Aos 46 anos, Marily supera etarismo e adia sonha de ser mãe para manter carreira vencedora

Globo Esporte BA estreia Por Nós, série que mostra personagens que sofreram e combateram o preconceito no esporte

Por Gabrielle Gomes, Rafael Teles e Tiago Reis — Salvador


Marily dos Santos, 46 anos, alagoana, mas que escolheu a Bahia para viver e ser feliz em um esporte que se tornou referência. A atleta que domina corridas de rua é a primeira personagem da série "Pós Nós", do Globo Esporte BA, que conta a história de grandes atletas que sofreram e combateram o preconceito no esporte.

Por Nós: série mostra a história de conquista e superação de Marily dos Santos

A corrida sempre esteve na vida de Marily. Quando criança, corria do sítio da família até a casa do padrinho para levar recados ao pai, que era agricultor. O trajeto de 14km era percorrido quase todos os dias. A primeira prova veio antes dela completar a maioridade, e, ao se destacar, fez da corrida uma profissão logo cedo.

Marily mostra rotina de treinos — Foto: Cleriston Santana / TV Bahia

Mas para viver a vida de atleta, Marily precisou adiar outros sonhos.

- O sonho de todas as mulheres, acho que 95%, é se casar, ter filhos. É um dos meus sonhos. Eu amo a corrida, corro porque eu gosto. E atrapalhou um pouco para realizar família, mas não é impossível. Eu nunca tive namorado para focar em formar uma família. Mas hoje em dia tenho namorado, quase casados. E eu vou realizar esse sonho. Tenho 46 anos, mas estou vendo as mulheres com 50 anos terem filhos. Quero ser casada, ter família, mesmo sem filho - contou a atleta.

Mesmo depois de mais de 25 anos como corredora, o desejo de ser mãe ainda compete com o desejo de vencer corridas. E para desespero das adversárias, a atleta de 46 anos não pensa em parar de competir por agora.

- Estou pegando pódio, ganhando as maratonas e não tenho previsão de parar. As meninas vão se sentir incomodadas. Claro que no bom sentido - brinca Marily.

Marily mostra preparação — Foto: Cleriston Santana / TV Bahia

No atual estágio da carreira, a idade virou uma adversária para Marily. Mas não pela condição física dela, que segue impecável. O problema é a desconfiança, que veio até mesmo de um ex-treinador. Ela foi desencorajada a continuar competindo por causa da idade, mas ignorou os pedidos e manteve a rotina de vitórias da longeva carreira.

- Eu fico grata a Deus de me dar esse dom. Com 40 anos as pessoas achavam que eu não iria ser ninguém. Não é o treinador que faz você correr mais. Mas sim a força de vontade e a disciplina. Isso faz com que eu corra e ganhe maratona. Das dez que fizer e ganhar oito está bom para mim. Hoje eu sou grata pelo dom que Deus me deu. Eu fui para Olimpíada, e as pessoas que treinaram comigo não foram - desabafa Marily.

Marily em entrevista ao Globo Esporte BA — Foto: Cleriston Santana / TV Bahia

Em mais de 25 anos como corredora, Marily participou de mais de 600 provas e subiu ao pódio em quase todas elas. O ponto alto da carreira foi representar o Brasil em duas Olimpíadas, um sonho para qualquer atleta. Mas em meio a tantas conquistas e premiações, a vida de Marily tem outro capítulo que ela preferia ter evitado.

Marily conta que foi enganada por um ex-namorado, que era o responsável por gerenciar a sua vida financeira. Segundo ela, valores de premiações de competições importantes, como a Maratona do Rio e a São Silvestre, foram retirados das suas contas.

- Eu para ser mais rica. Rica eu sou da graça de Deus. Mas rica com premiação de corrida. Quando chegou em 2017 e 2018 eu achei que já estava rica. Mas, por trás, pessoa que entendia mais de banco, fez conta conjunta comigo. Eu nem era casada. Minha premiação foi para o beleleu. Premiação de maratona do Rio, São Silvestre...Eu tenho um sítio, essa natureza. Para, para mim, é como se fosse fazenda de 30 quilômetros. E eu fico grata a Deus por me dar esse dom - completou.

Marily conta história ao Globo Esporte BA — Foto: Cleriston Santana / TV Bahia

A maior riqueza da vida de Marily é o dom da corrida, que hoje ela divide com jovens atletas em comunidades rurais. O trabalho social com crianças é uma forma dela ficar mais perto de um sonho que não conseguiu realizar, que não ainda não perdeu as esperanças: construir uma família.