Bahia conclui venda da SAF para o City, e CEO garante: "Vai ser o segundo maior clube do grupo"

CEO do City, Ferran Soriano participa de evento de formalização do acordo, em Salvador; bens e atletas já estão registrados sob tutela do Bahia SAF

Por Raphael Carneiro, Ruan Melo e Tiago Lemos — Salvador


Bahia conclui venda da SAF para o City

O Bahia é, de forma oficial, um dos clubes do Grupo City. Cinco meses depois de os sócios terem aprovado a venda de 90% da SAF para o conglomerado, o processo está concluído. Na manhã desta quinta-feira, um evento marcou a finalização do ingresso do Tricolor como o 13º clube do Grupo City. A passagem de bastão contou com a presença do CEO do grupo, Ferran Soriano.

Ferran Soriano, do Grupo City, e Guilherme Bellintani, do Bahia — Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

- Momento de poucas palavras, mas um dos mais importantes de minha vida. Vivi momentos de tristezas e muitas alegrias, mas jamais de arrependimentos. O que a gente traz hoje é que nos mostra que valeu à pena. A caminhada valeu à pena. Não apenas estamos transferindo ao Grupo City a responsabilidade do projeto. O que estamos dizendo é que nós vamos, junto com o Grupo City, construir esse projeto - celebrou Guilherme Bellintani, presidente do Bahia.

Em suas primeiras palavras, Ferran Soriano reforçou que o Esquadrão vai ser o segundo maior clube dentro dos 13 que são comandados pelo Grupo City ao redor do mundo.

- É um momento muito importante para o Bahia, mas é também um momento muito importante para nós. Celebramos hoje o primeiro dia de um relacionamento, de uma viagem, uma viagem que tem objetivo de levar o Bahia até o máximo do seu potencial. É muita responsabilidade. Todos os nossos times, com o Bahia são 13, todos têm uma história, todos têm seu valor, mas o Bahia é excepcional. É excepcional pelo tamanho, pelo tamanho da torcida. O Bahia vai ser o segundo clube maior do grupo. E também pela sua função social. A gente entende muito bem que o Bahia faz parte do tecido social de Salvador e da Bahia. Entendemos isso muito bem. Entendemos a responsabilidade que o clube tem, que as pessoas que vão gerenciar o clube nos próximos anos, as pessoas que serão os guardiões da história - completa Ferran Soriano.

Além disso, Soriano confirmou que o CEO do Tricolor será o peruano Raul Aguirre, que cuidará da parte de negócios, e garantiu que o Bahia não vai ser apenas um clube satélite, cujo principal objetivo seja a formação e comercialização de atletas para a Europa.

- Primeira coisa a dizer: não há segundo escalão. Todos os clubes são importantes. Cada um dos nossos clubes têm uma coisa singular. O do Bahia é o tamanho da torcida, é muito grande, colocamos 55 mil pessoas em Manchester. Cinquenta mil pessoas vão na Fonte Nova. Do ponto de vista do grupo, o Bahia vai ser muito importante. Vai ser muito importante, porque vemos oportunidade de crescimento. A oportunidade de crescimento do Bahia está ligada ao potencial do Campeonato Brasileiro. Estamos no momento onde isso pode acontecer. A mesma coisa que aconteceu em outos lugares do mundo anos atrás. Vinte anos atrás, a Premier League não era o que é hoje. O grupo vê no Bahia e no futebol brasileiro a maior oportunidade de crescimento do mundo. Vai depender de nós e de outros clubes brasileiros fazer crescer a liga como merece. Do outro lado, na procura de talento. Nossa aspiração é encontrar talento na Bahia, que vai se desenvolver conosco, com a melhor tecnologia de treinamento do mundo para chegar até o top. Qual o top? Primeiro, chegar no Bahia e ganhar campeonatos com o Bahia. Mas também chegar na Europa.

"Mas, para ser claro, objetivo não é encontrar talento e mandar para a Europa. O talento tem que jogar aqui, tem que ser campeão e, talvez, alguns deles irem para a Europa depois".

