Ariosvaldo Fernandes da Silva é bronze nos 100m masculino - T53
Lenda do esporte paralímpico brasileiro, Ariosvaldo Fernandes, o Parré, conquistou nesta quarta-feira a medalha que buscava há 16 anos, desde sua estreia nos Jogos em Pequim 2008. Com o bronze nos 100m da classe T53, para atletas que competem sentados, levou o Brasil ao pódio em corridas em cadeiras de rodas após 36 anos de hiato. Um resultado literalmente construído com as próprias mãos do atleta: Parré desenvolveu a cadeira de rodas que usa em competições em parceria com um fabricante nacional, e competiu de igual para igual com rivais que têm acesso a equipamentos tecnologicamente mais avançados.
- Infelizmente, hoje em dia o Brasil está ficando para trás na questão do equipamento, não está no nível do material que estão usando, que é o carbono. Acredito que isso esteja fazendo a diferença - afirmou o brasileiro logo após sua estreia em Paris 2024. - A minha é uma cadeira fabricada por mim. Graças à minha experiência, consegui desenvolver uma cadeira e ela chegou a mais uma final.
Segundo Parré, que também disputou os 400m em Paris, em provas mais longas um equipamento inferior e mais pesado acaba tendo mais impacto no resultado, já que o atleta precisa fazer força por mais tempo para sobrepor as limitações. Na prova, que consiste em uma volta completa na pista, o brasileiro chegou perto do pódio com uma quarta colocação, mas foi superado por atletas de países como Canadá e Estados Unidos, que utilizam cadeiras mais avançadas. De acordo com o paraibano, nos 100m, prova em que ganhou o bronze, o resultado tende a depender mais do potencial de cada atleta.
- Hoje em dia, na prova mais curta, a cadeira não faz toda a diferença. Claro que ajuda bastante uma cadeira de carbono, uma cadeira mais leve, mas quando precisa passar acima de 800 metros, a cadeira toda de carbono, que tem essa tecnologia de aerodinâmica, ajuda muito - explica Parré.
Diante da escassez de fabricantes de cadeiras esportivas no Brasil, Parré começou a se dedicar ao desenvolvimento de um equipamento que atendesse às necessidades de um competidor. Conhecimento que usou para ajudar a triatleta Jéssica Messali a lidar com um problema mecânico em sua cadeira, que apesar dos esforços de Parré no reparo acabou obrigando a brasileira a abandonar a prova em Paris.
Veja a cadeira de Jéssica Messali quebrada antes e durante a prova de Triatlo
- A gente tem esse conhecimento e ajuda com a cadeira. Eu aprendi muito pequeno a ter cuidado com o meu próprio material, e hoje em dia eu domino essa área. Então teve esse problema com a cadeira da Jéssica, e a gente tentou arrumar a madrugada inteira. Fiquei até 4h da manhã tentando, mas infelizmente, os recursos que tinham na hora não permitiam consertar - lamentou Parré.
Não ter conseguido consertar a cadeira de Jéssica marcou tanto Parré que ele fez questão de dedicar sua medalha à triatleta:
- Dedico essa medalha pra ela (Jéssica). Depois eu a encontrei e ela me agradeceu muito. Isso é pra ela também, né? Ela é minha amiga, ela é uma pessoa muito querida. Fez a melhor natação dela lá, mas na hora da cadeira, infelizmente aconteceu. E isso também foi porque ela tem uma cadeira japonesa, é tão difícil a gente adquirir essas peças. Então, infelizmente, a cadeira era muito difícil arrumar. Fiquei muito triste no dia, não consegui dormir naquela noite, mas eu acho que ela tá bem.
Reverência de Verônica Hipólito
Verônica Hipólito tinha acabado de conquistar o bronze nos 100m T36 quando Parré cruzou a linha de chegada de sua prova, também em terceiro. A velocista fez questão de aguardar o companheiro de delegação e fez uma longa reverência ao paraibano, lembrando que ele costuma colocar seu conhecimento de mecânica à disposição de outros atletas que precisem.
Verônica Hipólito e Ariosvaldo Fernandes da Silva celebram os bronzes conquistados
- Estamos numa época mágica do esporte. Esse cara que está aqui, ele é muito mais do que bronze, ele é muito mais do que ouro, não somente pela medalha que tá no peito dele. Mas porque ele é o cara que divide o conhecimento dele. A cadeira de rodas da Jéssica Messáli, do triatlo, quebrou. Ele ficou até de madrugada tentando arrumar e ficou mal quando não deu certo - disse Verônica. - Ele ajuda o pessoal do basquete de cadeira de rodas, do rugby. E ele está desenvolvendo uma tecnologia nacional. Então, empresas, por favor, prestem atenção nesse cara. Porque ele é uma lenda viva. Tenho muito orgulho de estar com esse cara.