Imaginem um campeão mundial dispensado pela equipe mais forte da Fórmula 1 indo parar num time médio. Imaginem ainda esse campeão sofrendo horrores para classificar o carro para o grid de largada da primeira corrida da temporada e... parando na volta de apresentação com problemas no carro. Pois foi isso que aconteceu com Damon Hill no GP da Austrália de 1997, disputado num 9 de março como hoje.
Essa história começa com o campeonato de 1996 ainda em curso. Mesmo liderando a tabela à frente do companheiro Jacques Villeneuve, o inglês não convenceu a Williams de que era a melhor opção para os anos seguintes. É bem verdade que Hill cometeu seus erros, mas o valor oferecido pela Williams para renovar ara foi bem abaixo do que o inglês queria. Se foi de propósito ou não, nunca saberemos, mas fato é que Heinz-Harald Frentzen assinou para a vaga de Hill.
Damon foi ao mercado e conversou com McLaren, Benetton e Ferrari. Mas nenhuma delas queria oferecer um alto salário. Hill então decidiu por correr pela Arrows, equipe que jamais havia vencido uma corrida sequer desde 1978 e que contaria com os imprevisíveis motores Yamaha. O inglês seria o quinto piloto em nove anos a trocar de equipe após ser campeão - os outros foram Nelson Piquet, da Williams para a Lotus em 1988, Alain Prost, da McLaren para a Ferrari em 1990, Nigel Mansell, da Williams para a Fórmula Indy em 1993, e Alain Prost, da Williams para a aposentadoria em 1994.
Em 1996, Tom Walkinshaw havia comprado a equipe, que estava com o nome de Footwork desde 1991, e devolveu a ela o nome Arrows, com o qual iniciara sua trajetória na Fórmula 1. Ademais, fechou contrato com a Bridgestone, que estava entrando na F1, para o fornecimento de pneus, e com a Yamaha para a entrega de motores.
Depois de uma parceria apenas razoável entre Yamaha e Tyrrell nos anos anteriores, o contrato previa exclusividade com a Arrows. O problema é que o novo motor preparado pelo experiente John Judd não foi testado o suficiente antes da temporada, e o modelo A18, concebido pelo triunvirato formado por Frank Dernie, Paul Bowen e Simon Jennings tinha sérios problemas de confiabilidade.
Na semana da abertura da temporada de 1997, na Austrália, uma boataria envolveu o nome de Hill. Segundo os rumores, ele teria simplesmente pulado fora do barco antes mesmo de estrear. No fim das contas, o campeão de 1996 apareceu em Melbourne para defender a Arrows. E foi um fim de semana daqueles tenebrosos para ele e o companheiro Pedro Paulo Diniz.
O primeiro dia de treinos foi até razoável para Hill, que completou a sexta-feira no 13º lugar, a 2s577 do melhor tempo de Michael Schumacher (Ferrari). Só que o sábado... Bem, o sábado foi complicadíssimo para a Arrows e Hill. Com um ritmo pavoroso, graves problemas de estabilidade nas freadas, o campeão foi apenas o 22º colocado no segundo treino livre, 6s046 atrás de Villeneuve, o mais veloz.
Veio a classificação, e os dois pilotos da Arrows voltaram a sofrer. De forma dramática, Hill conseguiu apenas na sua última tentativa um tempo dentro do limite de 107% do tempo da pole position, ainda assim em 20º lugar, 5s437 pior do que a marca de Villeneuve. Diniz não conseguiu se classificar, 6s603 atrás do melhor tempo da sessão.
No domingo, até que Hill conseguiu um razoável 17º lugar, dadas as circunstâncias, a 2s1 de Villeneuve, novamente o mais rápido. Mas a maior humilhação viria na volta de apresentação: com um problema no acelerador eletrônico, Damon estacionou sua Arrows A18 na grama na saída da curva 2. Desolado, voltou a pé sob aplausos dos torcedores.
O descalabro da estreia fez a Arrows agir. O experiente John Barnard foi contratado para ser o novo diretor técnico, e, de fato, o carro melhorou. No entanto, da segunda à sexta etapas, o campeão de 1996 abandonou em todas. Depois, finalmente os resultados melhoraram, e Hill terminou três das quatro provas seguintes entre os dez primeiros, com um sexto lugar em Silverstone e um brilhante segundo em Hungaroring, onde teria vencido não fosse outra falha de acelerador.
No entanto, esses sete pontos foram os únicos de Hill como piloto da Arrows. Uma vaga melhor na Jordan se abriu, e Damon trocou de equipe novamente. Venceu o GP da Bélgica de 1998 e permaneceu no time até o fim de 1999, quando decidiu se aposentar aos 39 anos.
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