Verstappen supera crise da RBR para conquistar tetracampeonato da F1 em 2024

Equipe austríaca enfrentou dilemas fora das pistas, incluindo investigação a chefe Christian Horner, e viu queda inesperada de rendimento ao longo do ano apesar de título do piloto holandês

Por Bruna Rodrigues — Rio de Janeiro


Quem imaginaria que Max Verstappen suaria tanto em busca do tetracampeonato da F1 em 2024, depois do holandês ter encerrado o Mundial anterior com 19 vitórias em 21 etapas? Ainda assim, a dificuldade da conquista - em um dos anos mais competitivos da história recente da categoria - elevou o feito do piloto da RBR, e reforçou: não se trata apenas de ter um bom carro. Abaixo, o ge detalha como Max chegou ao quarto título mesmo sob as condições adversas que enfrentou.

Max Verstappen recebe troféu de vencedor da temporada 2024 da Fórmula 1 — Foto: Handout/FIA/DPPI via Getty Images

Crise fora das pistas

O ano começou vitorioso para a RBR, com quatro triunfos nas cinco corridas iniciais. Para completar, Sergio Pérez ainda fez dobradinha com Max em três ocasiões. Mas os resultados positivos na pista dividiam espaço com uma crise dentro do time cujo estopim foi uma denúncia de comportamento impróprio - de cunho sexual - que teria sido cometida pelo chefe Christian Horner a uma funcionária.

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Horner foi considerado inocente, embora mensagens supostamente atribuídas ao gestor tenham sido divulgadas na internet. A funcionária acabou demitida; o caso suscitou manifestações de rivais como os pilotos e chefe da Mercedes e McLaren, e farpas foram trocadas publicamente entre o chefe e Jos Verstappen (pai de Max), que advoga por mais poder ao consultor Helmut Marko dentro da equipe.

Chalerm Yoovidhya, principal acionista da Red Bull; Christian Horner e a esposa Geri apareceram juntos no Bahrein — Foto: Kym Illman/Getty Images

Alerta amarelo

O clima nos bastidores melhorou, embora Jos e Christian tenham tido outro desentendimento posterior, em um evento, segundo o ex-piloto. Mas a sequência inicial de vitórias da RBR foi intercalada por um raro episódio: uma quebra de Verstappen. A falha nos freios, que não ocorria há pelo menos dois anos e tirou o holandês do GP da Austrália, abriu caminho para Carlos Sainz vencer.

Max Verstappen deixa carro após falha nos freios, no GP da Austrália da F1 2024 — Foto: Scott Barbour / POOL / AFP

Mas, se não houve outros problemas de confiabilidade no equipamento do time pelo resto do ano, o abandono só antecipou um tenso 2024 em Milton Keynes. A partir do GP de Miami, a McLaren surgiu discretamente como uma concorrente em busca de uma ou outra vitória. Um pacote agressivo de atualizações no MCL38 pôs a equipe de Lando Norris no caminho certo para o primeiro triunfo dele.

Verstappen chegou a ganhar nos GPs da Emilia-Romagna, Canadá e Espanha. Entretanto, desafiar a RBR já parecia algo alcançável para as rivais, assim como Charles Leclerc também fez - com sua pole position em Mônaco para pavimentar a vitória inédita do piloto da Ferrari em casa. E a McLaren seguia crescendo, ao passo em que a RBR parecia estagnada...

Lando Norris ergue troféu de primeiro lugar no GP de Miami da F1 em 2024 — Foto: Jared C. Tilton - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

A crise se instalou, enfim

No Canadá, Verstappen precisou contar com a estratégia para segurar Norris; na Espanha, foi pressionado pelo rival que chegou a largar da pole position. Mesmo com Max ganhando, a curta diferença sobre o rival da McLaren (3s872 em Montreal e 2s219 em Barcelona) apontavam para como o campeonato se desenrolaria a partir dali.

O GP da Áustria faria Max encarar um amargo jejum recorde de dez corridas sem ganhar. Em Spielberg, ele bateu com Norris e foi punido por tirar o adversário da corrida, abrindo caminho para George Russell, da Mercedes, vencer - mesmo que tenha sido Verstappen a largar da pole.

