No próximo dia 1 de junho, o Flamengo completa 40 anos de sua primeira conquista de Campeonato Brasileiro. Em 1980, a equipe bateu o Atlético-MG na finalíssima por 3 a 2 e iniciou a fase mais vitoriosa da história. A decisão, que teve mais de 154 mil pagantes, é até hoje considerada pelos principais personagens rubro-negros uma das mais espetaculares que a competição já viu.
Para Zico, que fez um dos gols do Flamengo contra o Galo, um dos diferenciais foi a alta qualidade técnica dos dois times, que na ocasião tinham alguns jogadores na seleção brasileira.
- Foi uma das finais mais espetaculares. Estava em campo a base da seleção brasileira, depois de que o Telê assumiu. Foi dramático - lembrou o Galinho ao GloboEsporte.com.
Nunes lembra título brasileiro de 1980 no boletim do Flamengo: "Maior decisão da história"
Autor de dois gols, inclusive o do título, Nunes se empolga a fazer da conquista e da decisão com o Galo. Para ele, foi o início de uma história de grande sucesso.
- De todos os títulos que o Flamengo ganhou em Brasileiros, para mim a decisão com o Atlético foi a maior da história do clube, com certeza. O título de 80 foi o começo de tudo. Me consagrou campeão brasileiro pela primeira vez, fez o Flamengo campeão pela primeira vez. Essa conquista faz parte da minha história, tem uma importância muito grande - disse o ex-camisa 9.
Nunes foi contratado pelo Flamengo naquele ano, após uma passagem pelo Monterrey, do México. Inicialmente a diretoria rubro-negra tentou repatriar Roberto Dinamite, que estava no Barcelona, mas o Vasco conseguiu impedir em cima da hora e o levou para São Januário.
Em 1980, Flamengo vence o Atlético-MG por 3 a 2 e é campeão brasileiro
Mas a torcida do Flamengo não teve motivos para lamentar. Contra o Atlético, Nunes fez os dois gols e começou a fazer por merecer o apelido de "Artilheiro das Decisões". No ano seguinte, em 81, ele faria dois também na final do Mundial, vencida pelo Flamengo por 3 a 0 sobre o Liverpool.
A campanha quase perfeita
O Brasileiro de 80 teve 40 clubes, inicialmente divididos em quatro grupos com dez. Os sete primeiros (28) avançaram para a segunda fase junto com os quatro primeiros colocados na primeira fase da Taça de Prata (Americano-RJ, Sport, Bangu, e América-SP). As 32 equipes foram divididas em oito grupos com quatro em cada.
Na terceira fase, em turno único, o primeiro colocado de cada um dos quatro grupos passou para a semifinal. O Adversário foi o Coritiba, e o Flamengo venceu as duas partidas e se classificou para enfrentar o Atlético na decisão.
Até a final, o Flamengo teve apenas uma derrota. Mas não foi uma qualquer. Com Zico em campo, a equipe perdeu no Maracanã para o Botafogo-PB, por 2 a 1. As críticas foram pesadas, e a torcida não engoliu o resultado. O time foi vaiado naquela partida e em outras seguintes. Para o Galinho, aquele foi um jogo decisivo para o título.
- Nós vínhamos de um tri carioca, que na época era uma grande disputa. Ganhamos sete turnos seguidos. Entramos no Brasileiro como um dos favoritos. Um time bom, que estava crescendo e tinha muita gente na Seleção. Acho que a porrada que levamos do Botafogo da Paraíba, em pleno Maracanã, foi muito importante. Ligou o alerta de que tínhamos que comer muito feijão para sermos campeões. Era difícil perder no Maracanã, mas em um dia em que achamos que íamos vencer a hora que queríamos, nos demos mal. Aquela foi a única derrota que eu tive na competição - lembrou Zico.
A decisão histórica com o Atlético
A outra derrota que o Flamengo teve no Brasileiro de 80 foi o primeiro da final, no Mineirão. Zico não estava presente por causa de uma lesão muscular. O Galo venceu por 1 a 0, com gol de Reinaldo, e ficou em vantagem para o o segundo jogo, no Maracanã.
- Tivemos muitos problemas. Eu tive o estiramento antes do jogo contra o Coritiba. A final foi um jogo na quarta e outro no domingo, então se eu tivesse que arriscar, era tudo no domingo. Fiquei de repouso a semana inteira. Eu só levantava para ir ao banheiro e fazer as refeições. O enfermeiro Serginho ia lá na minha casa fazer tratamento comigo de manhã e de tarde. Aí eu fui para o jogo. Foi um partidaço. Eu não joguei o primeiro jogo, e o Rondinelli não jogou o segundo porque estava no hospital depois da cotovelada do Palhinha. Eles entraram com o Reinaldo, que tinha decidido para eles, ainda "meia-bomba". Nossa vitória foi fantástica. É aquele negócio... quando nós colocamos vantagem, aí os caras começaram a se desesperar e deram até mais oportunidades para nós conquistarmos o título. Houve as expulsões, mas ainda sim no final houve um lance de uma bola atrasada que quase eles empatam (risos) - lembrou Zico.
Em campo, foi uma duelo de altíssimo nível. Nunes abriu o placar aos sete minutos, e Reinaldo empatou no minuto seguinte. Zico recolocou o Flamengo à frente aos 44, após aproveitar chute de Junior e mandar para o fundo do gol de João Leite. No segundo tempo, aos 11, minutos, Reinaldo, que estava machucado, fez seu segundo.
O lance que não sai da cabeça da torcida rubro-negra aconteceu aos 37 minutos, que o Flamengo já tinha um jogador a mais depois da expulsão de Reinaldo. Nunes recebeu pela ponta esquerda, fez jogada individual, invadiu a área e marcou o gol do título. O Galo terminou com oito jogadores, porque Chicão e Palhinha também receberam o vermelho.
As escalações:
Flamengo: Raul; Toninho, Manguito, Marinho e Junior; Andrade, Carpegiani (Adílio) e Zico; Tita, Nunes e Júlio César. Técnico: Cláudio Coutinho.
Atlético-MG: João Leite; Orlando (Silvestre), Osmar, Luisinho (Geraldo) e Jorge Valença; Chicão, Toninho Cerezo e Palhinha; Pedrinho, Reinaldo e Éder. Técnico: Procópio Cardoso.
As memórias de Nunes, herói do título de 80
"São várias recordações. Na concentração, quando estávamos saindo para a decisão do título, o Francisco Horta, ex-presidente do Fluminense, sentou ao meu lado e disse: Nunes, eu sonhei que você vai fazer dois gols, e o Zico, um. Foi o que aconteceu, e conquistamos o título.
O primeiro gol foi uma jogada pelo lado esquerdo. O Osmar, zagueiro do Atlético, saiu conduzindo a bola, deu dois toques, e o Andrade roubou e tocou no Zico. O Zico lançou para mim, e eu entrei em diagonal e fiz o gol na saída do João Leite (goleiro do Atlético). Chutei rasteiro e forte.
O segundo gol foi lançamento do Andrade pelo lado esquerdo. Eu corri, acreditei e cheguei. Tentei cruzar para dentro da área com rapidez, porque estavam entrando o Tita e o Zico, só que a bola bateu no Silvestre e voltou para mim. Tive que assumir a responsabilidade. Dei o drible no Silvestre, aquele famoso em que eu mandei ele olhar o Cristo, entrei na área e fiz o segundo gol com um chute forte, de chapa. Foi o gol do título".
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