Ricardo Lomba foi eleito presidente do Conselho Deliberativo do Flamengo na segunda-feira
Eleito presidente do Conselho Deliberativo (CoDe) do Flamengo na segunda-feira, Ricardo Lomba levanta a bandeira da paz na Gávea. Apoiado por Bap, presidente eleito pelo clube para o próximo triênio, Lomba representa oposição à atual gestão, apesar de ter boa relação com Rodolfo Landim, presidente em atividade. Com bom trânsito entre diversos grupos políticos, ele defende a unificação do Flamengo.
Um dia após a vitória, Lomba conversou com o ge e abordou alguns pontos que deverão ser debatidos pelo Conselho Deliberativo durante seu mandato. Duas questões estão em evidência: a proposta de reforma do Estatuto defendida por Bap e a construção do estádio do Flamengo.
Entre as funções do CoDe estão avaliar o balanço anual do Flamengo, fazer cumprir o orçamento aprovado e promover votações de assuntos importantes para o clube, como contratos de patrocínios, uniformes do futebol e mudanças de Estatuto. Cabe ao órgão também assuntos secundários, como a emissão de títulos de sócio-proprietário que podem ser colocados à venda, a autorização para aquisição e venda de imóveis e investimentos em obras.
A primeira tarefa de Ricardo Lomba será a votação do orçamento rubro-negro para 2025. Os números foram apresentados aos conselheiros, mas ainda não houve apreciação. A votação deverá ser marcada pelo novo presidente do CoDe.
LEIA A ENTREVISTA COM RICARDO LOMBA:
ge: o que a sua vitória no Conselho Deliberativo representa politicamente para o Flamengo?
Lomba: eu acho que a pacificação do Flamengo já seria uma grande vitória. Conseguir reunir as diversas correntes políticas do clube para discutir temas relevantes, uma discussão de alto nível e ampliando debate, o Flamengo terá muito a ganhar. A gente encontrou em alguns momentos questões relevantes que simplesmente por virem de uma corrente A ou B, não foram aprovadas, e outros temas que eram colocados em pautas e aprovados facilmente sem muito debate por virem de um grupo específico. O que a gente prega e acha que é o justo para o Flamengo é um debate amplo, maduro e com vários pontos de vista para que o assunto fique bem amadurecido e possa ser aprovado com tranquilidade e que represente de fato o que é melhor para o Flamengo.
Ainda sobre esse ambiente político, como o clube enxergou a derrota da situação na semana passada? Rodolfo Landim não apoiou candidatos para o Conselho Deliberativo nem para o Conselho de Administração...
Eu acho que quando a gente tem troca de poder, quando as urnas mostram que a gestão tem que ser trocada, é um recado de que algo não saiu como os associados gostariam. Talvez o segundo mandato do Landim não tenha sido de acordo com o que os sócios queriam e, por isso, foram às urnas para votar em outro candidato.
Acho que isso é um processo natural. A alternância de poder é muito boa. Promove debate e muda características. Não vejo problema quanto a isso. Landim fez a opção por um candidato (Rodrigo Dunshee), e esse candidato certamente não caiu nas graças dos sócios.
Eles foram para votação e perderam. É um processo democrático normal. Há vencedor e alguns perdedores. Bap é o vencedor, e o candidato do Landim e o MGM perderam a eleição. Vejo com tranquilidade, nenhuma diferença para qualquer outra eleição. A situação não estava agradando aos sócios e, por isso, eles optaram por outro candidato.
Como tem percebido o processo de transição para a nova diretoria?
Eu não tenho participado da transição porque está próximo do Conselho Diretor. Em relação ao Deliberativo, a minha relação com Alcides é maravilhosa, nenhum tipo de problema. Vamos conversar para ele me passar as questões que estão pendentes no CoDe. Em relação ao Conselho Diretor, acredito que vai seguir o mesmo caminho. Não tem por que não ter uma transição pacífica, tranquila e harmônica. A gente precisa encontrar no Flamengo um ambiente de paz, tranquilidade e harmonia para que as questões sejam discutidas no mérito, no alto nível. Acho que vão encontrar uma transição tranquila no Conselho Diretor. No CoDe, eu afirmo categoricamente que a transição será a mais tranquila possível.
O principal foco da diretoria de Bap é a reforma do Estatuto. Fala-se em derrubar a obrigatoriedade de nomeação de vice-presidentes. Como enxerga isso?
