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Por Thales Soares — Rio de Janeiro


Nesta quinta-feira, o incêndio no Ninho do Urubu completa cinco anos. Foram 10 vítimas fatais, jovens entre 14 e 16 anos de idade, 16 sobreviventes. Até hoje, nenhuma pessoa foi punida criminalmente pela tragédia.

Entre as famílias das vítimas fatais, nove fizeram acordos com o Flamengo. A mãe do goleiro Christian Esmério, então com 15 anos, não aceitou a proposta rubro-negra e aguarda uma decisão da Justiça. Na noite de quarta, durante o jogo contra o Botafogo, o clube publicou nota (leia a íntegra abaixo) na qual diz estar "aberto para alcançar uma composição com eles, a quem muito preza".

Sobrevivente, Cauan Emanuel lembra a noite do incêndio no Ninho

Sobrevivente, Cauan Emanuel lembra a noite do incêndio no Ninho

Além de Christian, morreram no dia do incêndio: Arthur Vinícius de Barros Silva Freitas, 14 anos; Pablo Henrique da Silva Matos, 14 anos; Bernardo Pisetta, 15 anos; Vitor Isaias, 15 anos; Samuel Thomas Rosa, 15 anos; Athila Paixão, 14 anos; Jorge Eduardo, 15 anos; Gedson Santos, 14 anos; e Rykelmo Viana, 16 anos.

Os sobreviventes seguem seus caminhos sob o impacto daquela manhã de 8 de fevereiro de 2019. Apenas três dos 16 continuam no Flamengo, dois deles como jogadores. O goleiro Dyogo, de 20 anos, atua no sub-20, e o volante Rayan Lucas, de 19, chegou a entrar em campo na vitória sobre o Sampaio Corrêa, pela 5ª rodada do Carioca deste ano.

Dyogo Alves atua no sub-20 do Flamengo — Foto: Paula Reis/Flamengo

O outro sobrevivente ainda no clube é Jhonata Ventura, de 20 anos, que jogava como zagueiro. Ele e Dyogo ficaram internados, mas a situação de Jhonata foi muito mais grave. Ele ficou com muitas queimaduras pelo corpo, chegou a voltar a jogar, mas acabou se tornando scout no fim do ano passado.

Dos 13 que deixaram o clube, a maioria segue em busca de uma carreira como jogador profissional. Cauan Emanuel, de 19 anos, teve seu contrato encerrado com o Fortaleza no fim de 2023. Ele também ficou internado com queimaduras depois do incêndio, assim como Dyogo e Ventura.

- É uma data que fico fora das redes sociais, não apareço, respeito o momento e me coloco na vida dos meus colegas, das famílias. Nasci de novo e meus companheiros morreram - comentou Cauan, que em janeiro deste ano estava disposto a abandonar o sonho de ser jogador profissional.

Andreia e Cristiano, que não fizeram acordo com o Flamengo, falam sobre Christian, uma das vítimas do incêndio

Andreia e Cristiano, que não fizeram acordo com o Flamengo, falam sobre Christian, uma das vítimas do incêndio

- Meu contrato acabou em dezembro. Fiquei um pouco desanimado, cheguei a desistir, mas meu sogro e meus empresários não deixaram. Estou treinando por fora, esperando oportunidade. Isso sempre foi a minha vida e, querendo ou não, tenho que correr atrás do meu futuro, tenho um filho de um ano e nove meses e preciso dar o melhor para ele - afirmou Cauan, que mora em uma casa com sua mulher, seus sogros, dois cunhados e seu filho.

Dois jovens estão em ação no Paraná. Os atacantes Samuel Costa, de 21 anos, do Azuriz, e Pablo Ruan, de 21 anos, do Londrina, podem até se enfrentar no dia 17 de fevereiro, quando seus times jogam pelo Campeonato Paranaense, no Estádio do Café.

Samuel Barbosa lembra a noite do incêndio no Ninho do Urubu

Samuel Barbosa lembra a noite do incêndio no Ninho do Urubu

- Depois que saí do Flamengo, comecei a frequentar outros times. Fui ficando com psicológico abalado. Falei para o meu pai que não queria mais, que iria desistir. Mas ele foi me incentivando, dando apoio. (Esse dia) Me faz lembrar que Deus me deu uma segunda chance e também é um dia muito triste. Desde que aconteceu até hoje, todo dia 8 faço uma oração pelos meus companheiros, pelo livramento - disse Samuel.

Galo Maringá 0x1 Azuriz: veja o gol de Samuel

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Mais sobreviventes

  • Felipe Cardoso tem 20 anos e defende o Santa Cruz;
  • Wendel Alves está no time sub-20 do Internacional. Ele tem 19 anos;
  • Aos 19 anos, Caike Silva atua pelo Barra, de Santa Catarina;
  • Filipe Chrysman, de 21 anos, foi contratado no fim de 2023 pelo Central de Caruaru;
  • Kayke Campos defende o Hatta Club, dos Emirados Árabes. Ele tem 20 anos e está no país desde o começo de 2022;
  • Jean Sales, de 21 anos, foi para Portugal em 2021. Atualmente, defende o Santa Clara;
  • Kennyd Lucas, de 19 anos, pertence ao Goiás e foi cedido por empréstimo ao Porto B;
  • Naydjel Callebe, de 19 anos, migrou para o futsal;
  • João Vitor Gasparin Torrezan, de 19 anos, está no Trieste, clube amador de Curitiba, onde aguarda uma nova oportunidade no futebol profissional;
  • Gabriel de Castro Ribeiro, de 20 anos, que na época do incêndio estava em período de testes no clube, joga futebol amador em Franca.

