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Por Camila Alves e Thiago Ferri — São Paulo


Um avião em chamas, 400 kg de cocaína e um traficante foragido por três anos. Era março de 2020 quando a Polícia Federal apreendeu a aeronave, incendiada em uma pista clandestina na cidade de Tangará da Serra, no Mato Grosso. O transportador da droga fugiu pelo matagal e esteve desaparecido até o ano passado. Terminou preso, contudo, em um ambiente inusitado: o Allianz Parque, estádio do Palmeiras.

Relembre! Palmeiras inaugura sistema de biometria facial

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Foi o sistema de reconhecimento facial, implementado pelo Palmeiras e agora com um ano em atividade, que permitiu a identificação e notificou a polícia para cumprir o mandado de prisão em São Paulo. E ele não é o único.

Retomado na última quarta-feira, com a vitória do Verdão no estádio por 3 a 2 contra a Inter de Limeira, o reconhecimento facial ajudou a identificar 48 pessoas procuradas pela Justiça, e 39 delas foram presas enquanto tentavam acessar o Allianz Parque.

Sistema de reconhecimento facial do Allianz Parque, estádio do Palmeiras — Foto: Fabio Menotti/Palmeiras

Entre elas, o narcotraficante, preso por tráfico internacional de drogas, e pessoas condenadas por pedofilia, roubos, furtos e não pagamento de pensão.

– É um serviço público muito importante que o Palmeiras está prestando para a sociedade. É um assunto relevante para o futebol. Para coibir violência, repensar a questão de torcida única – disse a presidente Leila Pereira.

Palmeiras 3 x 2 Inter de Limeira: primeiro jogo do ano com biometria facial no Allianz Parque

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A partir de 2025, por sinal, o reconhecimento facial será obrigatório pela Lei Geral do Esporte.

Depois do Palmeiras, o Flamengo acionou a Bepass para introduzir a tecnologia no Maracanã e pelo menos outros nove clubes procuraram o Verdão em busca de mais informações sobre o sistema. É o caso de Fluminense, Botafogo, Grêmio, Bahia, Atlético-MG, Internacional, Cruzeiro, Fortaleza e Ceará.

Sistema de reconhecimento facial do Allianz Parque, estádio do Palmeiras — Foto: Fabio Menotti/Palmeiras

Parte dessas equipes está agora trabalhando com a mesma empresa, além de outras em processo de teste com outras instituições, como o Sport, na Ilha do Retiro, e o Vasco, em São Januário.

– Todos os grandes clubes da Série A e alguns da Série B estão se movimentando. Os benefícios que trouxeram, fora essa obrigatoriedade, foram muito grandes. Estamos com Botafogo, Fluminense, Corinthians, Santos, Atlético-MG, Cruzeiro, Bahia e Grêmio – diz o CEO da Bepass, Ricardo Cadar.

Os contratos fechados atualmente são Palmeiras, Flamengo e Botafogo, enquanto Atlético-MG e o Bahia estão em fase de teste para staff.

Sistema de reconhecimento facial do Allianz Parque, estádio do Palmeiras — Foto: Fabio Menotti/Palmeiras

A identificação contribui para as autoridades de segurança pública através de uma parceria com a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, pelo projeto Muralha Paulista. No caso da Bepass, responsável por gerenciar a plataforma, se dá por um programa do Governo assinado entre o Ministério da Justiça e Segurança Pública com a CBF.

Assim, a cada vez que uma pessoa compra o ingresso, os dados são enviados em tempo real para uma base que identifica:

  • Se é uma pessoa com mandado de prisão em aberto, desde pensão, furto, roubo, homicídio.
  • Se é uma pessoa que ainda está viva, para evitar a entrada de pessoas tentando burlar com o CPF de alguém que morreu.
  • Se são pessoas que têm sentença impedindo a entrada no estádio.
  • Se são pessoas desaparecidas, que desapareceram da família e há boletim de ocorrência em aberto.

Além dos condenados, portanto, foram localizadas mais de 200 pessoas que estavam dadas como desaparecidas de suas famílias nos registros da polícia.

– Quando a pessoa faz a compra, a gente coloca um aviso nela e quando vai entrar, é enviado para a polícia que está presente no local, e a polícia faz o trabalho de abordar. Tem a foto de quem está na catraca tentando entrar – explica o CEO da Bepass, Ricardo Cadar.

– Quando é mandado de prisão, a pessoa é presa. Se for desaparecida, só identificam e ela não é obrigada a se identificar para a família, porque alguns não querem – completa.

Sistema de reconhecimento facial do Allianz Parque, estádio do Palmeiras — Foto: Fabio Menotti/Palmeiras

A medida, aliás, surgiu no Palmeiras no início do ano passado para combater problemas de cambismo, e desde então 740 mil pessoas acessaram o Allianz Parque por meio da biometria facial.

Apenas 2,5% delas precisaram passar pelo setor de contingência, por conta de falhas de cadastro ou outras dificuldades, e o tempo de entrada na arena reduziu em 60%, segundo dados fornecidos pelo clube.

Antes disso, o sistema teve papel fundamental na identificação do suspeito que teve prisão preventiva decretada pela morte da torcedora Gabriela Anelli, em Palmeiras x Flamengo, pelo Brasileirão de 2023. De acordo com a Polícia, a tecnologia possibilitou o detalhamento da confusão, e o Palmeiras - a pedido do DHPP - enviou a foto registrada na catraca no acesso do flamenguista.

Imagens da investigação da morte de Gabriela Anelli — Foto: Divulgação

Os dados, ressalta-se, ficam registrados em um servidor externo, de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), reforça o clube, e são usados exclusivamente para o acesso dos torcedores ao estádio, com exceção de pedidos feitos por órgãos de segurança pública

– Muitos no clube falaram que não daria certo. Achavam que ia dar muito problema e eu falei que ia dar certo. Quando começou os testes em determinados setores, começou a dar problema, e eu falei para resolver. Dei um passo para trás, não consegui cumprir o prazo em mente, mas foi funcionando. Hoje é um exemplo internacionalmente – finaliza Leila Pereira.

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