Como interior de SP impulsionou carreira de Gregore até o Botafogo

Volante que fez o gol do título brasileiro do Glorioso foi revelado em São José dos Campos pelo técnico Rafael Guanaes; "Vi um jogador bastante completo", diz treinador

Por André Galassi e Vinícius Alves — São Carlos, SP


Volante Gregore do Botafogo já foi destaque do time de São Carlos

O volante Gregore foi um dos principais nomes do Botafogo na temporada. Campeão brasileiro, atuou em 33 das 38 rodadas da campanha que fez o Alvinegro voltar a vencer o nacional após 29 anos. Foi dele o último gol do Glorioso na competição, contra o São Paulo, aos 46 minutos do segundo tempo do jogo do título.

Na final da Libertadores, poderia ter sido vilão deixando o time com um a menos ao ser expulso aos 29 segundos de jogo, mas acabou sendo personagem chave de uma conquista épica para o clube carioca, que bateu o Atlético-MG por 3 a 1.

Gregore comemora gol contra o São Paulo na última rodada do Brasileirão — Foto: Buda Mendes/Getty Images

Hoje com 30 anos, o jogador começou a carreira na base em 2011 e se profissionalizou nos anos seguintes. Apesar de ser mineiro de Juiz de Fora, foi no interior de São Paulo que o agora campeão nacional e continental começou.

Gregore foi revelado no projeto Atleta Cidadão, de São José dos Campos (SP). Depois de jogar por Joseense e São José dos Campos FC em 2013 e 2014, disputou a Segunda Divisão do Campeonato Paulista, equivalente ao quarto nível estadual, pelo União São João.

Gregore no São José FC — Foto: Tião Martins PMSJC

No ano seguinte, em 2015, voltou para o São José dos Campos para a A3 e chegou ao São Carlos para novamente jogar a quarta divisão de SP. Quem o aprovou nos primeiros testes foi o técnico Rafael Guanaes, que recentemente acertou com o Atlético-GO.

— Eu conheci o Gregore em 2012. Ele foi ser avaliado no Joseense para a gente disputar a Copa Paulista. Me chamou atenção a biotipia dele e a forma como ele conseguia fazer o área a área com facilidade, chegava muito bem, muito forte à frente, com passada larga e conseguia fazer a nossa equipe progredir bem. Chegava para finalizar. Muita personalidade, sempre foi muito comunicativo e agressivo defensivamente, sempre com abordagens firmes — relembrou o treinador.

"Vi ali um jogador bastante completo para essa função de segundo homem do meio. Chamou muita atenção e foi uma aprovação bem fácil, bem rápida", disse Guanaes.

— Foi um cara importante neste ano do Joseense e depois levei para o São Carlos. Fico muito feliz de vê-lo nessa situação que ele está e o rumo que a carreira dele tomou — contou o treinador.

Rafael Guanaes, técnico, e Gregore (chuteira cinza), do Botafogo, quando defenderam o São Carlos em 2015 — Foto: Reprodução/EPTV/Acervo EP

Voo de Águia

O salto na carreira de Gregore aconteceu no São Carlos. Voou na Águia da Central. Fez 22 jogos e cinco gols. O time comandado por Rafael Guanaes foi campeão da Segunda Divisão, a tradicional Bezinha de São Paulo, à época equivalente ao quarto nível estadual.

— Em 2015, talvez, ele foi o principal jogador nosso, não só pelas características que descrevi. Fazia gol de bola parada, também. Chegava bem nos escanteios ofensivos. E principalmente a liderança, personalidade. Ele elevou muito nosso nível de trabalho no dia a dia. Desde aquele momento eu consegui identificar um jogador de muito talento, muita projeção e que, com certeza, iria se desenvolver como se desenvolveu para chegar nesse altíssimo nível que vem apresentando nos últimos anos, especialmente neste ano no Botafogo — analisou Guanaes.

Gregore em atuação pelo São Carlos — Foto: Divulgação/ São Carlos FC

Para Felipe Ferreira, gerente executivo do São Carlos em 2015 e responsável pela montagem do elenco junto com Guanaes, além das qualidades em campo, Gregore também chamava atenção pelas características pessoais em meio ao elenco.

— O Gregore sempre primou por ser uma pessoa extremamente extrovertida, sempre brincando, tirando sarro. O ambiente sempre ficou melhor com a presença dele. Sempre puxava o astral, o ambiente para o fator positivo, mais leve. Mas também, em momentos mais importantes, nunca deixou de se posicionar e exercer uma liderança positiva no grupo.

Confira lances de Gregore, do Botafogo, no início da carreira no São Carlos

Em dezembro de 2015, Gregore foi emprestado ao Santos para integrar o time B em 2016. Ficou duas temporadas no Peixe e foi contratado pelo Bahia, clube que o adquiriu em definitivo. O Tricolor comprou 90% dos direitos econômicos do jogador, gerando R$ 1,8 milhão aos cofres do São Carlos.

Gregore, do Botafogo, em atuação pelo São Carlos em 2015 — Foto: Reprodução/EPTV/Acervo EP

No Bahia, apesar de chegar para o time B, ganhou espaço na equipe profissional e foi titular absoluto por três temporadas até se transferir para o Inter Miami, dos Estados Unidos, onde jogou junto com Lionel Messi.

Depois de três anos no Inter (2021, 2022 e 2023), o volante chegou ao Botafogo neste ano ao ser comprado por 2,5 milhões de euros, a terceira maior contratação da história do clube em valores totais.

Gregore em atuação pelo Inter Miami — Foto: Kenta Harada/Getty Images

No Glorioso, Gregore fechou a temporada, além dos dois títulos, com 55 partidas, dois gols e duas assistências.

— Eu falei para o Gregore: “Não se contente com pouco. Mira a seleção brasileira, mira coisas grandes, que eu tenho certeza que se você trabalhar para isso você tem totais condições de conquistar”. A gente foi em busca do título [em 2015] e a carreira dele teve essa brilhante sequência — concluiu Guanaes.

Gregore comemora título do Botafogo na Libertadores — Foto: Daniel Jayo/Getty Images