Rafaela Silva desabafa sobre sofrimento com dietas no peso leve: "Era um mau humor..."

Campeã olímpica na Rio 2016, judoca lutou 16 anos na categoria até 57 kg, mas está mudando para um peso maior para continuar tendo "prazer em estar dentro do tatame"

Por Redação do ge — Rio de Janeiro


Rafa diz que seguir dieta era o mais difícil na antiga categoria: "Não queria fazer nada"

Um dos principais nomes do Brasil no judô, Rafaela Silva está pronta para encarar uma nova fase da carreira. Campeã olímpica na Rio 2016, a judoca lutou por 16 anos na categoria até 57 kg e decidiu recomeçar em um peso maior. Em entrevista ao programa Hello LA, Rafa explicou a mudança para a categoria até 63 kg e disse que seguir a dieta era o mais difícil no peso leve.

Rafaela Silva estreando no judô feminino nos Jogos Olímpicos de Paris 2024 — Foto: Alexandre Loureiro/COB

Segundo Rafaela Silva, a mudança de categoria foi decidida antes mesmo das Olimpíadas de Paris, quando assinou o bronze do Brasil na disputa por equipes. Com o ciclo mais curto e intenso em volume de competições, a judoca começou a ter dificuldades para se manter dentro do peso da antiga categoria. O peso exigido nos campeonatos é representado, principalmente, pela massa muscular. Manter essa musculatura é uma tarefa árdua para os atletas, e estava afetando a saúde mental de Rafa.

— Já tinha decidido um pouco antes de Paris, porque foi um ano curto de três anos, mas bem intenso, com muita competitividade. Meu peso não era próximo da categoria de 57 kg, que era a minha. As pessoas sempre me perguntam por que não me aposento depois de ter ganhado um Mundial e uma Olimpíada. Eu falo que, enquanto tiver prazer em estar dentro do tatame, vou continuar fazendo isso. Mas eu vi que, se continuasse naquela categoria, não me sentiria bem. A treinadora até brincou falando: "Você já se decidiu? Graças a Deus, porque eu não iria te aguentar mais quatro anos naquele mau humor não" (risos) — explicou Rafa no Hello LA (confira o vídeo acima).

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Buscando alegria em continuar competindo, um dos principais fatores que influenciou a decisão de Rafa foi poder conseguir comer tranquilamente, ainda que dentro de uma dieta. Em entrevista ao Hello LA, a atleta disse que estava sendo sacrificante encarar as rígidas restrições para manter o peso leve, e que precisava continuar tendo prazer em treinar para conseguir iniciar mais um ciclo.

— Eu não tive problemas com o peso no início, porque antes lutava no 48 kg. Quando subo de peso, é porque cheguei em um limite em que não tenho mais condições de descer. Algumas pessoas reclamam da quantidade de competições no ano, eu sou diferente. Se tiver que competir 500 vezes no ano, vou com o maior prazer, mas quando falavam em começar a dieta eu não conseguia treinar bem. Era um mau humor, não queria fazer nada. Eu via que aquilo estava mexendo comigo mentalmente. Então falei que queria fazer mais um ciclo, mas precisava ter felicidade em estar no tatame novamente. As pessoas até falam que eu sou uma nova pessoa. Com um pratinho de comida fica diferente (risos) — contou a medalhista olímpica.

Desafios na nova categoria

Depois de 16 anos competindo no peso leve, Rafa Silva tem novos desafios pela frente aos 32 anos de idade. Depois do bronze por equipes em Paris e do gosto amargo de ficar fora do pódio no individual, a medalhista sonha em disputar mais uma Olimpíadas. Consolidada como uma das melhores atletas do mundo na categoria até 57 kg, a judoca inicia zerada no ranking da modalidade dos 63 kg, e precisará de bons resultados nas próximas competições para somar pontos.

