana, porque penso em cada cenário que acho que poderia acontecer; olho para as regras, vejo como a equipe pode reagir e tento ter uma ideia. Às vezes tive sorte de a confiança ter me levado até onde talvez as regras sejam um pouco vagas - declarou o mais novo chefe da RBR, ano passado.
Frequentemente, o nome de Wheatley figura nos documentos da Federação Internacional do Automobilismo (FIA) como representante da RBR em investigações dos comissários das provas.
Ele foi uma figura proeminente nos bastidores da RBR em 2021: além de Abu Dhabi, defendeu o time no protesto feito pela Mercedes por uma espalhada de Verstappen sobre Hamilton no GP de São Paulo; a FIA negou o direito de revisão solicitado pela equipe alemã.
Dias depois, também foi Wheatley quem surgiu na transmissão do GP da Arábia Saudita tratando como Verstappen deveria devolver uma posição na relargada da prova.
No ano seguinte, em Mônaco, Wheatley defendeu Verstappen e seu colega Sergio Pérez do que poderia resultar em uma punição por ultrapassar limites de pista na saída dos boxes. A FIA chegou a rejeitar, na época, um protesto da Ferrari. Pérez venceu a prova.
Outro exemplo da atuação de Wheatley se deu ano passado: punido duas vezes no GP do Japão, Pérez chegou a abandonar a corrida após colidir com Kevin Magnussen, e com Hamilton na largada. No entanto, algumas conversas com a FIA autorizaram a RBR a mandá-lo para a pista para cumprir a sanção de 10s e evitar perda de posições no grid do GP do Catar, a etapa seguinte.
Relembre caso Horner
A imprensa holandesa divulgou que Horner passou a ser investigado, por um grupo independente contratado pela marca de energéticos dona da RBR. No decorrer dos dias, o que foi divulgado como uma "conduta inapropriada" passou a ser, segundo o "De Telegraaf", uma acusação de assédio sexual.
Horner teria enviado mensagens impróprias para uma funcionária do time, cuja identidade e função não foram revelados. Ainda segundo o jornal holandês, seus advogados teriam oferecido um acordo de 650 mil libras esterlinas (cerca de R$ 4,06 milhões) para a mulher, que rejeitou a proposta, e usou capturas de telas de mensagens para embasar sua denúncia. O gestor foi inocentado no caso.
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