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Por Bruno Cassucci e José Edgar de Matos — São Paulo


Rodrigo Garro faz balanço de ano pelo Corinthians, fala em Seleção e desafios no Brasil

Rodrigo Garro faz balanço de ano pelo Corinthians, fala em Seleção e desafios no Brasil

Depois de um ano tão desgastante, física e emocionalmente, Rodrigo Garro estava relaxado numa manhã ensolarada de sexta-feira, no CT do Corinthians, que antecedeu a última rodada do Campeonato Brasileiro. Trajando bermuda e chinelo, o argentino recebeu a reportagem do ge para uma entrevista exclusiva, algo que evitou ao longo da turbulenta temporada da equipe.

Fora dos microfones, o camisa 10 corintiano contou detalhes da adaptação a São Paulo e das belezas do estado que ele já teve a oportunidade de conhecer, como as praias de Ilhabela e as montanhas de Campos do Jordão.

Foram 20 minutos com Garro. Embora curto, o tempo foi suficiente para o meia contar bastidores da temporada, falar sobre os sonhos de jogar pela seleção argentina e no futebol europeu e também revelar visitas às escondidas ao Parque São Jorge, sede social do Corinthians.

Jogador que mais vezes defendeu a equipe em 2024, Garro explicou os cuidados que tem com o físico, comentou a identificação criada com o clube e garantiu: apesar de toda a crise enfrentada, ele nem sequer cogitou deixar o Timão ao receber propostas de outros times (uma delas, do River Plate).

Confira abaixo a entrevista na íntegra e assista aos principais trechos no vídeo acima.

Rodrigo Garro recebeu a reportagem do ge no CT do Corinthians para entrevista exclusiva — Foto: Bruno Cassucci

ge: Recentemente, o técnico Ramón Díaz deu uma entrevista na qual disse que uma das metas que ele tem para 2025 é levar jogadores como você, Memphis e Yuri Alberto para as respectivas seleções. Isso também é algo que te move, é um objetivo para a próxima temporada?
– Sim. Na verdade, esse é o sonho que todo jogador tem, de representar sua seleção, seu país. Quando as coisas vão acontecendo positivamente, vão acontecendo dentro e fora de campo, a gente se sente importante em um clube, você começa a sonhar e a pensar que pode conseguir. Mas sempre que falo disso tenho que ter um respeito grande, porque a seleção argentina hoje não é pouca coisa. Os jogadores que estão são incríveis e tenho que ter respeito por eles também. Da minha parte preciso seguir trabalhando com humildade e compromisso para que, se em algum momento isso acontecer, eu esteja preparado e possa desfrutar.

Estar no futebol brasileiro é algo que pode te ajudar ou te atrapalhar nesse sonho de ir para a seleção?
– Quem conhece o futebol brasileiro sabe o nível de competitividade, são oito ou nove times grandes. Para poder representar o seu país e estar em um nível de competitividade alto, ainda mais uma seleção como a Argentina, que todos os seus jogadores são da Europa. Não sei se estar aqui é positivo ou negativo, não saberia a resposta, mas sei que no lugar que estiver vou tentar fazer o meu melhor, jogar o futebol, que é o que eu gosto, e se puder cumprir esse sonho vai ser muito bem-vindo.

Foi uma temporada em que aconteceu muita coisa para você e para o Corinthians. Qual o balanço que faz e o que mais gostou de viver no clube neste primeiro ano?
– Muitas coisas. Quando eu saí da Argentina, tinha medo de não encontrar a paixão pela qual o argentino fica louco, que é o futebol. Creio que cheguei ao clube certo, porque a paixão pelo clube aqui, pelo Corinthians, pelo jogador, ou pelo menos para comigo é muito grande... O carinho das pessoas nas ruas, no estádio, são coisas que nos enchem de orgulho. Isso foi algo que eu gostei muito. O futebol brasileiro (também), a forma como as equipes jogam, todos tentam jogar, todos tentam ter um bom controle, um bom passe, é algo lindo de ver. Quando cheguei aqui, fizemos amistoso contra um time da Série C (Londrina), eu não conhecia e pensava que esse time era um time de primeira, pela forma como jogava, como os jogadores paravam a bola. E aí me dei conta que estava em um lugar onde eu ia melhorar muito, também meu nível de exigência teria que ser alto, porque os jogos são a cada dois ou três dias, não tem tempo de recuperação. Então, eu acho que vir aqui foi uma bela decisão.