— Muitas pessoas ficam com essa preocupação (da idade) no judô, mas a gente viu a Kekinha (Ketleyn Quadros) chegar em uma Olimpíada aos 37 anos e trocar de igual para igual. Durante muito tempo no ciclo, ela estava no top 10 da categoria. Vemos vários atletas com a idade um pouco mais avançada se destacando. Não perco a minha essência de ser destemida, ir para cima e ir em busca de novos desafios. Estou abrindo mão de um conforto que tinha na categoria até 57 kg. Ainda sou a quinta do ranking mundial e estou começando do zero. Hoje, na categoria até 63 kg, não estou nem em 200 no ranking, porque não tenho pontos. Tenho que começar novamente. Felizmente, isso não me assusta. Já tive que recomeçar quando fiquei sem competir por dois anos. Perdi todos os meus pontos e, em poucos meses, já estava no top 30/50 da categoria. Estou disputa a ir em busca de uma nova vaga olímpica nessa nova categoria — disse Rafa.

Rafaela Silva vibra com vitória em luta que decidiu medalha de bronze para a equipe brasileira em Paris 2024 — Foto: Miriam Jeske/COB

Para Rafa, o maior desafio no momento é ganhar força para competir com as atletas da nova categoria, já que as lutas do peso leve são mais focadas em velocidade do que em força física. A atleta está trabalhando nisso nos treinamentos e pretende manter o peso entre 63 kg e 66 kg, já que as competições permitem uma pesagem de até 5% do valor mínimo.

— Já treinei com atletas que lutam nos 63 kg nos treinamentos internacionais. Como meu peso era próximo da categoria delas, eu até treinava bem. Mas não posso chegar em uma nova categoria e perder minha essência. Como era um pouco mais rápida, não posso ficar muito lenta e entrar no jogo delas. Algumas pessoas que já fizeram essa transição não tinham tanta força, mas tinham velocidade, então se destacavam com esse diferencial. Com muito volume, as mais fortes se cansavam. Então, acredito que manter um pouco do meu estilo nos 57 kg dentro dos 63 kg vai me ajudar, mas estou trabalhando para ganhar força.

Próximas competições

Rafa já havia disputado algumas competições na categoria até 63 kg, mas o anúncio oficial da mudança foi no início de novembro, quando levou o ouro no Troféu Brasil. Agora, a brasileira tem uma competição internacional pela frente, onde vai disputar com atletas reconhecidas mundialmente na modalidade. Um dos campeonatos mais tradicionais no judô, o Grand Slam de Tóquio começa no sábado (7) e vai até o dia 8 de dezembro.

— Não vou me cobrar tanto nessa competição, porque é a minha primeira no ciclo olímpico. Comecei há pouco tempo a fazer um treinamento específico com meu preparador. Queremos fazer um trabalho de ganho de força para eu não me sentir distante das outras fisicamente. A gente quer ganhar sempre nas competições, mas agora quero ver o quão distante eu estou para poder melhorar. É importante fazer pontos e entrar no ranking. Preciso estar pelo menos entre as cem para competir o Mundial no ano que vem — projetou Rafa.

Para Rafaela, o Grand Slam de Tóquio também traz boas lembranças. Em 2012, ela competiu no 63kg, pela primeira vez, e conquistou a medalha de bronze. Mas, logo retornou aos 57kg e fez história nessa categoria, conquistando o ouro olímpico, no Rio, e o bicampeonato mundial (2013 e 2022)

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Ainda assim, o Grand Slam de Tóquio traz boas lembranças para Rafa. Em 2012, ela competiu nos 63kg pela primeira vez e conquistou a medalha de bronze na competição. Depois disso, retornou aos 57kg e fez história pela categoria, conquistando o ouro olímpico no Rio, e o bicampeonato mundial (2013 e 2022). Quis o destino que o recomeço em uma nova modalidade fosse justamente no campeonato e, mesmo sem grandes expectativas, a campeã olímpica é conhecida por surpreender.

— Acredito que, nesse primeiro momento, a pressão vai estar mais em cima delas (adversárias), que estarão pensando "não posso perder para essa menina que chegou agora". Isso me dá mais tranquilidade de chegar devagar e crescer dentro da categoria — encerrou Rafa.

A entrevista completa com Rafaela Silva foi ao ar no Hello LA da última sexta-feira (29) no sportv 2. Uma nova edição do programa vai ao ar nesta sexta-feira (06), a partir das 23h30, depois de Osasco x Minas pela Superliga Feminina de vôlei.