Se a crise que marcou o início de 2024 da RBR por acusações de má conduta contra o chefe Christian Horner parece superada, a equipe agora tem outro problema: a saída do projetista Adrian Newey, após quase 19 anos de parceria. Mas ao contrário do que foi noticiado pela imprensa alemã e britânica, Horner garante que a crise nos bastidores do time não foi o motivo da decisão do engenheiro.
- Não, absolutamente não (era isso). Acho que isso (a saída de Newey) já estava previsto há algum tempo. Houve uma discussão, há cerca de 12 meses, de que talvez fosse o momento de Adrian pensar em se afastar. Então sei que ele tem pensado nisso há algum tempo e foi algo que tivemos de planejar. E que melhor momento para isso do que a boa fase que vivemos ao longo das duas últimas temporadas? - declarou Horner na coletiva dos chefes de equipe no GP de Miami, nesta sexta-feira.
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Newey ainda participará de algumas corridas até o fim de 2024 para ajudar a RBR; após afastar-se em definitivo; seguirá apoiando o projeto de hypercarro da montadora de Milton Keynes no Reino Unido, o RB17.
A "BBC F1" chegou a noticiar que os advogados do engenheiro negociavam sua saída antecipada para que, ainda em 2025, ele pudesse assinar com outra equipe. Pessoas com cargos técnicos na F1 devem aguardar um período de quarentena, após deixarem um time, antes de se juntarem a outro.
Ao ser informado sobre a saída do projetista da rival, Lewis Hamilton chegou a comentar sobre a possibilidade de trabalhar com o engenheiro na Ferrari, seu destino no ano que vem. A BBC ainda apontou a escuderia italiana como opção favorita de Newey.
Newey começou a trabalhar na F1 em 1980 como estagiário, quando o efeito solo (reintroduzido no regulamento técnico de 2022, no qual a maior parte da carga aerodinâmica é gerada pelo assoalho dos carros) ainda vigorava nos veículos da categoria.
Ele passou pela March, Williams e McLaren, projetando carros campeões como o FW14B da Williams de Nigel Mansell, de 1992, e o MP41/13 do primeiro título de Mika Hakkinen com a McLaren, em 1998. O engenheiro assinou com a RBR em 2006 e foi a mente criativa por trás dos monopostos que conduziram Sebastian Vettel e Max Verstappen a quatro e três títulos, respectivamente.
O que teria motivado a saída de Newey da RBR?
Além da investigação a Horner, que foi inocentado após averiguação movida pela empresa de energéticos que controla a equipe na F1, outro problema abalou as estruturas do time: as críticas públicas feitas por Jos Verstappen, pai de Max Verstappen, ao gestor britânico.
No início de fevereiro deste ano, o jornal holandês De Telegraaf noticiou que Horner seria investigado por suposta conduta imprópria - de cunho sexual - em relação a uma funcionária. A reunião movida pela auditoria independente chegou a durar oito horas, com desfecho "inconclusivo". Porém, o britânico de 50 anos seguiu em suas funções normalmente até ser inocentado.
No dia seguinte ao veredito, o caso sofreu uma reviravolta: uma pasta com 79 mensagens de teor íntimo, atribuídas a Horner e a funcionária envolvida, foi divulgada por uma fonte anônima a jornalistas, dirigentes e membros do alto escalão da Federação Internacional do Automobilismo (FIA) e da F1. Horner se recusou a comentar o que considerou especulações anônimas.
Presidente da FIA, Mohammed ben Sulayem declarou que o assunto estaria "prejudicando o esporte", mas a falta de detalhes sobre o caso e a isenção de Horner do ocorrido não agradou rivais como Zak Brown e Toto Wolff, CEO da McLaren e chefe de equipe da Mercedes. Lewis Hamilton e George Russell, pilotos da equipe alemã, também se pronunciaram.
Ben Sulayem chegou a pedir que Max Verstappen, piloto da RBR, apoiasse publicamente Horner, pedido negado pelo tricampeão. Seu pai, o ex-F1 Jos Verstappen, discutiu com o chefe da equipe e declarou que a RBR iria "explodir" caso Christian seguisse no comando. O holandês saiu em defesa do pai, afirmando que Jos "não é mentiroso" - embora tenha evitado opiniões contundentes sobre o caso.
No fim de semana do GP da Arábia Saudita em março, foi noticiado que a RBR teria suspendido a funcionária que fez a denúncia contra Horner. No mesmo período, o nome do consultor da equipe, Helmut Marko entrou no caso: o austríaco deu a entender que poderia ser demitido do time.
A crise ganhou ares de disputa por forças devido ao apoio público de Jos à autoridade de Marko. Horner foi acompanhado na prova em Sakhir por Chalerm Yoovidhya, bilionário tailandês e principal acionista da empresa que dá nome à RBR.
Já seu suposto rival conta com o respaldo de Oliver Mintzlaff, diretor da empresa-mãe da hexacampeã da F1 que também esteve ao seu lado na corrida saudita; e da família de Dietrich Mateschitz, fundador da equipe falecido em 2022.
Verstappen, que chegou à Academia de Pilotos da RBR por intermédio de Marko, chegou a sugerir que poderia deixar o time caso o consultor fosse demitido. Porém, mudou o tom e passou a pregar unidade na equipe, com a qual tem contrato até 2028.
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