Max Verstappen para nos boxes com pneu furado após batida no GP da Áustria de F1 em 2024 — Foto: CHRISTIAN BRUNA / POOL / AFP

Durante o período de ausência do tetracampeão no topo do pódio, cinco pilotos diferentes ganharam corridas: George Russell, Lewis Hamilton, Oscar Piastri, Charles Leclerc e Carlos Sainz.

A fragmentação da posição de domínio do campeonato, até 2023 ocupada apenas pela RBR, ao menos aliviou as coisas para Max já que seu principal rival pelo título, Norris, também teve que lidar com a concorrência do colega de equipe Piastri e outros competidores que lhe tiraram alguns pontos importantes.

Ajudou também o fato do britânico ter dificuldades para converter poles em vitórias, o que só ocorreu mais à frente no campeonato, na Holanda e em Singapura. As corridas sprint foram outro diferencial na disputa: das seis edições, Verstappen venceu quatro, o que significaram mais 32 pontos extras.

GP dos EUA: Verstappen vence corrida sprint e amplia recorde — Foto: Reuters

Neste meio tempo as coisas foram ficando mais difíceis na RBR. Um importante pacote de atualizações levado para a Hungria não surtiu efeito no carro. Na prova, por sinal, Verstappen bateu com Hamilton, não economizou na animosidade e chegou a ser chamado de infantil por seu engenheiro, Gianpiero Lambiase.

A equipe até sugeriu que o proibiria de virar a madrugada no videogame em provas virtuais, hábito antigo que Max, até então, mantinha mesmo em fins de semana nos quais vencia na F1. Um discreto quarto lugar abriu as férias de verão da qual o holandês voltou ainda pior; ele admitiu que o carro estava difícil de guiar e afirmou, depois, que o time havia transformado o RB20 "em um monstro".

Na Hungria, com uma vitória de Piastri, a McLaren, que começou o ano apenas em quarto lugar, passou a Mercedes e a Ferrari e se tornou a vice-líder do Mundial de construtores. Em seguida, com o segundo triunfo do australiano, no Azerbaijão, assumiu de vez a ponta da tabela.

McLaren celebra vitória de Oscar Piastri no GP do Azerbaijão da F1 em 2024 — Foto: Peter Fox - Formula 1/Formula 1 via Getty Images

Norris, que era só sexto na classificação após o Bahrein, saltou para a vice-liderança depois do GP da Espanha - 69 pontos atrás de Verstappen. Essa diferença caiu para 47 no México mesmo que Max tenha tentado segurar o rival, forçando-o para fora da pista e sendo punido por isso. Lá, por sinal, a Ferrari jogou a RBR para terceiro no Mundial de construtores, com o triunfo de Sainz.

Foi justamente neste período, no intervalo de quatro semanas entre setembro e outubro, que Verstappen despertou. Na sequência, protagonizou disputas muito ferrenhas com Norris nos GPs dos EUA e México, mas pôde contar com o fim de semana ruim do rival no Brasil: mesmo vencendo a corrida sprint, Lando largou muito mal e chegou apenas em sexto no domingo. Já Max, foi de 17º a primeiro, na prova que o holandês considerou como a melhor da carreira.

Lando Norris e Max Verstappen saem da pista na largada do GP dos EUA da F1 em 2024 — Foto: David Buono/Icon Sportswire via Getty Images

O match point

A vitória em Interlagos fez Verstappen abrir 62 pontos sobre Norris na tabela. As chances do britânico ainda existiam, é claro, mas eram remotíssimas - e o próprio piloto reconhecia que praticamente não havia mais o que fazer.

Bom para Max, que seguiu firme e pilotou no GP de Las Vegas com o regulamento no bolso: uma série de resultados assegurariam seu título e ele o fez, cruzando a linha de chegada em quinto. Norris, em uma noite morna nos EUA, foi sexto.

Max Verstappen celebra vitória no GP de São Paulo da F1 em 2024 — Foto: Kym Illman/Getty Images

A conquista a apenas duas etapas do fim mostra que Max não tinha tanta dificuldade para assegurar um título desde sua primeira conquista, em 2021, no GP de Abu Dhabi - o último do ano. Mas apesar do trabalho, seu aproveitamento mesmo em baixa ao longo do ano, a vantagem adquirida com as vitórias no início da temporada e a sua técnica de pilotagem falaram mais alto e resultaram em seu tetracampeonato.

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