E o que foi mais difícil?
– Puff... Tudo. Nós só estivemos 22, 23 rodadas na zona de rebaixamento. Na verdade, quando eu olhava a tabela e olhava que o Corinthians estava ali, que nós estávamos ali, eu não podia parar de pensar. Era algo que estava todo o tempo na minha cabeça e até me custava comer. Se eu estava comendo e me lembrava disso, era algo que não, não, não... Eu não aceitava. Primeiro, por como vive o clube, por como vive a torcida. A torcida não merecia esse sofrimento, por como se entrega ao clube.

– Fora do que é o jogador, fora do que é o futebol, eu muitas vezes quando estou sozinho, que volto para casa, passo pelo Parque São Jorge e eu entro com o meu carro e vejo como as pessoas vivem o dia-a-dia de Corinthians e acho que é algo incrível. É algo que eu gosto muito de ver. Ninguém sabe que eu estou ali, mas eu vou e vejo. Quando minha família veio (da Argentina), eu a levei para que vissem o quão lindo é. E cada vez que eu ia lá, depois saía e via que estávamos em zona de rebaixamento, eu não podia acreditar. Porque não merecia, o clube não merecia o que aconteceu.

– Desconheço como foram os anos anteriores, mas sei que quando cheguei o clube era um clube rebaixado, porque tudo o que estava acontecendo era mal. Tudo, tudo, tudo.

Rodrigo Garro, meia do Corinthians, em entrevista ao ge — Foto: Bruno Cassucci

– Houve muitas coisas que eu vivia aqui dentro, desde não poder jogar, passei seis rodadas (do Paulistão) sem poder jogar, minha mulher estava grávida em um hotel por três semanas, grávida de oito meses. Eu não tinha carro, não tinha dinheiro, não sabia como era a adaptação, se era normal ou não... Foi tudo muito difícil. Quando mais difíceis são as coisas, mais se desfruta depois. Hoje posso dizer que terminei o ano desfrutando de jogar no Corinthians.

As dificuldades não foram só do time que lutou contra o rebaixamento. Saíram ídolos como Cássio e Paulinho, a questão de um patrocinador que virou caso de Polícia, diretores saindo. Todo este cenário te deixou em dúvida sobre a escolha de vir para cá? Ficou balançado com as propostas que teve para sair?
– Sim, é verdade que eu tive muitas propostas. Muitas não. Eu tive duas propostas para sair na metade do ano. Isso é verdade. Também é verdade que o clube estava muito mal. Isso é uma realidade. O clube passava por um momento, para mim e pelo que escutava, era o pior momento em muitos anos. Eu sabia que era parte da reconstrução de um clube que estava muito mal e que teria que mudar muitas coisas para poder estar melhor, e eu era parte desta mudança.

– Sabia como estava o Corinthians quando tomei a minha decisão. Tinha que justificar minha decisão, eu escolhi o Corinthians e não foi fácil. Em algum momento, não podíamos ir para um restaurante porque a torcida estava enojada. E a torcida tinha razão. A torcida estava enojada com razão, porque o time jogava mal, porque o time perdia, porque estávamos na zona de rebaixamento, e porque o clube, fora do que é o futebol, também não dava resposta.

– Acho que depois de todo esse tempo que passou, o clube... sempre teve uma ideia de como reconstruir-se. A gente que o manejou, Fabinho, o presidente, eu acho que o trabalho que se fez e a chegada de Emiliano e de Ramon foi muito importante para que eu também me convença de tudo o que depois se logrou. Sem eles, os reforços que chegaram, foram muito importantes por todo esse conjunto e de que todos nos abraçamos sabendo de que tínhamos um objetivo e que tínhamos que cumprir. Era uma obrigação.

Destaque do Corinthians em 2024, Rodrigo Garro concede entrevista ao ge — Foto: Reprodução

Mesmo essa adversidade não te colocou em dúvida sobre a escolha?
– Não, não. A verdade é que sempre estive muito seguro que este clube me deixa perto do meu sonho de jogar pela seleção, do meu sonho de atuar na Europa. É um clube que tem muita repercussão, que dá valor a quem joga bem, e dá muito valor a quem joga mal (risos). Tem muitas coisas boas. Estou muito feliz de poder terminar o ano desta maneira, de terminar o ano desfrutando de ser Corinthians.