Eu acho que a gente encontra um ambiente político bem propício para esse tipo de ação. Conversei com muitas pessoas, de muitos grupos, e todos reconhecem a importância do Estatuto de 1992, que é muito bom, mas ficou defasado com o passar do tempo. Todos veem a possibilidade de modernização com bons olhos. Eu acho que temos um ambiente político muito satisfatório para isso.
Em relação especificamente a pontos que a gente vai atacar, eu acho que há uma séria de questões importantes. Essa que você coloca que o Bap sugere a supressão de algumas vice-presidências ou a aglutinação de várias vice-presidências em uma só, eu vejo com bons olhos. Mas não parei para conversar exatamente sobre o que ele pensa sobre isso. Não conheço o projeto específico que ele tem na cabeça. Mas, de todo modo, qualquer sugestão que seja apresentada será submetida à apreciação da comissão e, se tudo estiver ok, será levada ao plenário. O CoDe é um colegiado e quem decide é o plenário. Na função de presidente do CoDe o que eu tenho que fazer é pegar isso, submeter è apreciação do plenário e eles decidem, porque o plenário é soberano.
Como esta reforma poderá ser feita?
São dois caminhos. Poderíamos pensar em uma reforma ampla, fazendo uma analogia com a Constituição de 1988, em que foi estabelecida uma constituinte entre os membros do congresso para debaterem o corpo inteiro da Constituição. Isso seria uma reforma ampla, geral e irrestrita no Estatuto. Ou a gente poderia pensar em ir atacando temas específicos que a gente coloca como mais urgentes e mais tranquilos de serem aprovados, mas que trazem benefícios para o Flamengo.
O Estatuto do Flamengo já está muito remendado por causa da quantidade de emendas que já foram aprovadas e que hoje estão em vigor. É questão de avaliar e discutir... juntar as diferentes correntes políticas do clube, fazer um grande debate para ver qual é a melhor alternativa.
Eu acho que uma coisa não inviabiliza a outra. Nós conseguiríamos fazer reformas pontuais e, paralelo a isso, poderíamos desenvolver um grupo de trabalho mais amplo, com mais gente, discutindo uma reforma completa. Vai depender. É juntar a turma para debater bastante. O importante é que seja um processo maduro, em que os temas sejam muito debatidos e muito conversados para fazer um trabalho bem feito e que dure bastante tempo em benefício do Flamengo.
Hoje, todas as vice-presidências são obrigatórias? A ideia é acumular funções e enxugar as pastas enquanto a reforma não é debatida?
Elas são previstas e são passíveis de serem ocupadas. Eles (Bap e a nova diretoria) tomam posse amanhã (quarta-feira, dia 18) e vão apontar os vice-presidentes. Eventualmente algumas vice-presidências podem ficar sem um titular nesse primeiro momento, duas ou mais vice-presidências podem ser acumuladas na figura da mesma pessoa. Temos que ver como o Bap vai apontar isso.
Ele pode enxugar o número de pessoas sem alterar o Estatuto, uma vez que uma pessoa acumularia mais de uma pasta. Isso não há restrição no Estatuto. Talvez ele possa querer mudar o Estatuto para diminuir o número das vice-presidências e até mesmo acabar e criar um ambiente meio corporativo, em que você tem um grupo de pessoas reunidas sem uma pasta definida. Temos que aguardar.
Um assunto de grande interesse do torcedor é a construção do estádio. O Flamengo já tem o terreno, agora precisa captar recursos para colocar o projeto em prática. Quais os temas mais urgentes a serem vistos com relação ao estádio?
Começo falando que nós somos absolutamente a favor do estádio. Nós queremos o estádio e vamos fazer tudo para construir o estádio. Não criaremos nenhum empecilho desnecessário para que estádio fique de pé. Mas estou chegando agora. Vamos ter que olhar os projetos, fontes novas de receita. Temos que construir o estádio sem perda esportiva, não podemos abrir mão de conquistas esportivas para construir o estádio. É um projeto ambicioso, não é uma coisa simples, mas temos pessoas gabaritadas no Flamengo para encontrar as alternativas necessárias para que isso aconteça. Vamos trabalhar incansavelmente para ter esse estádio de pé e mantendo toda a performance esportiva. Esse é o nosso objetivo.
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