Uma conquista que abre caminhos para uma geração que aprendeu a mostrar na bola e no gogó o peso de vestir a camisa da seleção brasileira.
Campeão do Sul-Americano Sub-17 com uma geração inteira formada por jovens que nunca viram o país campeão do mundo, o Brasil deu sequência no Equador a um projeto que vai além da captação e lapidação de talentos em campo. Com o "Brasilidade", a CBF trabalha para reforçar na mentalidade da garotada o tamanho da realização ao vestir a camisa amarela.
Do hino à capela na França ao título no Equador, Seleção Sub-17 exalta "brasilidade"
As ações extracampo são das mais diversas, desde o intercâmbio de gerações com palestras de ex-jogadores históricos, até estímulos de características extremamente brasileiras como a já tradicional irreverência com dancinhas e brincadeiras nos vestiários e concentrações. A resposta para o projeto nesta Geração 2006/07, por sua vez, foi imediata e na ponta da língua.
Por conta dos impactos da pandemia no calendário, este grupo não teve oportunidade de realizar partidas no Sub-15 e na primeira oportunidade perfilados com a camisa da Seleção os garotos foram surpreendidos com a falha no sistema de som no Torneio de Montaigu, na França, na estreia contra o México. Diante do silêncio após a execução do hino mexicano, os jogadores não tiveram dúvidas e engataram o hino nacional brasileiro à capela, arrancando aplausos de pé no estádio (confira o vídeo acima).
"Foi espetacular. Um dos nossos desafios na base é demonstrar a importância do futebol para o nosso país, é patrimônio cultural. Ter responsabilidade não pode ter tirar o prazer de viver as coisas"
- A brasilidade não está na dinâmica, mas na atmosfera, na forma de se relacionar. E dar liberdade para que cada um seja cada um, mas respeitando o outro - explicou o treinador Phelipe Leal.
O momento ficou marcado para os membros da delegação e se tornou ainda mais emblemático com a conquista sobre a Argentina em final catimbada e com brigas na vitória comandada por Endrick. Brasilidade à flor da pele.
A resposta imediata fortaleceu o projeto que repetidamente leva os jovens para uma viagem no tempo, principalmente com jogadores que fizeram parte das últimas conquistas do Brasil. Se o tetracampeão Branco é um elo natural entre passado e futuro, ex-jogadores campeões com a camisa da Seleção fizeram visitas em convocações ao longo do último ano.
Alex, bicampeão da Copa América, em uma delas como capitão, conversou com os jogadores durante passagem por Cotia na época em que era treinador do Sub-20 do São Paulo. O mesmo aconteceu com Gilberto, ex-lateral-esquerdo e coordenador do Sub-20 do Flamengo, que tem duas Copas do Mundo no currículo, além de uma palestra do ex-zagueiro Ronaldão, campeão da Copa de 94.
- São campeões do mundo que eles não viram. Se colocamos ali dentro sem falar quem são, eles não sabem. Então, é importante para gente trazer essa história para eles, falar da importância da Seleção para o nosso povo. Para ter vida longa na Seleção não é só o talento. É preciso ter conexão com as raízes - disse Leal.
Tripé indica responsabilidades
O "Brasilidade" conta com um tripé com mensagens sobre o sonho de defender a Seleção, o orgulho de alcançar o objetivo, mas também deixa clara a pressão pela história do futebol brasileiro. Neste processo, a conexão com o futebol de rua, o impacto do esporte na sociedade, as recompensas através de peças publicitárias relacionadas à CBF e os sacrifícios necessários criam a atmosfera que estimula o senso de responsabilidade.
Brasil vence a Argentina e é campeão do Sul-Americano sub-17
- A construção desse trabalho é interessante por não ser somente de intervenção direta. É importante criar o ambiente indireto, mostrar que o futebol é um estilo de vida no nosso país, onde mostramos nossas características, virtudes, estilo, através do esporte.
Phelipe Leal trata de levar essa realidade também para os trabalhos do dia a dia deixando a clara a representatividade dos atos de quem veste a camisa da Seleção para jovens de todas as idades. Mesmo diante de garotos que ainda não vivem os holofotes do mundo profissional, a presença constante de torcedores na Granja Comary durante a fase de preparação evidenciava que o escudo estava acima dos nomes.
"O que é ser brasileiro? É ser autêntico, divertido, descontraído e fazer a coisa com leveza. Esse é o nosso lema. E pergunto a eles: quando entramos em campo, que tipo de brasileiro você quer ser, o do jeitinho ou o que vence todas as dificuldades?"
Coordenador das seleções de base, Branco comemorou o título do Sub-17 em postagem nas redes sociais. Acima de tudo, no entanto, celebrou a convicção de um trabalho que entregou resultados que recolocam o Brasil no papel de protagonista absoluto do futebol sul-americano.
"É um conjunto de fatores externos que, aliado a uma mentalidade vencedora muito forte, nos recoloca no lugar de protagonistas. Essa foi a missão que recebi há pouco mais de quatro anos, quando reassumi a coordenação"
- Aumentamos nosso leque de observação de jogadores e o número de convocações e períodos de preparação, convocamos profissionais de clubes de todas as regiões do Brasil, escolhemos treinadores com o perfil adequado para cada categoria e o mais importante: desenvolvemos atletas para renovar nossa Seleção Principal.
Com a "Brasilidade" em dia e troféus na bagagem, a seleção brasileira tem desafios ainda maiores em 2023. Dominante no cenário continental, buscará o mundo em três Copas no ano: a Sub-20, entre maio e junho na Argentina; a Feminina, entre julho e agosto na Austrália e na Nova Zelândia; e a Sub-17, em novembro ainda sem sede definida.
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