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Por Marcel Merguizo e Winne Fernandes — Buenos Aires, Argentina

Jonne Roriz/Exemplus/COB

São 5 quilômetros de marcha atlética. Doze voltas e meia na pista. E antes mesmo de largar, ele sabe que não tem chances de medalha. Não porque é pior que seus 15 concorrentes. Mas porque quatro dias antes, havia sido desqualificado da primeira etapa. E nos Jogos Olímpicos da Juventude vale a somatória dos tempos do primeiro com o do segundo dia de prova. Mas ele está lá. Pronto para largar. E assim vai. Mesmo sabendo que o melhor resultado possível seria terminar a prova. Provavelmente em último. Largam todos.

Volta a volta ele vê os adversários o passarem. Então, toca o sino. Aviso dos árbitros: falta uma volta. Não para ele. O sino volta a tocar, uma, duas, três, não dá para contar. Todos estão na última volta. Ele olha o relógio, confere o placar eletrônico na beira da pista. O árbitro o avisa: faltam duas. Festa, chega o equatoriano, medalhista de ouro. Passam o indiano e o porto-riquenho, pódio completo, abraços, todos se confraternizam. Saem da pista.

Toca o sino, falta uma volta. Ele já está sozinho há alguns minutos. O público aplaude. Em pé, alguns. Aplaudindo, todos. Lá vem o brasileiro. Último colocado, duas voltas atrás de todos. Teve a pista olímpica de Buenos Aires só para ele por quase cinco minutos. Sozinho, ovacionado pelo público e cansado, muito cansado. Bruno Nascimento Lorenzetti, catarinense de 16 anos. Décimo quinto colocado. Tempo final: 27 minutos, 21 segundos e alguns centésimos que ele não consegue ver no relógio. Está muito suado. Como comparação, Oscar Patin, do Equador, fechou a prova com 20min35s87.

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Duas provas de 5 km de marcha atlética em quatro dias. Na primeira, quatro punições e a desqualificação. Na segunda, três punições, o limite para ser punido apenas com a perda de tempo mas poder permanecer na pista até o fim. Bruno chegou. E, mesmo estenuado, mostrou que o espírito olímpico está acima de qualquer resultado.

- Estou feliz porque a prova estava difícil, bem quente, 30 graus. Estou feliz em participar de um campeonato grande, desses aqui, com os melhores do mundo. Hoje o importante para mim era acabar a prova. É uma competição boa para minha carreira futura. Para ganhar experiência. Eu só queria acabar a prova. Eu só queria acabar a prova. Queria adquirir essa experiência com árbitros internacionais, para nós, importa muito. Achei injustas as punições. Mas... Não importa. Quando eu acordei, hoje, só pensava que eu queria terminar a prova. São 12 voltas e meia. E o pessoal já estava no sprint final quando eu ainda estava me aguentando para acabar a prova. É um sentimento muito bom, ver a galera mandando energia positiva para mim. É muito difícil ficar sozinho na pista. Fiquei feliz pela energia do pessoal. Meu objetivo agora é entrar numa Olimpíada, se não Tóquio 2020, que quero muito, vou me esforçar ao máximo possível para Paris 2024. Hoje eu consegui acabar a prova, só pensava nisso, preciso acabar a prova – contou Bruno, ao fim da prova, prova de que tem espírito olímpico.

Bruno Lorenzetti Nascimento durante a prova da marcha atlética — Foto: Jonne Roriz/Exemplus/COB

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