Raul Aguirre, confirmado como CEO do Bahia, ao lado de Ferran Soriano e Guilherme Bellintani — Foto: Tiago Lemos

Projeto de longo prazo e disputa por títulos

Ferran Soriano pediu paciência aos torcedores do Bahia — Foto: Felipe Oliveira/EC Bahia

O evento desta quinta foi apenas a formalização pública do processo que estava em andamento desde o ano passado. A previsão inicial no contrato entre o Bahia e o Grupo City era de que a mudança ocorresse em até nove meses. Durante esse percurso, além da criação da SAF, foi feita a transferência dos bens para a nova entidade.

Na quarta-feira, por exemplo, foi concluída a transferência dos contratos dos atletas. Os jogadores agora têm vínculo com o Bahia S.A.F., que tem novo número de CNPJ e um registro diferente nas competições nacionais.

Jogadores do Bahia têm novos contratos registrados no BID da CBF — Foto: Reprodução

O Grupo City já toma decisões no futebol no Bahia desde o final da temporada passada, quando os sócios aprovaram a venda da SAF, mas Soriano pontuou que esta quinta-feira representa o "dia um do ano zero". O CEO destacou que o trabalho vai ser de longo prazo, mas espera um crescimento rápido.

- Eu entendo a ansiedade. Estou ansioso também. Assisto a todos os jogos do Bahia. Faz parte do caminho, estamos no ano zero. Hoje é o nosso primeiro dia. O projeto é de longo prazo. Não é possível, na Bahia ou em outro lugar do mundo, mudar tudo de repente. O time estava na Segunda Divisão. Temos confiança no Cadu [Santoro, diretor de futebol]. As contratações foram boas. A Série A é muito competitiva. E também temos talentos jovens e um técnico muito bom. Ao longo do caminho, vamos perder jogos. Vou pedir ao torcedor paciência. O trabalho é de longo prazo. Isso não só é uma ideia, mas uma realidade do que aconteceu. Se olham para o Manchester City, ganhou quatro dos cinco últimos campeonatos na Premier League. Isso foi feito em dez anos. Mais ainda. São 14 anos de trabalho para chegar aqui. Ano zero, paciência, confiança. Não vamos tomar decisões baseadas em dois ou três resultados. Para todas as decisões há bases de análises. O resultado do jogo pode ser bom ou ruim, mas o que o time fez? Então para resumir: dia um do ano zero. Vai demorar um tempo. Vamos construir um bom elenco e time.

"Queremos ritmo rápido de crescimento. Nossa prioridade é crescer esportivamente e economicamente. Se não crescermos a receita, não poderemos investir em jogadores".

Questionado sobre quando o clube vai disputar títulos nacionais e continentais, Ferran Soriano afirmou que não há uma data estabelecida para o time chegar a esse patamar

- Não tenho resposta para isso. Não sei. Sei qual é o caminho. O caminho é ter um time competitivo para a Série A. Assisti aos últimos três jogos, e o time foi competitivo. Temos que ter time consolidado na Primeira Divisão. Depois disso, vamos construindo passo a passo. Eu vejo o momento em que o time vai estar consolidado e participando das competições regionais [continentais]. Em quanto tempo, não sei. O time vai precisar de mais tempo. Sei da impaciência do torcedor, sou torcedor também. Mas aprendi que a paciência é muito importante. Depois do jogo, pode estar contente ou não. Eu sei que, às vezes, passamos momentos difíceis. Eu sei que, no fundo, a torcida ama o clube. E se você ama o clube, tem que ser capaz de resistir. É pior do que já passou com rebaixamento e pandemia. Mas o clube sobreviveu.

Logomarca no centro de treinamento

As novas cores do Bahia SAF já são vistas no CT Evaristo de Macedo. Desde a última quarta-feira, a logomarca e as cores do Grupo City são exibidas no centro de treinamento tricolor.

Marca do Grupo City agora divide espaço com o símbolo do Bahia na entrada da Cidade Tricolor — Foto: Reprodução / Redes Sociais

Agora, o escudo do Bahia divide espaço com a logomarca do City Football Group na entrada do CT. A marca do conglomerado também já é exibida nos alambrados que cercam os campos de treinamento na Cidade Tricolor.

Nas redes sociais, alguns torcedores pontuaram o predomínio do "azul City" em detrimento as cores do Esquadrão. Em 2023, o Bahia também já lançou um uniforme em alusão ao Grupo City.