Em um dos momentos mais difíceis da temporada, você foi quem fez um afago no torcedor ao dizer que “tudo vai ficar bem”. Essa publicação, agora que as coisas estão melhores, foi relembrada. Você realmente acreditava que tudo iria ficar bem ou procurava apenas apoiar o torcedor?
– Sempre trato, na minha vida, de ver as coisas boas. De que sempre quando algo mal ocorra, tem algo bom acontecendo ou um porquê. Naquele momento, sentia que nem tudo era tão mal. O que via fora era mal, mas não acreditava que nós jogadores não poderíamos tirar o Corinthians daquela situação. Estávamos preparados. Necessitávamos de ajuda, de reforços, é verdade, mas no momento da publicação eu me sentia confiante, diferente das pessoas de que tudo era mal. Queria mandar mensagem aos meus companheiros, ao torcedor machucado, aos dirigentes que estavam mal, e graças a Deus posso dizer que deu tudo certo.

Garro faz a comemoração que virou febre entre os torcedores — Foto: Marcos Ribolli

Garro, você citou sobre seus passeios no Parque São Jorge. Chegou a visitar o museu do clube, levou a família? Viveu essa experiência até para entender mais o que o Corinthians?
– Não pude ir sem a minha família (no museu). Não pude descer porque havia muita gente e era impossível, porque as pessoas pedem fotos e não deixam que se possa disfrutar disso. Mas é algo que eu vou fazer, simplesmente gosto muito.

Você falou de sonhos, da seleção, sobre jogar futuramente na Europa. A Libertadores também é um sonho que você alimenta para o ano que vem?
– Sim, mas não quero me pressionar, quero também dar valor e importância ao que fizemos neste ano. Seguramente, no ano que vem, temos este objetivo e muitos mais, como todo mundo que chega ao Corinthians, quero levantar um título e, bom, seria algo maravilhoso para mim. Mas não quero me pressionar, quero fechar o ano da melhor forma, terminar de desfrutar deste clube e depois já veremos o ano que vem.

Estamos fazendo um balanço do ano e teve um fato marcante para você: a paternidade. O que isso representou na sua vida? Como tem sido?
– É o melhor que aconteceu na minha vida. Não tenho muito mais para dizer com respeito a isso. É uma sensação única. Antes que meu filho nascesse, tenho minha sobrinha, amo minha sobrinha. Eu dizia: como poderia amar alguém mais, porque minha sobrinha era o melhor que havia me acontecido. Depois, quando nasceu Felipe, me dei conta que sim, que tinha lugar para amar alguém muito mais.

– É um motivo lindo para chegar em casa. Minha mulher e meu filho são pessoas muito importantes para mim. Ainda não pude entrar em campo com ele, já que tem só sete meses, ainda não pude cumprir esse sonho de tirar uma foto com ele em campo. Me mudou muito, me sensibilizou muito mais.

Você se surpreendeu com a quantidade de jogos no Brasil. Você não sofreu com lesões. Você faz um trabalho especial? Como suportou?
– Quero primeiro nomear meu professor Justo, porque ele foi, tanto quando eu cheguei aqui, como também na Argentina, com o qual eu trabalho todas as semanas. Faço um treinamento particular, um treinamento personalizado com ele. Sem ele eu não teria podido jogar a quantidade de minutos que joguei. Acho que os prêmios se levam a ele. Também, agora, nesses últimos três meses, eu trouxe um grande amigo meu, que é cozinheiro, chef, e está trabalhando para mim. Depois é alimentação, dormir, família e descansar. É isso.

E tem a comemoração com Romero também, que vocês fazem a “fusão” do anime Dragon Ball...
– A comemoração com o Romero nasceu dele com o irmão dele. Um dia falamos de fazer, fizemos gols os dois e ficou. Não tem muito mais o que explicar (risos). Vi Dragon Ball, gostava, a celebração era dele e do irmão, e eu me meti na comemoração.

+ Assista: tudo sobre o Corinthians na Globo, sportv e ge

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