Felipe Cardoso, meia do Santa Cruz e sobrevivente da tragédia do Ninho do Urubu — Foto: Reprodução/Globo

Processos em curso

O principal processo relacionado às 10 mortes na tragédia do Ninho do Urubu no momento corre na 36ª Vara Criminal. Depois de cinco anos, ainda não há qualquer pessoa punida. São nove réus na ação por incêndio culposo, que corre desde 2021, incluindo o ex-presidente do Flamengo Eduardo Bandeira de Mello, que esteve à frente do clube de janeiro de 2013 a dezembro de 2018.

Além de Bandeira, também são réus: Antonio Marcio, Mongelli Garotti, Claudia Pereira Rodrigues, Danilo da Silva Duarte, Fabio Hilario da Silva, Weslley Gimenes, Edson Colman da Silva e Marcelo Maia de Sá. Nenhum deles trabalha no clube atualmente.

o local do incêndio no Ninho do Urubu — Foto: GloboEsporte.com

Ainda não há data marcada para a próxima audiência, que será usada para ouvir testemunhas. Esse mesmo processo foi desmembrado depois de três acusados serem retirados da ação: Marcus Vinicius Medeiros foi absolvido, e Luiz Felipe Almeida Pondé e Carlos Noval tiveram suas denúncias rejeitadas. O Ministério Público aguarda novas manifestações sobre o caso.

Há um processo que corre na 3ª Câmara Criminal em segredo de Justiça. Outra ação é da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que tenta pensão vitalícia para as famílias dos 10 jovens mortos no incêndio. Além dessas ações, há o caso da família de Christian Esmério, única sem acordo para a indenização. Os pais aguardam as alegações finais e a sentença, mas ainda pode haver novos recursos no caso. A família recebe do clube uma pensão determinada pela Justiça até que um acordo seja feito.

- É um sentimento de vazio. Uma dor que, por mais que a gente tente continuar a vida, não cicatriza. Venho tentando fazer da melhor forma, para que ele lá de cima olhe e sinta orgulho, seguindo o legado que ele deixou de não desistir, de fazer o Plano A sempre dar certo, e estou aqui lutando para o nosso Plano A dar certo - disse a mãe de Christian, Andreia Candido, de 41 anos, ao ge.

- A vida de um filho não tem preço. A gente ainda é julgado por alguns fanáticos que enxergam como se fosse por dinheiro. Se fosse, já teria pego. A questão é a forma como fui tratado, como a família foi tratada. Tentaram de todas as formas enfraquecer as famílias. E ainda fazem as pessoas de fora enxergarem a gente como mercenários - comentou o pai, Cristiano, de 45 anos, que trabalha com projetos sociais de futebol.

Andreia e Cristiano, pais de Christian Esmério — Foto: Thales Soares

No dia 5, foi lançado o livro "Longe do Ninho", de Daniela Arbex. Em todo dia 8 de fevereiro desde a morte dos meninos, o Flamengo organiza uma missa no Ninho do Urubu. Alguns pais costumam comparecer. No museu do clube, havia uma homenagem, mas depois da reforma ela foi retirada.

Leia a nota do Flamengo

"Amanhã (quinta) fará cinco anos da maior tragédia da história do Flamengo. Perdemos dez jovens atletas e não podemos - nem queremos - esquecer disso. Temos que rememorar nossos jovens eternamente, a cada dez minutos de cada jogo e sempre.

Será um dia muito difícil para as famílias daqueles dez jovens atletas e isso consterna a todos nós e nossa grande torcida. É dia de lamentar e de pedir a Deus por eles. Dia de nos solidarizarmos com as famílias e dar condolências.

O clube recebeu várias consultas de muitos veículos de comunicação. Sinteticamente, o clube tem a dizer o seguinte:

Desde o trágico dia, o clube prestou toda assistência às famílias, tanto psicológica, como financeira.

Após algum tempo e independentemente de processo judicial, o clube firmou acordo com nove das dez famílias que tiveram vítimas fatais e com todos os sobreviventes. Essas famílias consideraram justos os valores da indenização e os aceitaram.

A única família que não aceitou o acordo recebe, mensalmente, uma pensão do clube, independentemente de processo judicial, e o Flamengo continua aberto para alcançar uma composição com eles, a quem muito preza.

O Flamengo tem o maior respeito e carinho pelas famílias, de modo que externamos aqui, mais uma vez, nossos mais sinceros sentimentos a todos.

SRN"

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