- A marca não muda, não vai mudar. Não temos intenção de mudar. No futuro, jogando bem futebol, com bons resultados, a marca vai crescer, mas por causa do futebol. Não vai ser um truque de marketing. O Manchester City cresceu, porque joga bem o futebol. No Manchester City, a gente recuperou o escudo mais autêntico para voltar as suas raízes. Só com bom futebol vamos crescer - afirmou CEO do City.

Bahia lança terceiro uniforme em alusão ao Grupo City — Foto: Divulgação/E.C. Bahia

Investimento

A negociação pela venda de 90% da SAF do Bahia, intermediada pelo empresário Paulo Pitombeira, foi aprovada pelos sócios desde o dia 3 de dezembro. O conglomerado participou diretamente da montagem do atual elenco, com investimento de mais de R$ 80 milhões para compra de jogadores. Outros atletas que pertencem a clubes do Grupo City também foram emprestados do Tricolor.

- [Investimento] Vai depender da evolução do time, o que precisamos. Obviamente, o jeito de trabalhar vai ser técnico e profissional. Vamos ver as posições que precisam ser melhoradas - explicou Soriano.

O acordo permanecerá em vigor por um prazo determinado de 90 anos, renovável por períodos adicionais. Vale lembrar que o Grupo City se comprometeu a aportar R$ 1 bilhão no Bahia da seguinte forma:

  • Mínimo de R$ 500 milhões para a compra de jogadores;
  • R$ 300 milhões para o pagamento de dívidas;
  • R$ 200 milhões para infraestrutura, categorias de base, capital de giro, entre outros - único item não obrigatório.

"Vai ser o 2º maior clube do grupo": Soriano comenta importância do Bahia no Grupo City

Veja outros trechos da entrevista coletiva:

Vai firmar novo contrato com Fonte Nova?
- Pensamos em tudo. As possibilidades estão abertas. Precisamos entender mais, falar com as pessoas envolvidas. Temos trabalhado juntos, com Guilherme [Bellintani] e seu time. Só hoje que eu tenho a legitimidade de falar com as pessoas certas. O que posso dizer é que esse estádio é fantástico. Tem coisas a melhorar, mas é muito bom e estamos felizes de estar aqui.

Relação com a torcida
- Vamos construir uma relação com a torcida normal e natural. Não vamos construir. Está construída. Vamos continuar. Isso significa que, voltando um pouco, o clube não é nosso. O clube é da torcida, é da Bahia. O papel do City, como Bellintani falou, "cuidem da gente". Papel é gerenciar o clube nos próximos anos, ser guardiões dos valores do clube. Vamos escutar a torcida, falar com eles, trabalhar com eles, mas não vamos deixar de fazer o que tem que ser feito. Não demitimos técnicos em lugar nenhum do mundo porque alguém não está contente. As decisões são técnicas, meditadas, vão ser compartilhadas com a torcida, mas não mudadas pela emoção de um jogo perdido. Tendo dito isso, o clube é a torcida, a torcida é o clube.

O que fez até agora no projeto
- Vamos curtir a viagem. É uma viagem. O poeta Vinícius de Moraes dizia que, para fazer um samba com beleza, é preciso um bocado de tristeza. A tristeza faz parte da vida. Vamos estar juntos no triunfo e também na derrota. Vamos curtir a viagem. A viagem é longa e vai nos levar a um bom lugar. Raramente você reflete depois de um triunfo. Na derrota, você é obrigado a pensar, a refletir. A derrota é uma oportunidade para aprender e crescer. Vai ser assim, e vamos fazer o caminho juntos.

Integração com prefeitura e governo
- Já tive a oportunidade de encontrar o prefeito [de Salvador]. Fiquei impressionado pelo seu interesse e oportunidades para o futebol. Hoje é o primeiro dia. Vamos trazer nossa experiência para trabalhar com prefeitura e governo do estado. Sabemos do nosso papel. O clube se chama Bahia, o estado da Bahia. Eu abraço esta responsabilidade.

Vai mudar centro de treinamento?
- O centro de treinamento é muito bom. Posso comparar com outros clubes que a gente investiu. Falei em Palermo que tivemos que construir tudo. Em Girona, compramos terreno. Aqui está muito avançado. O ponto de saída é muito bom. Sobre se vamos fazer outras coisas, não tenho resposta ainda. Tudo vai ser cogitado. É um bom momento.

Vai assistir a Bahia x Coritiba?
- Infelizmente, não posso ficar para o jogo. Vou voltar para a Europa amanhã. Mas vou voltar mais vezes. Preciso entender melhor a realidade daqui e também porque gosto.

Relação com baianos e marca do Bahia
- Ainda não tenho estratégia para isso. O foco era a Bahia. A Bahia é muito grande. Tem muito baiano na Bahia e no mundo. O Bahia é o mundo. Vamos estabelecer relação com baianos. Foco é nação baiana.

Clubes sul-americanos
- São duas equipes muito diferentes, clubes muito distintos. O City Torque é clube pequeno, a gente comprou um clube pequeno na Segunda Divisão e levou para a primeira divisão. E tem feito um trabalho extraordinário na procura de atletas no Uruguai. O Montevideo faz um trabalho de identificação, para e desenvolvimento de jogadores. E alguns podem chegar ao Bahia. O caso do Bolivar é distinto. É um clube, na Bolívia, do tamanho do Bahia.

Guardiola e De Bryne no Bahia?
- Não sei se amanhã ou depois de amanhã (risos). O que posso dizer é que Guardiola vai assistir aos jogos do Bahia. Isso acontece. Temos lá umas telas, e o pessoal de Manchester assiste aos jogos dos outros clubes. Quando falei para os jogadores, disse: uma coisa é certeza, vocês jogando no Bahia têm atenção de todos os treinadores, todos os diretores de futebol e todos os olheiros do Grupo City.

Nova liga
- Queremos ser protagonistas e participar. Vamos tentar trazer a nossa experiência. Trabalhamos em 12 e agora 13 ligas no mundo. Vamos querer tentar trazer essa experiência.

- O potencial é espetacular. Não só na teoria, mas na experiência a gente já participa de muitas ligas. O potencial do futebol brasileiro no mundo é espetacular. Esse potencial está sendo perdido enquanto não se organiza a nova competição. Sobre questões políticas dos diferentes grupos, não tenho opinião, não falei com ninguém, mas vou me colocar a disposição para ajudar. Mas acredito que a oportunidade não pode ser perdida. Os clubes têm que encontrar posição de trabalhar juntos. O tamanho é muito maior do que hoje. Vamos colocar nossas ideias ao serviços dessas discussões.

Comparação com outros clubes
- Vai ser diferente. Não sei ainda como, mas será diferente. Cada clube é diferente. O nosso clube em nova iorque é um exemplo. foi fundado do zero. em 2013 a gente foi lá e comprou um licença. não tinha nada. Seis anos depois, ganhamos um campeonato. Isso é impressionante porque não existia. E demorou um tempo para construir um clube do nada e chegar no momento que ganhamos o campeonato. Não me lembro se foram seis ou sete anos. isso dá uma perspectiva. Na minha experiência, nada no futebol se faz em dois ou três anos.

Planos para ativos físicos do clube e captação de atletas
- O fato que é o dia 1 não significa que é o dia 1. A gente tem estudado opções do Fazendão, do centro de treinamento, de todos os campos que temos alugados na cidade. Queremos analisar mais, não temos uma resposta ainda porque é uma decisão importante e merece um tempo. O que queremos é ter uma infraestrutura na Bahia, em Salvador, do mesmo nível que temos em outros lugares do mundo, o Grupo City tem City Football Academys, em Manchester, Miami, Melbornue, estamos construindo em Palermo, acabamos de comprar terrenos para construir em Girona. Vamos ter uma ou várias em Salvador. Mas ainda não sei onde e como. Por enquanto o que temos no Centro de Treinamentos está muito bem. Estamos investindo em outros clubes que estava muito pior, não temos urgência, por enquanto funciona.

Bellintani responde sobre denúncias contra Grupo City
- Absolutamente nenhum impacto. No mundo do futebol precisamos conhecer processos e consistências. O processo que o grupo passou foi igual a outro que o grupo foi inocentado. Da nossa parte, analisamos e decidimos que estamos muito seguros em relação a isso. Coisas como essa nos fortalece como grupo. Quando essas coisas surgem, vamos juntos.